Reinaldo Garcia

O Brasil tem sido fre­quentemente conde­nado por seus “gar­galos” em infraestrutura. Estive fora do País por trinta anos, mas acompanhei o avanço sociopolítico da nação e o ganho de prestígio internacional. Retornei em 2011 e, obviamente, me deparei com outro Brasil, onde o crescimento econômi­co gerou os desafios atuais, que pre­cisam ser superados para permitir nova evolução da indústria e da so­ciedade brasileira.

De acordo com o último Censo De­mográfico do IBGE, o Brasil é o quin­to país mais populoso do mundo, atrás de China, índia, EUA e Indoné­sia. O salto populacional desde 1970, de 90 para 190 milhões de brasileiros em 2012, ampliou o poder da indús­tria e permitiu a evolução da classe média, hoje fundamental para a sus­tentação da economia. Para 2050, de­vemos ser mais de 250 milhões brasi­leiros, segundo projeção do Censo.

Esse indicador populacional é um alerta. Mais pessoas representam mais alimentos, mais energia, mais transporte, mais serviços de saúde e mais infraestrutura. Para garantir o aumento sustentável da produção in­dustrial, o desenvolvimento dos merca­dos e o suprimento da crescente deman­da em diferentes setores, é preciso mais do que planejamento e investimento en­volvendo o poder público e atores da iniciativa privada.

Usando a experiência brasileira co­mo exemplo de aprendizado, na década de 1950, ocorreu uma grande mudança na geografia do País, com o investimen­to no modelo rodoviário, que possibili­tou conectar diferentes Estados com o intuito de ampliar o comércio intra-estado e internacional. Um movimento beméfico, mas que não poderia ter acon­tecido de maneira isolada.

Ainda apoiado na história do que ocorreu com o Brasil de 1950, sabe-se que os investimentos para viabilizar a expansão das estradas foram de respon­sabilidade do governo. O Projeto de Lei Orçamentária divulgado pelo ministé­rio da Fazenda em agosto de 2012 prevê investimentos de R$ 186,9 bilhões para 2013, um aumento de 9% sobre o ano anterior. Uma projeção do BNDES, di­vulgada em 2012, aponta que o País rece­berá US$ 850 bilhões de investimentos da iniciativa privada, até 2014, para apli­cação na indústria, pesquisa e inovação. Cultivar esta parceria é outro aprendiza­do importante que tem sido ampliado, com benefícios pára ambos os lados.

Quais são os próximos passos? Em novembro passado, durante o +Brasil, evento realizado em São Paulo, gover­no, iniciativa privada e academia discutiram o trabalho para alavancar o cresci­mento sustentável que possibilite a ex­pansão dos principais indicadores eco­nômicos e sociais do País, sanando os entraves que impedem o avanço cons­tante e ordenado. A principal conclusão é que o planejamento precisa ser realiza­do mutuamente, tanto pelo governo co­mo pela iniciativa privada.

No cenário mundial, uma rápida imersão no êxito da Coreia do Sul mos­tra como a infraestrutura pode susten­tar o desenvolvimento. O avanço econô­mico, que fez o PIB per capita saltar de US$ 100 em 1963 para mais de US$ 31 mil por habitante em 2011, segundo o Fundo Monetário Internacional, possi­bilitou criar uma rede de transportes avançada e de alta tecnologia que cruza todo o território nacional. Investimen­tos em educação resultaram na presen­ça de aproximadamente 89% das pes­soas no terceiro grau. E com isso, permi­tiram o reabastecimento de talentos no mercado de trabalho.

Ao lado de programas do governo pa­ra enaltecer a pesquisa, os aportes em educação foram o principal combustí­vel para permitir que as gigantes da in­dústria coreana ultrapassassem concor­rentes japonesas na liderança da tecno­logia da informação. E apesar de ser uma nação com ampla capacidade de geração energética instalada, anunciou um plano para investir US$ 36 bilhões entre 2011 e 2015 para o desen­volvimento de fontes renováveis de energia, para crescer com exporta­ções de energia limpa.

Os desafios do Brasil decorrentes de carências em infraestrutura e ou­tros setores não apenas persistem co­mo representam entraves para um país com grandes ambições. As primeiras projeções oficiais para 2013, di­vulgadas pelo Banco Central em 18 de dezembro, apontam melhora na eco­nomia, mas continuidade das exporta­ções em ritmo reduzido. Esse termô­metro reforça a importância de se pla­nejar um Brasil com o governo e inicia­tiva privada caminhando juntos, in­vestindo continuamente e localmen­te em soluções inovadoras para os de­safios, para aumentar o potencial do mercado interno como sustentação da economia e possibilitar uma me­lhora significativa das exportações. Pensar na evolução do Brasil com o crescimento de toda a sociedade brasi­leira, a exemplo do avanço na Coreia do Sul, pode ser determinante para que 2013 seja o começo de um capítu­lo ainda mais promissor para o País.

FONTE: O Estado de S. Paulo – 07/01/2013

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Bosco
Bosco
11 anos atrás

Engraçado como todo mundo tem em mente que em 70 havia no Brasil 90 milhões de habitantes.
Muito provavelmente devido à copa de 70 e a velha marchinha:

Noventa milhões em ação
Pra frente Brasil
Do meu coração

Todos juntos vamos
Pra frente Brasil
Salve a Seleção

De repente é aquela corrente pra frente
Parece que todo o Brasil deu a mão
Todos ligados na mesma emoção
Tudo é um só coração!

Todos juntos vamos
Pra frente Brasil, Brasil
Salve a Seleção

Rodrigo Lamonato
Rodrigo Lamonato
11 anos atrás

Curioso como há equívocos monstruosos numa análise que seria simples: não há ordem no Congresso. E pressupor que deveria haver ordem por lá é o primeiro indício de que talvez não fale o interlocutor exatamente de democracia.

Só houve ordem no Congresso quando havia a possibilidade de degola (até literal), de alguns de seus membros ao postarem-se como vozes dissonantes do coro.

Assim sendo, por menos afeitos que sejam alguns, o fato é que Democracia pressupõe discordância, desordem, e conflitos. É da natureza humana.

O sistema é falho? É. Mas como diria um autor que eu não me recordo agora o nome, brilhantemente: a maior virtude do Congresso é estar aberto. Finito.

Paulo
Paulo
11 anos atrás

Meu deus, as pessoas se iludem mesmo…

Rodrigo Lamonato
Rodrigo Lamonato
Responder para  Paulo
11 anos atrás

Isto não é uma ilusão, é uma crença na democracia. O Congresso reflete a mim, reflete a você.

Eu sei muito bem que estou semeando no deserto, afinal estou num blog voltado ao tema “forças militares”, e dentre os 3, parece este ser escolhido pelos seus responsáveis para desovar toda a sorte de marimbondos reacionários.

Mas enfim, democracia, muito prazer para quem não conhece, é isso – civilizadamente concordar em discordar.

Do contrário o blog não teria a parte de comentários aberta.

Luizinho
Luizinho
11 anos atrás

Sendo realistas, não tenho muitas esperanças no Brasil. Enquanto não tiver uma revolução aqui, o Brasil nunca irá mudar, teremos que conviver com falsas estatísticas sociais, e mentiras dos governantes, esses vermes, que invadem o meu brasil.
O Brasil é o pior pais da face da terra, simplesmente por ter potencial de ser o melhor e não fazer nada para chegar até lá.

justin oliveira
justin oliveira
11 anos atrás

Mas como vamos ter ‘revolução ‘ aqui se o povo está MORTO , Luizinho ?E NÃO conte c/ os militares , estes Não lutam NEM por seus interesses próprios ( salários ).

Vader
11 anos atrás

O povo não está morto, está feliz em ser ignorante. E vai se manter assim enquanto tiver frango na mesa, cachaça barata, mulherada rebolante e futebol na TV.

Povo é “pão e circo”. Os romanos descobriram isso há mais de dois mil anos e nunca isso ao longo de toda a história isso foi desmentido. Governos populistas e salafrários, pobres de ideais e plenos de safadeza, apenas usam a lição aprendida.

Cabe às verdadeiros lideranças, se é que sobrou alguma, às boas instituições, e às elites pensantes do país, tirá-lo de sua aconchegante caverna e lhe mostrar a luz, como diria Platão.

E me desculpe o colega advogado acima, mas esse Congresso não me representa. Aliás, com meu voto de paulista valendo um centésimo do voto de um roraimense (exemplo), não tem nem como me representar.

Saudações.