CHARLES, SHAPIRO, LOS ANGELES TIMES, É PRESIDENTE DO INSTITUTE , OF THE AMERICAS – O Estado de S.Paulo

Quando o presidente Hugo Chávez anunciou que seu câncer havia retornado e ele voltaria a Cuba para uma nova cirurgia, havia dois homens ao seu lado. À esquerda o vice-presidente Nicolás Maduro e à sua direita Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional. A presença de ambos foi significativa.

Chávez enviou uma mensagem clara a seus partidários. Se sua saúde o impedir de concluir seu mandato, ou assumir o cargo no dia 10 – algo que, segundo o ministro da Comunicação, é uma possibilidade -, ele confia nestes dois homens para continuar sua Revolução Bolivariana.

A Constituição venezuelana estabelece que num prazo de 30 dias uma nova eleição presidencial deve ser convocada caso o vencedor não possa assumir o cargo ou se o presidente deixar o posto durante os primeiros quatro anos do seu mandato de seis anos. Chávez instruiu seus fiéis eleitores a votar em Maduro como seu sucessor. Depois ele se reuniu com seu gabinete de governo e o alto comando do Exército para pregar a unidade e se certificar de que o Exército se mantenha fiel a ele – e a Maduro.

Os Estados Unidos observarão de perto o desenrolar dos fatos nos próximos meses na Venezuela. As relações entre os dois países foram de difíceis a hostis desde que Hugo Chávez assumiu o governo em 1999 e começou a implementar o que chama de “socialismo do século 21”. Fui embaixador na Venezuela de 2002 a 2004, quando essas relações foram de mal a pior. Chávez acusou os EUA de estar por trás de um golpe fracassado contra ele em 2002 (o que não é verdade), nacionalizou empresas americanas e responsabilizou “o império” por todos os problemas enfrentados por seu país. Em 2008, expulsou o embaixador dos EUA durante quase um ano e desde 2010 nenhum dos dois países permitiu que o outro instalasse uma embaixada em suas capitais.

Chávez polarizou a política venezuelana e assumiu controle total de todos os cinco poderes do governo – sim, a Constituição venezuelana de 1999 estabelece cinco poderes. No campo das relações exteriores, o governo apoia vigorosamente o regime de Bashar Assad na Síria, condena as sanções contra o Irã e no geral se opõe sempre aos EUA.

Durante toda a presidência de Chávez, os EUA continuaram a ser o mais importante parceiro comercial da Venezuela. Embora as importações americanas de petróleo venezuelano tenham sofrido queda recorde, a Venezuela é o quarto maior fornecedor de petróleo para os EUA e quase metade das exportações de petróleo venezuelano vai para território americano.

Apesar da abundancia de petróleo, a Venezuela está fortemente endividada. Os gastos do governo aumentaram 40% em 2012. A expectativa é que o próximo presidente desvalorize o bolívar para conter a inflação, hoje em torno de 18%.

Quais são as chances de um dos candidatos potenciais conseguir manter vivo o chavismo sem Chávez? Em outubro de 2003, saindo de um almoço deparei com um grupo de jornalistas que gritavam, “é ele o chefe da CIA na Venezuela?”. Ao que parece, Maduro, então deputado na Assembleia Nacional, e mais dois colegas, exibiram durante uma entrevista um vídeo mostrando “o chefe das operações latino-americanas da CIA” saindo de um avião em uma das capitais do país. O vídeo mostrava um americano saindo de um avião particular, mas se tratava do diretor de recursos humanos de uma empresa dos EUA que pretendia investir no país. Essas acusações absurdas dizem muito sobre Maduro, que se qualifica como o “filho” político de Chávez. Ele é visceralmente antiamericano, contra o equilíbrio de poderes da democracia liberal, e não acredita no livre mercado. O fator desconhecido é se Chávez conseguirá transferir sua popularidade para ele. Ninguém jamais disse que Maduro é uma figura carismática. Quanto a Cabello, ele tem duas bases de apoio: Chávez e o Exército. Como tenente, ele participou do fracassado golpe liderado por Chávez em 1992.

Escolha o cenário que preferir. Minha aposta é que uma Venezuela hoje carente de instituições e profundamente polarizada será um país instável e turbulento num futuro previsível. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

FONTE: O Estado de S. Paulo

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Vader
12 anos atrás

Futuro da Venezuela: 0 (zero). Nenhum.

Um país que só não faliu ainda porque tem petrodólares. Senão seria apenas um “Cubão” ao norte do Brasil.

Daglian
Daglian
12 anos atrás

“Durante toda a presidência de Chávez, os EUA continuaram a ser o mais importante parceiro comercial da Venezuela. Embora as importações americanas de petróleo venezuelano tenham sofrido queda recorde, a Venezuela é o quarto maior fornecedor de petróleo para os EUA e quase metade das exportações de petróleo venezuelano vai para território americano.”

É interessante analisar este trecho do texto. Ora, mas os americanos não embargam a economia dos países contrários a eles (como “fizeram em Cuba”)? Então como a Venezuela ainda exporta para os EUA?

Não há dúvidas de que a economia da Venezuela, atualmente, tem como praticamente único pilar o petróleo. Sem este, estaria pior do que já está atualmente. Muito pior. Ainda assim, metade do seu petróleo vai para os EUA. Curioso como o Imperialista do Norte é mau, mas na hora de comprar o petróleo venezuelano, então ele passa a ser um país digno.

Finalmente, destaco o óbvio discurso populista de Chávez. Percebam como o texto cita que:

“Chávez acusou os EUA de estar por trás de um golpe fracassado contra ele em 2002 (o que não é verdade), nacionalizou empresas americanas e responsabilizou “o império” por todos os problemas enfrentados por seu país. Em 2008, expulsou o embaixador dos EUA durante quase um ano e desde 2010 nenhum dos dois países permitiu que o outro instalasse uma embaixada em suas capitais.”

O dita… digo, presidente venezuelano, em vez de combater os problemas de seu país, muitos destes ocasionados por própria incompetência/má fé deste seu gestor, prefere atacar os EUA, que não podem ser responsabilizados por tudo o que ocorre na Venezuela. Aliás, é engraçado que os EUA tenham mais culpa do que acontece naquele país que o seu PRÓPRIO PRESIDENTE!!