O Brasil no labirinto chinês
José Casado
Foi um evento raro: nunca antes na História a burocracia do Partido Comunista Chinês havia sido exposta como foi nesta semana. Redes de televisão investiram em horas de transmissões diretas de Pequim para apresentar os discursos de Hu Jintao, futuro ex-presidente, e de Xi Jinping, seu sucessor, e para detalhar o perfil dos sete chefes do Comitê Permanente do PCC, epicentro do poder político, econômico e militar do país. Foi um espetáculo sem surpresas, planejado para expressar a naturalidade com que a China percebe seu retorno à posição de liderança, perdida há século e meio.
A 18 mil quilômetros de distância, o eco da transição no PCC pode ter confortado governantes sul-americanos, beneficiários políticos do crescimento chinês que há nove anos sustenta nas alturas os preços das matérias-primas e fomenta uma expansão econômica em escala inédita no continente desde a II Guerra Mundial.
O discurso do herdeiro Xi (“Seguiremos com o processo de abertura”, garantiu) soou como música em lugares como o Palácio do Planalto, em Brasília, ao sinalizar medidas anticrise para conservar a China na liderança do crescimento mundial. Pela calculadora de Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial, o país já compra quase metade da produção global de ferro, cobre, alumínio, níquel, cimento, aço e ovos.
Há indícios de que a América do Sul está se despedindo desse ciclo de fartura, sustentado pelo avanço do consumo chinês de matérias-primas na última década. O experiente Julio María Sanguinetti, historiador e ex-presidente do Uruguai (em dois períodos, 1985-1990 e 1995-200), tem chamado a atenção para o desvanecimento “destes anos gloriosos de bonança, cujo mel adoçou o consumo popular e engordou o gasto fiscal; sem traumas, por enquanto, mas com a sensação algo frustrante de que a festa vai chegando ao fim e não restará muito para o dia seguinte”.
No caso do Brasil, grande beneficiário dessa bonança, é notável a rarefeita inquietude com o futuro das relações com a China. O relacionamento Brasília-Pequim está refém de números suntuosos – desde julho, a China é o maior parceiro comercial, reflexo de um processo de crescimento que, desde 2000, multiplicou por oito os negócios de fornecedores brasileiros com seus compradores chineses. Mas assim como não formulou uma estratégia para entrada no mercado chinês, o Brasil se mantém sem nenhuma para prosseguir, ou aprofundar essa aliança ou, ainda, reduzir gradualmente a sinodependência.
Oito de cada dez dólares obtidos no comércio com a China provêm das exportações de soja (38,7%), ferro (32,6%) e petróleo (9,8%), segundo dados do governo brasileiro em relação ao período janeiro-agosto.
É o resultado de um comércio intensivo, mas restrito a vendas de produtos primários e com a contrapartida de importações brasileiras de bens chineses de baixa qualificação, em termos de conteúdo tecnológico. “A baixa intensidade de tecnologia avançada nas importações provenientes da China sugere escasso potencial para beneficiar-se de um ‘derrame tecnológico'”, notam pesquisadores como Tatiana Didier e Augusto de la Torre, que no ano passado devassaram para o Banco Mundo o conteúdo do comércio da China com países da América Latina (disponível em http://siteresources.worldbank.org/LACINSPANISHEXT/Resources/Annual_Meetings_Report_LCRCE_Spanish_Sep17F.pdf).
Há nuvens no horizonte chinês. Há, também, evidências do declínio do crescimento econômico do Brasil (recuo de 7,5% em 2010 para 1,6% neste ano, segundo o Banco Central).
São fatos que deveriam estimular o governo brasileiro a refletir sobre uma mudança de rumo nas relações com a China, para ultrapassar a fronteira do comércio de produtos primários e ampliar as possibilidades de mútuos benefícios tecnológicos.
O labirinto da sinodependência talvez seja, hoje, a principal ameaça àquilo que se costuma definir como “soberania nacional”.
FONTE: O Globo
O sombrio futuro planejado por uma série de governos que preferem dar esmolas (leia-se fome zero) a dar uma educação decente e oportunidades para que todos os brasileiros possam “pescar o seu peixe” e ter um futuro digno.
Parabéns, PT!
Aqueles 7,5% de crescimento em 2010 foram decorrentes essencialmente de fortes gastos públicos com a única intenção de eleger Dilma. O ano seguinte mostrou a realidade. Ou melhor: os anos seguintes mostraram a realidade, já que até agora a coisa toda vem se arrastando.
É interessante notar o item “petróleo” nas exportações, já que a realidade impões outra coisa: importações. A verdade: a Petrobras exporta petróleo para a China a US$10 o barril, enquanto isso importa a preço de mercado. Quem paga a conta é consumidor brasileiro.
Quanto às importações da China, nem tudo é porcaria. Já fabricam coisas melhores que nós. A indústria nacional foi para as cucuias, tudo por conta de um câmbio irreal. Mas as bugigangas existem. Alguns produtos que são vendidos no mercado nacional por R$80, vem da China com custo de US$1. Ganha o empresariado esperto e ganha o governo. Novamente quem paga a conta é o consumidor.
Se antes eramos reféns dos EUA, agora viramos reféns da China, com a diferença que pelo menos eles nos mandavam produtos de qualidade.
De resto a coisa vai mal.
Um VW Gol 1.6, completo, direção hidráulica, ar condicionado e air bag, fabricado no Brasil é vendido por aqui por R$ 38 mil. Esse mesmo carro, produzido aqui e exportado para o México, com custos de transporte marítimo, taxa de importação mexicana de 30%, mais impostos internos, lucro da VW local e da concessionária é vendido por lá por R$ 18 mil.
Tem muita coisa errada por aqui.
Explico porque a Petrobras exporta petróleo para a China por US$10: é que depois de oito anos sob os auspícios do Glorioso a Petrobras está é quebrada e sem dinheiro em caixa. Os chineses anteciparam caixa à companhia brasileira, em contra partida exportamos nesse valor maravilhoso (para eles).