Atentado põe em risco frágil paz no Líbano
Carro-bomba explode em bairro afluente de Beirute e mata oito, entre eles chefe da inteligência; Síria é suspeita
Marcelo Ninio
A explosão de um carro-bomba matou ontem num bairro de maioria cristã de Beirute um dos principais chefes da inteligência do Líbano e outras sete pessoas, reacendendo as tensões sectárias e os temores de um contágio da guerra civil na Síria.
Entre os mortos está Wissam al Hassan, 47, chefe de inteligência das forças de segurança internas, o que fortalece a hipótese de que tenha sido o alvo da explosão.
Foi o primeiro carro-bomba em quatro anos em Beirute e o mais grave atentado desde o assassinato do ex-premiê Rafiq Hariri, em 2005.
A explosão abriu uma cratera no chão e ergueu uma coluna de fumaça negra no badalado bairro de Ashrafieh, área no leste da capital conhecida pelo comércio sofisticado e pela vida noturna.
Testemunhas contaram que o impacto foi tão grande que destruiu vários carros e balançou os prédios das redondezas. Ao menos 80 pessoas ficaram feridas.
A explosão assustou os funcionários do Centro Cultural Brasil-Líbano, a quatro quarteirões de distância. “O estrondo foi impressionante, o prédio inteiro tremeu”, contou à Folha a professora Renata Vieira. Segundo a Embaixada do Brasil em Beirute, não há notícia de brasileiros entre as vítimas.
PLANO PARA ATENTADOS
As tensões sectárias no país, alimentadas pela guerra na vizinha Síria, aumentaram nas últimas semanas, depois que os serviços de segurança desbarataram um plano para atentados e assassinatos.
Chefiada por Al Hassan, a operação levou à prisão de Michel Samaha, proeminente político libanês, ex-ministro da Informação e aliado do ditador sírio, Bashar Assad. Após a prisão, Al Hassan recebeu ameaças de morte e mudou a família para Paris.
Ninguém assumiu a autoria do ataque de ontem. As suspeitas recaíram sobre a Síria e seus aliados no Líbano, sobretudo o Hizbollah, misto de milícia e partido e grupo mais influente do país.
O fato de o atentado ter sido num bairro cristão não tem necessariamente significado político, já que os partidos cristãos estão divididos entre a coalizão de governo do Hizbollah e a oposição.
O grupo xiita condenou o atentado em nota: “Este crime terrível é uma tentativa contra a estabilidade do Líbano e a união nacional”.
Saad Hariri, filho do ex-premiê assassinado em 2005, não tem dúvida de que Assad está por trás do ataque. “Um regime que massacra seu próprio povo não pensa duas vezes ao executar um inimigo no Líbano”, disse, à CNN, da Arábia Saudita -há meses Saad evita visitar o Líbano.
Al Hassan foi durante anos um dos assessores mais próximos de Rafiq Hariri. Em 2005, ele chefiou uma investigação que apontou o envolvimento do Hizbollah e da Síria no assassinato do ex-premiê. Mais tarde, uma comissão da ONU também culpou membros do grupo xiita.
A guerra na Síria elevou as tensões no país, acirrando a divisão entre aliados de Assad, como o Hizbollah, e opositores, como a coalizão 14 de Março, liderada por Saad.
Houve confrontos violentos nos últimos meses, mas eles se restringiram a áreas com maior concentração de forças pró-Assad, como Trípoli (norte), enquanto Beirute vivia relativa calmaria.
Ontem, porém, manifestantes queimaram pneus e fecharam ruas na capital em protesto contra o atentado. “Assad já ameaçou várias vezes incendiar a região se a pressão contra ele aumentar”, disse Fares Soueid, porta-voz da 14 de Março.
FONTE/FOTO: Folah de São Paulo, via resenha do EB/RichardHall