“Mesmo se [Mitt] Romney [candidato republicano que chamou a Rússia de “inimigo número um dos EUA”] não ganhar as eleições, daqui a quatro anos ele ou alguém com pontos de vista semelhantes pode chegar ao poder”, declarou Pútin, na última quarta-feira (12), durante uma reunião com o presidente da Sérvia, Tomislav Nikolic.

O presidente russo havia anunciado na semana retrasada que está disposto a trabalhar com qualquer presidente eleito pelo povo norte-americano. Mas dessa vez Pútin se deteve apenas aos detalhes das relações entre Rússia e Estados Unidos no contexto da defesa antimíssil.

O PRO [como se chama o sistema na Rússia] é, sem dúvida, o principal ponto de divergências entre Washington e Moscou na esfera da segurança. As abordagens de ambos os países nessa área são diametralmente opostas.

Os russos preocupam-se com os planos de instalação de componentes da defesa antimíssil norte-americana perto de suas fronteiras. Os norte-americanos, por sua vez, dizem não haver motivo para preocupações, mas se recusam a dar garantias por escrito de que a defesa antimíssil não será posicionada na direção do arsenal de defesa russo.

O vice-diretor do Instituto para Assuntos dos EUA e do Canadá da Academia de Ciências da Rússia, Pável Zolotarev, acredita que, diferentemente da época da Guerra Fria, não se pode mais partir da ideia de que o conflito teórico entre URSS e Estados Unidos consistia apenas em uma troca de ataques nucleares em massa.

“A tendência atual é de que, se vier à tona um conflito nuclear, ele poderá ser limitado a ataques isolados ou em grupo. Para excluir a possibilidade de ataques nucleares isolados impunes, é preciso considerar o potencial do sistema PRO. Aqui os receios da Rússia têm todo fundamento”, explica Zolotarev.

As negociações russo-americanas na esfera do sistema PRO correm paralelas à instalação de antimísseis e radares norte-americanos na Europa. Enquanto isso, a ameaça adquire contornos inteiramente concretos, com a instalação de antimísseis perto das fronteiras da Rússia, como destaca o consultor do Centro de Pesquisas Políticas PIR e tenente-general da reserva, Evguêni Bujinski.

“Trata-se da questão das águas continentais do mar Báltico, e talvez do mar do Norte, e também da instalação de elementos do sistema PRO na Polônia. A ameaça é real, pois esses elementos têm potencial técnico de interceptação de nossos mísseis balísticos, embora os norte-americanos neguem isso”, afirma o consultor.

As preocupações de Moscou não são levadas em conta nem por democratas nem por republicanos. Acontece que a ideia de montar um sistema de defesa antimíssil global nasceu na década de 1990, na época da presidência de Bill Clinton, colega de partido de Obama. Depois, os planos nessa área tiveram potente impulso com o presidente seguinte, o republicano George Bush filho. Obama apenas modificou esses projetos.

“A colaboração com a Rússia na esfera do sistema de defesa antimíssil é prioridade do presidente, assim como era na época do governo de George Bush filho”, declarou na última segunda-feira (10) o assistente da Secretaria de Estado dos EUA para questões de verificação e observação de acordos, Frank Rose.

O sistema de defesa antimíssil dos Estados Unidos é, desse modo, fruto de um acordo interpartidário da elite política norte-americana e, por isso, a política do Kremlin na esfera do sistema PRO não se orienta de acordo com a filiação partidária dos candidatos à presidência dos EUA.

No próximo mandato presidencial norte-americano, que se estende até 2016, vai acontecer a terceira etapa do sistema de defesa antimíssil na Europa. Provavelmente nesse período será preciso tomar decisões fundamentais no campo da segurança.

Paralelamente, a Rússia iniciou testes de engenharia para desenvolvimento de um novo foguete de combustível líquido em resposta à instalação do sistema de defesa antimíssil norte-americano na Europa.

De acordo com o consultor responsável pelos Arsenais de Foguetes de Destinação Estratégica, Víktor Essin, a decisão de construir um foguete intercontinental foi tomada em 2010 e, portanto, não tem relação direta com a atual situação. “Não é um sinal de retomada da Guerra Fria, mas não se pode excluir que a situação conduza a uma nova corrida armamentista”, conclui Essin.

FONTE: Gazeta Russa

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