Passa de tudo pelas fronteiras brasileiras
Em suas cinco edições, a Operação Ágata apreendeu drogas, explosivos, armas de chumbinho e até barbatanas de tubarão
Lisandra Paraguassu
Nos 16.800 quilômetros de fronteiras do Brasil passa de tudo. Desde o ano passado, quando se iniciaram as operações Ágata, ação conjunta de 25 agências do governo brasileiro e das Forças Armadas, descobriu-se que os crimes nas terras limítrofes do País vão muito além do tráfico de drogas, armas e contrabando de carros. Passam também explosivos, remédios, armas de chumbinho e até barbatanas de tubarão.
Na edição mais recente da operação (Ágata 5), encerrada há pouco mais de uma semana, foram apreendidas quase 12 toneladas de explosivos na fronteira entre Mato Grosso do Sul e o Paraguai. A mercadoria vai parar nas mãos de criminosos para explodir caixas eletrônicos no Sul e Sudeste.
Do Uruguai vem uma quantidade considerável de armas de chumbinho. Usadas normalmente para caçar passarinhos e pequenos animais e aparentemente inofensivas para seres humanos, as armas intrigaram os agentes de inteligência. Até que se descobriu que, após serem adulteradas, eram usadas em assaltos.
No Sul, há muito tráfico de maconha e contrabando de eletrônicos, brinquedos, agrotóxicos, pneus e medicamentos. É comum a apreensão de Cialis e Viagra, medicamentos contra disfunção erétil. Também é frequente o contrabando de cigarros falsos vindos do Paraguai.
Um pouco mais para cima, a partir da fronteira com a Bolívia, aumenta o tráfico de cocaína e o contrabando de carros roubados. O tráfico de armas e madeira ilegal é maior nas fronteiras com Venezuela e Colômbia. Durante as operações, dez pistas de pouso dentro de reservas e terras indígenas foram destruídas.
Nas fronteiras com as Guianas e o Suriname, o maior problema é o garimpo ilegal de ouro. “Esse é um crime complicado de combater. Quando tem operação desse lado eles fogem para a Guiana. Quando tem lá, eles fogem para cá”, explicou o chefe de Operações Conjuntas do Ministério da Defesa, tenente-brigadeiro Ricardo Machado.
Foi nessa região que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) detectou outro crime em alta, o contrabando de barbatanas de tubarão para a China, que saem do Brasil pelo porto de Belém. Considerada uma iguaria no país asiático, as barbatanas são parte de um comércio não apenas ilegal, mas destrutivo. Para retirar as barbatanas, os pescadores jogam fora todo o animal.
FORÇA-TAREFA
Iniciadas no ano passado, as operações Ágata envolvem, em média, 9 mil homens das Forças Armadas, além de representantes de 12 ministérios e 25 agências – entre elas, a Abin e a Polícia Federal. “Quando começamos eram apenas os ministérios da Defesa e da Justiça, mas foram percebendo a necessidade de agregar os outros setores”, explicou o brigadeiro Machado.
As operações começam muito antes da chegada das Forças Armadas. Dois meses antes, Abin e Polícia Federal começam suas investigações. E, com a movimentação nas fronteiras, outra operação, a Sentinela, da Polícia Federal, é indiretamente beneficiada. Após a saída dos militares, os traficantes acham que estão seguros e voltam a agir às claras, tornando-se alvos mais fáceis para os flagrantes da PF.
FONTE: Jornal do Comércio