Exército treina para Garantia da Lei e da Ordem e ‘guerra no meio do povo’
A repercussão positiva da atuação do Exército na Pacificação dos complexos do Alemão e da Penha e no Haiti e a futura atuação em grandes eventos no País estão levando a Força a ampliar o treinamento da tropa para operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e de combate urbano.
Nessas situações, segundo a Constituição Federal, os militares assumem a coordenação da segurança pública, como no caso de eleições, greves de polícias militares, mediante pedido dos governadores, reconhecendo não ter os meios suficientes para garantir a segurança. O Exército se prepara para atuar em grandes eventos, como a Copa das Confederações, a Copa do Mundo-2014 e as Olimpíadas-2016, sob a perspectiva da Garantia da Lei e da Ordem.
O iG acompanhou por dois dias um treinamento com cerca de 40 tenentes e sargentos do Exército do Comando Militar do Sudeste (CMSE), no Centro de Instrução de Operações de Garantia da Lei e da Ordem (CIOpGLO), em Campinas.
Outro foco de ação, mais moderno e recente, é o de treinamento para operações de combate urbano. Há cada vez mais uma tendência de os conflitos ao redor do mundo acabarem em uma cidade, em meio à população, a chamada “guerra no meio do povo”, como visto no Afeganistão e no Iraque.
Após experiências bem-sucedidas internas, como no Alemão, e da Força de Paz no Haiti, o Exército já não está mais tão reticente em protagonizar as ações de GLO em solo nacional, uma vez superado o desconforto dos militares que muitas vezes não se sentiam respaldados juridicamente para atuar assim.
Hoje em dia, essa atuação já é vista como prestigiosa, como forma de manter a tropa adestrada e até de levantar recursos para aparelhar a Força – embora o tipo de armamento de guerra de que o Exército mais carece seja o de guerra e não o leve, usado nessas circunstâncias.
Assim, desde o ano passado, a Força tem feito muitas grandes operações e treinamentos do gênero pelo País.
De olho nos grandes eventos, recentemente tropas do Comando Militar do Sudeste montaram a operação “Escudo Sagrado”, em Aparecida do Norte-SP, onde fizeram a segurança da Basílica de Nossa Senhora de Aparecida, como treinamento para a Jornada Mundial da Juventude, que acontecerá no ano que vem, no Rio. São as chamadas “ações de não-guerra”.
A experiência no terreno levou o Exército a perceber que, por vezes, ações de GLO acabam se transformando, na prática, em combate urbano, “no meio do povo”. Portanto é preciso especializar a tropa para essa situação, em treinamento distinto daquele de GLO.
Um caso simbólico foi a Operação Arcanjo 6, no Alemão e na Penha. Em janeiro de 2012, a tropa justamente da Brigada de Campinas chegou ao Rio mais pronta para atuar em GLO do que em uma operação de combate urbano.
A realidade se impôs e acabou por tornar mais frequente a atuação dos soldados nesse tipo de operação de conflito, com traficantes remanescentes no local.
“O Alemão é um exemplo de situação em que entramos prontos para GLO e mudamos para combate em ambiente urbano”, conta o tenente-coronel Fernando Fantazzini, chefe da Comunicação Social da 11ª Brigada de Infantaria Leve, sediada em Campinas-SP.
É o chamado “Combate de 4ª dimensão”, que inclui as operações de GLO, de informação (com comunicação social, internet, mídias sociais), para aumentar o poder de combate.
Centro de Instrução de GLO treina tropas também para combate urbano
O CI Op GLO, na 11ª Brigada de Infantaria Leve, em Campinas-SP, é responsável por treinar os militares do Exército para esse tipo de atuação. A reportagem acompanhou um treinamento de combate urbano.
“Aqui se forma todo o tipo de tropa para o emprego no Brasil e em missões de paz. Está chamando a atenção dos estrangeiros. Eles nos perguntam como conseguimos operar no Haiti e no Alemão e ter tanta aceitação da população”, explica o tenente-coronel Vladimir Schubert, comandante do 28º Batalhão de Infantaria Leve.
Segundo ele, este ano, a Brigada já recebeu quatro visitas de representações dos Estados Unidos, entre elas a do general Simeon Trombitas, comandante do comando Sul do Exército daquele país, semana passada.
Na GLO, há uma preocupação grande com o efeito colateral – ou seja, o ferimento ou morte de inocentes. O primeiro princípio da Operação Arcanjo 6, nos Complexos do Alemão e da Penha, era “proteger a população”. O comandante da operação era o general-de-brigada Tomás Miguel Miné Paiva, comandante da 11ª Brigada de Infantaria Leve, onde fica o centro.
A todo momento, os instrutores destacam a diferença entre as operações de combate urbano (em teoria, uma guerra) e as de Garantia da Lei e da Ordem, quando as regras de engajamento e força proporcional são mais cautelosas.
Seguindo a tendência moderna, o centro tem se especializado cada vez mais em operações militares em ambiente urbano, além de GLO.
Nesse curso (estágio, na denominação militar), os militares aprendem a atirar com luneta de sniper (caçador, ou atirador de precisão), a fazer invasão tática de ambientes confinados, a atirar sob estresse (em uma simulação de tiroteio), entre outras atividades.
Tiro sob estresse tem bomba e berros no ouvido
Simulando um combate em cidade, os disparos são feitos a distâncias que variam de 50 a 100 metros, tamanho médio de um quarteirão urbano. No “tiro sob estresse”, os “estagiários” percorrem armados um circuito em que correm, fazem abdominais e flexões e memorizam objetos, antes de começarem a atirar de fuzil, sob gritos e apitos incessantes do instrutor e granadas de efeito moral.
“Vai, vai, corre! Atira! Atiiiiiiraaaaaa! Está esperando o quê? Você está levando tiro!”, berra o instrutor. “Vai morrer! Vai morrer! Tá levando tiro, atira!”
Na aula sobre invasão tática de ambiente com reféns, por exemplo, o militar aprende a lançar primeiro uma granada de luz e som, com o objetivo de atordoar os criminosos e provocar distração.
“Pisa, olha pela porta, identifica a ameaça e lança a granada no ponto cego”, explica o tenente instrutor.
“Tem que entrar os três caras juntos (na casa) senão vira tiro ao pato! Se o segundo amarelar, o cara fica no “sanhaço” (situação difícil)! Vira Fallujah (referência à cidade no Iraque com forte resistência local, onde ocorreram combates intensos durante a guerra)!”, ensina o sargento instrutor.
FONTE: Último Segundo – iG
NOTA DA EDITORA: Seguem os links dos dois videos que acompanham a matéria do iG, documentanto o treinamento do Centro de Instrução de Operações de Garantia da Lei e da Ordem:
Excelente matéria. Parabéns ao iG e ao ForTe.
Essa é a parte do Exército que funciona. Parabéns à Bda Anhanguera, que enfim deixou de ser a grande unidade de parada que era a 15 anos e se tornou numa unidade operacional.
De fato, tanto o combate urbano como a Op GLO é uma necessidade moderna, dado que 70% da população do mundo está nas cidades.
Maaaaasss… Tem sempre o lado negativo da coisa.
Em primeiro lugar, como dito na reportagem, uma tropa GLO é de mais fácil aceitação pela canalha asquerosa que nos governa do que uma tropa de combate regular.
Isso porque construir e treinar uma tropa dessas é absurdamente mais barato do que uma tropa regular, além de aparecer infinitamente mais para a imprensa/população, que não irão até o meio da selva ou as fronteiras pra ver a atuação dos militares. Além disso, tal tropa pode ser usada como “guarda nacional” sempre que necessário, possibilitando a substituição de instituições em situação de conflagração contra o governo, como polícias em greve, etc, e tornando desnecessário assim que o governo sente à mesa de negociações com tais categorias.
Assim, tropa GLO rende dividendos econômicos e políticos. Tropa regular não. É gasto puro.
Porém cabe sempre lembrar que tropa GLO sozinha não ganha guerra. Se um inimigo por exemplo se deslocar da cidade para o campo, todo o treinamento da tropa GLO, inclusive em CQB, perde a serventia.
Temos sim que investir em GLO/CQB. Mas isso não deve ser a prioridade de exército algum.
Sds.