Inovação é chave na competitividade

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O câmbio está em patamar mais favorável à produção nacional diante da competição de bens importados, as taxas de juros têm caído e alguns segmentos foram beneficiados com a desoneração de tributos e encargos sobre a folha salarial. Mesmo assim, o conjunto da indústria brasileira continua se ressentindo da falta de competitividade. Portanto, o problema não está relacionado apenas a questões macroeconômicas.

Vários especialistas relacionam essa perda de competitividade ao fato de o conjunto da indústria ser pouco inovador. Em recente artigo publicado no GLOBO, o presidente e dois diretores da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), respectivamente, Glauco Arbix, João Alberto de Negri e Roberto Vermulm, chamam a atenção para a necessidade de o país mudar o atual sistema de investimento e financiamento à tecnologia e à inovação. Falam com conhecimento de causa, pois estão à frente do órgão federal dedicado exclusivamente a esse tipo de financiamento.

A antiga tese de que a evolução tecnológica seria subproduto do crescimento econômico não tem se comprovado, na prática, no Brasil. Os especialistas reconhecem que há um esforço de um certo número de empresas em prol da inovação. Cerca de 800 companhias no país têm hoje departamentos de pesquisa e desenvolvimento que contam com mestres ou doutores, contratados em regime de tempo integral. Essas empresas cobrem com recursos próprios 90% do investimento em pesquisa e desenvolvimento, quando era de se esperar mais apoio de programas governamentais, como já acontece em outros países.

O Brasil investe o correspondente a 1,2% do Produto Interno Bruto em pesquisa e desenvolvimento, e, de acordo com os mesmos especialistas, seria necessário, no curto prazo, elevar esse percentual para 1,8% do PIB, para que seja possível recuperar competitividade. Isso exigiria um esforço adicional tanto do setor privado quanto do setor público.

A sociedade brasileira despertou tarde para a importância na educação no processo de desenvolvimento do país, e agora começa a se esforçar para eliminar o hiato criado nas últimas décadas. Esforço idêntico, a partir da valorização do conhecimento, terá de ser feito no campo da pesquisa e da inovação, envolvendo empresas, mundo acadêmico e governos.

As dificuldades conjunturais da economia brasileira, muitas e grandes, costumam absorver todas as atenções das políticas governamentais e o tempo disponível dos empresários. Não há como se ignorar esses problemas, pois, se eles não forem enfrentados, não será possível dar passos adiante. No entanto, o desafio não se resume à solução das dificuldades conjunturais. Sem uma visão de médio e longo prazos, acabaremos andando em círculo. Como resposta à perda de competitividade do conjunto da indústria, corremos o risco de cair na tentação do protecionismo. Trata-se do caminho errado. A alternativa está no estímulo à inovação e no aumento sugerido nos investimentos em pesquisa e desenvolvimento.

FONTE: O Globo

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