Quem precisa de Forças Armadas?
Desgastadas política e socialmente com a ditadura (1964-1985), nossas Forças Armadas, desde o governo Fernando Collor, vêm sendo objeto de crescente (e burra) marginalização, que se aprofundou no governo Fernando Henrique Cardoso. Solícito no atendimento às diretrizes norte-americanas, o segundo Fernando foi diligente na política de tentar confinar nossas Forças em atividades típicas de polícia, como o combate ao contrabando e ao narcotráfico. Mas, justiça lhe seja feita, deu o pontapé inicial para a criação do Ministério da Defesa, boa ideia que ainda poderá vingar.
Já o governo Luiz Inácio Lula da Silva teve o grande mérito de aprovar a primeira Estratégia Nacional de Defesa com visão própria da inserção do Brasil no cenário geopolítico mundial. Finalmente, a presidente Dilma Rousseff (embora as Forças Armadas permaneçam cumprindo papel de polícia nos morros cariocas) avança na definição de programa de investimentos em ciência e tecnologia, de especial em tecnologias duais, e na articulação com a indústria aqui instalada, indústria que, em crise, precisa ser encarada como parceira indispensável do programa de nacionalização de armamentos, sem a qual não teremos Forças Armadas dignas do nome.
Afinal, defesa nacional é defesa de que e de quem? Da nacionalidade? De nossos valores? Quais são esses valores, aqueles que unificam o que se pode chamar de povo e nação? Defesa de nosso território? Ou defesa de nossa soberania? O que é soberania, e qual soberania é possível, num mundo dito globalizado, o qual, embora multipolar, uma multipolaridade de polos assimétricos, conhece a hegemonia econômica, científica e militar do mais forte entre os mais fortes, e os mais fortes são potências nucleares?
No Brasil, o interesse nacional, após a Segunda Guerra Mundial, era ditado pela nossa inserção dependente na Guerra Fria, resolvida pela renúncia da União Soviética, caso único de suicídio de um Estado. Aquela inserção qualificava nossa política externa e determinava o caráter de nossas Forças Armadas. A saber, simplesmente não precisávamos delas, senão para cuidar da fronteira com o suposto inimigo potencial, a Argentina, pois, do ‘perigo soviético’ nos defenderiam os ‘marines’. Por consequência, recebendo armamento de segunda linha, prescindíamos do desenvolvimento de tecnologias e produção de armamentos próprios, vedada às nossas forças e à nossa incipiente indústria militar qualquer sorte de transferência de tecnologia. Para o seu papel subalterno de guardas pretorianos do status quo, ou para intervir no processo democrático, fraturado-o, não careciam de modernidade.
A visão subalterna conheceu o clímax no governo do marechal Castello Branco, quando foi cunhado o infeliz bordão ‘o que é bom para os EUA é bom para o Brasil’. Os demais governos militares, todavia, incentivaram o desenvolvimento da indústria nacional de defesa, de que são símbolos a Embraer e seu AM-X, estenderam a soberania marítima para 200 milhas, romperam com o acordo militar Brasil-EUA e deram impulso à pesquisa nuclear.
A disparidade entre o poder econômico do Brasil e o dos seus vizinhos elimina do horizonte hoje visível qualquer hipótese de guerra regional, a não ser por procuração, de potência externa, como aliás, no Império sob a hegemonia britânica, foi a imoral guerra contra o Paraguai, e, na ditadura, a intervenção na República Dominicana, atendendo aos interesses dos EUA. Resta a hipótese de enfrentar inimigo muito mais poderoso, caso em que não caberá a ilusão de enfrentá-lo de igual para igual, senão adotar uma política de dissuasão ao máximo do invasor, desanimando qualquer intento atentatório à nossa soberania.
Em país com as características brasileiras, amante ativo da paz e da boa convivência internacional, o papel de suas Forças Armadas é o de serem capazes de inibir qualquer desrespeito às regras da convivência internacional, de soberania e de autodeterminação. Dito de outra forma, sabemos que a inexistência de capacidade de defesa, isto é, de força dissuasória, é eficiente estímulo à aventura militar.
Qualquer que seja a política nacional de defesa, ela depende de nosso desenvolvimento econômico, gerador de nosso desenvolvimento científico-tecnológico, gerador de nosso desenvolvimento industrial e não tem e não pode ter política de defesa o Estado que não possui indústria bélica. Quem não produz sua própria tecnologia militar não tem tecnologia alguma.
Está certo e é coerente com nossa história de povo e civilização que o Brasil não seja nem queira ser uma potência militar, mas é pelo menos estranho que renuncie a um sistema de defesa – ainda que constitucionalmente limitado à dissuasão –, compatível com sua presença continental.
Não há a menor relação, do ponto de vista militar, entre nossas Forças Armadas e as necessidades de nosso país, considerada sua dimensão continental, seu litoral, suas fronteiras, a riqueza de seu mar territorial, a Amazônia, seus recursos minerais, sua população e a exigência de projeção do poder nacional.
É dramática a fragilidade de nossas Forças Armadas, mas este, lamentavelmente, não é o cerne da questão, porque é impossível pensar em política de defesa, cingindo-se ao ponto-de-vista estritamente militar. A política de defesa fundamenta-se em elementos culturais e ideológicos, e depende da adesão da cidadania, porque assim como a economia e a diplomacia, guerra é, ao fim e o cabo, uma questão política.
Deserdados da sociedade e da cidadania não formam exércitos de defesa e resistência. Estes carecem da força da população que pretendem defender, e da identificação dessa mesma população com seus objetivos. As Forças Armadas aptas do ponto de vista tecnológico deverão ser concebidas a partir da vontade nacional e de sua missão no projeto estratégico coletivo; os valores nacionais são oferecidos pela sua formação de povo, nação e país, pela sua cultura, pela sua história.
Segurança nacional, como tem demonstrado a democracia, é antes de tudo desenvolvimento econômico-social auto-sustentado.
Nosso projeto fundamental, assim o entendo, é ultrapassar a condição periférica, e a estratégia é o aprofundamento da relação Sul-Sul, tendo como ponto-de-partida a América do Sul, onde já desfrutamos de posição destacada. A partir daí, utilizando esse ponto de apoio, aprofundar seu relacionamento com os países africanos, a começar pelos países da lusofonia, mas a eles não se limitando.
Nosso objetivo estratégico deve ser abreviar o parto da história.
O projeto nacional é tributário e servidor do papel que estamos dispostos a desempenhar na America do Sul e no hemisfério e sua articulação considera a consciência do que somos e a decisão do que queremos ser.
Queremos ser um modelo alternativo de desenvolvimento auto-sustentável, democrático, solidário, progressista; uma sociedade harmônica e igualitária, aberta ao convívio amistoso de todas as crenças e etnias, amante da paz e da liberdade.
No plano continental, o projeto desse novo Brasil está comprometido com:
– a democracia e os regimes representativos;
– a desnuclearização de nosso continente de par com a exigência do fim de todos os estoques de armas nucleares e de destruição em massa;
– a proteção e fortalecimento de nossas culturas nacionais;
– a articulação econômica, cultural e política entre nossos povos;
– a proteção de nossas economias, a promoção do desenvolvimento e a distribuição de renda como ponto de partida para a superação das desigualdades sociais e construção futura de uma sociedade sem classes;
– a proteção de nossas matérias primas, de nossos recursos naturais e de nossas fronteiras;
– o desenvolvimento em comum polos de ciência e tecnologia; e
– a latinidade como valor estratégico.
Finalmente, nosso compromisso é o de assegurar a paz e a não-intervenção nos assuntos internos de outros países, e, em particular, a intervenção estrangeira no hemisfério.
Ao fim e ao cabo: é preciso virar a página. Não podemos sacrificar nossas necessidades atuais em razão de traumas de há 30-40 anos. É preciso serviço de inteligência, e é preciso política de defesa. Sob a égide da Constituição de 1988, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) nada tem a ver com o Serviço Nacional de Informações (SNI), e o papel das Forças Armadas é e deve ser distinto daquele da longa noite da ditadura. Essa é a exigência do Estado democrático que, aos trancos e barrancos, conseguimos construir e buscamos fortalecer.
FONTE: Carta Capital
Interessante artigo, porém não concordo com um detalhe apenas: a “imoral guerra do Paraguai”. Por que imoral? Não foi o Paraguai quem invadiu o Mato Grosso? Defender-se agora é imoral? Vai entender.
Existem controvérsias também sobre a influência britânica nesta guerra, mas deixo este detalhe para lá.
Por fim, volto a falar o de sempre: de que adianta ficarmos escrevendo, escrevendo, escrevendo, e as forças armadas se sucateando?
Falar o que desse lixo ideológico?
A única verdade contida no texto é a constatação, aliás pra lá de óbvia, que nossas Forças Armadas estão sucateadas.
Todo o resto é puro lixo retrógrado, bem típico desse pasquinzinho comunista.
E essa história de “exército popular” tem o mesmo fedor de cadáveres das milícias chavistas. Uma Waffen SS da esquerdopatia.
Jura que publicaram isso na Carta Capital? Deve existir alguma maquinação inconfessa que eu não consegui enxergar.
No mais, concordo com Daglian: “… elimina do horizonte hoje visível qualquer hipótese de guerra regional, a não ser por procuração, de potência externa, como aliás, no Império sob a hegemonia britânica, foi a imoral guerra contra o Paraguai”. Completamente questionável essa afirmação.
É impressionante como esse pessoal esquerdopata repete determinados mantras à exaustão. Haja paciência.
Aê!, Chegou a tchurminha do Vader pra compartir algumas asneiras como sempre! kkk
Blind Man’s Bluff,
Da mesma maneira como eu o faço, espero que você respeite a minha opinião, concordando com ela ou não.
Em segundo lugar, se não tem nada para discutir ou nenhum argumento para propor, não comente nada. Isto é um site onde entusiastas dizem o que pensam sobre determinadas notícias, não onde pessoas provocam outras.
Se a sua opinião é contrária à de alguém, demonstre o porquê. Se não consegue fazer isto, simplesmente não comente nada. Pressupõe-se que ninguém aqui é dono da verdade e, assim, você também não o é.
Em respeito aos amigos, deixarei a provocação do homem cego sem resposta
Senhores,
Eu tive a curiosidade de verificar quem foi que escreveu esta coleção de bobagens ideológicas e deturpações da história do nosso país.
Foi o Roberto Amaral, que já foi ministro do Lula. Só isto explica o puxa-saquismo para cima do PT e o demérito sobre o FHC.
Como se fizesse diferença. Para as FAs Brasileiras são todos farinha (mofada e imprestável) do mesmo saco.
Desde que este pessoal assumiu o país há 18 anos, nossas FAs vem sofrendo um processo de sucateamento e deformação de suas verdadeiras funções, para tornarem-se mais três órgãos policiais, por revanchismo, vaidade intelectual e burrice mesmo.
Se tiver uma guerra contra o Brasil amanhã, toda esta turma vai aparecer no jornal das oito, se estapeando na escadaria do aerolula, no primeiro voo para deixar o país entregue a própria sorte.
Carta Capital?
Tudo o que vem de lá é lixo ideológico de esquerda.
Falar mal da Guerra do Paraguai é normal entre os “vermelhuxos”. Eles sempre tentam denegrir a imagem das nossas Forças Armadas.
Mesmo quando agiram para defender a pátria de uma ataque contra a nação, como no caso da invasão paraguaia.
Só não falam mal da F.E.B. porque senão acabariam defendendo os nazistas.
Pelos quais diga-se de passagem possuem uma profunda admiração, que mantém escondida debaixo de uma bandeira da URSS…
Esses “comunas, socialistas, maoístas, trotskistas, etc” são tão ridículos que já passei a rir das imbecilidades que defendem.
erabreu disse:
15 de junho de 2012 às 12:56
“Em respeito aos amigos, deixarei a provocação do homem cego sem resposta”
2…
Ao “homem cego”, “Black Lila” manda lembranças.
Aos que não leram o livro, este foi o submarino soviético que colidiu c/ um outro, americano, em patrulha no Pacífico.
Por pouco não naufragou.