Saída da Grécia da zona do euro, cada vez mais provável, abre novo capítulo de turbulência quanto ao futuro da união monetária

 

O resultado das eleições gregas foi catastrófico para as perspectivas da receita de austeridade a fim de debelar a crise europeia. A queda acumulada de 17% no PIB da Grécia desde 2010 e a ausência de um horizonte de melhoria levaram o eleitorado a emitir mensagem clara: está farto das medidas de ajuste e seduzido por partidos extremistas -como se isso representasse solução para as dificuldades criadas em vários anos de indisciplina nos gastos.

A expressiva votação do partido Syriza, adversário do programa de ajuste, inviabilizou a formação de um governo. Haverá novas eleições em junho, que devem se configurar como um plebiscito pela permanência do país na eurozona. A rejeição aos duros cortes exigidos dificultará desembolsos de dinheiro novo pela Europa, o que levaria à insolvência grega. Sair do euro seria o resultado inevitável.

Os gregos parecem apostar que a Europa mostrará flexibilidade para abrandar o programa. Contam também com o medo dos europeus de que deixar a Grécia à deriva desencadearia uma crise financeira sem precedentes, com ataques do mercado a outros membros cambaleantes, como Portugal e Espanha.
A liderança europeia se vê compelida a lidar com uma agenda de crescimento, que ganhou peso com a eleição do socialista François Hollande na França. O próximo encontro de cúpula, em 29 de junho, debaterá sugestões francesas, como a capitalização do EIB (o BNDES europeu) e a emissão conjunta de títulos de dívida para custear investimentos. São passos importantes, mas insuficientes.

Há obstáculos políticos, em especial na Alemanha, para novas concessões à Grécia. Já se fala abertamente, porém, em salvaguardas para enfrentar sua saída do euro. Elas implicariam provar de modo inequívoco que não haverá ruptura generalizada com a defecção grega. Os europeus precisarão dar passos mais audazes de integração para convencer os mercados de que a arquitetura incompleta da moeda única evoluirá rapidamente.

Entre as medidas que restaurariam confiança está uma maior velocidade na integração fiscal e na supervisão bancária.

O objetivo é evitar casos como o da Espanha, cujo governo não tem recursos para lidar com a insolvência de suas próprias instituições, drenadas pelo estouro da bolha imobiliária. Discute-se recorrer ainda mais aos fundos de resgate, hoje em 700 bilhões de euros, para socorrer os bancos ibéricos.

Quanto ao Banco Central Europeu, persistem as resistências alemãs ao uso pleno de seu arsenal. Mas, se a saída da Grécia revelar-se inevitável, será a única instituição capaz de evitar o colapso do euro.

FONTE: Folha de São Paulo

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