Brasil só deixa lanterna de crescimento em 2013
Apesar da queda dos juros e do esforço para evitar a perda de dinamismo da indústria, o Brasil só deixará a retaguarda do crescimento na América Latina e no Caribe em 2013, quando a variação do Produto Interno Bruto (PIB) pode se acelerar para 4,1%. Neste ano, a expansão de 3% será maior apenas do que o desempenho de outros quatro países da região – Belize, El Salvador, Jamaica, Paraguai e Trinidad e Tobago -, além de algumas minúsculas ilhas caribenhas com economia de base rudimentar.
Dessa forma, o Brasil praticamente repete a performance registrada em 2011, quando somente quatro de seus vizinhos latino-americanos cresceram menos. A comparação engloba 23 países e usa como referência as estimativas para a variação do PIB do último Panorama Econômico Mundial, que foi divulgado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) na semana passada.
Só em 2013, quando as projeções do FMI indicam que a economia brasileira acelerará o ritmo, o país abandonará o pelotão traseiro do crescimento latino-americano e entrará na zona intermediária. Se essas estimativas se confirmarem, o Brasil terá o 11º maior crescimento entre 23 países da região, ficando à frente, inclusive, das duas economias mais próximas à sua em tamanho – Argentina e México.
O economista Wilson Benício Siqueira, conselheiro do Conselho Federal de Economia, aponta três obstáculos para a aceleração do crescimento no Brasil: o câmbio sobrevalorizado, a carga tributária elevada e o nível de juros ainda muito alto. “São três gargalos da economia brasileira que nem o PSDB, nem o PT conseguiram encarar de frente”, opina.
“Nós representamos 57% de tudo o que a América Latina produz do México para baixo, mas estamos perdendo espaço”, afirma Siqueira. Para ele, a maior preocupação é a perda de competitividade da indústria. “Sem crescer 5%, não vamos dar nenhum salto de prosperidade. O consumo das famílias tem sustentado o PIB, mas não dá para atingir esse índice sem dinamismo industrial”, diz o economista.
Neste ano, o Brasil perdeu o desagradável título de lanterninha do crescimento na América do Sul para o Paraguai, que deverá enfrentar contração de 1,5% no PIB de 2012. A recessão tem dois grandes motivos: a quebra da safra de soja, por causa da seca, e o impacto do ressurgimento da febre aftosa nas exportações de carne. Há ainda reflexos negativos das barreiras protecionistas argentinas nas vendas de produtos agroindustriais. Economistas locais estimam queda de até 20% da produção agropecuária do Paraguai.
A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) avalia que a “região toda respondeu muito bem à crise, mas de formas diferenciadas”, segundo Carlos Mussi, diretor do escritório em Brasília. Para ele, vão melhor os países “ligados a commodities e virados para o Pacífico”.
Quando se comparam 23 economias de tamanhos tão diferentes, observa Mussi, é preciso lembrar que um ou poucos investimentos específicos podem inflar temporariamente a taxa de crescimento. Ele cita o caso da ampliação do Canal do Panamá, com forte reflexo na variação do PIB local, que deverá aumentar 7,5% em 2012 e 6,6% em 2013.
Já outros países, como o Peru, vivem um ciclo de investimentos muito ligado à alta de commodities minerais e agrícolas. Por fim, segundo o diretor regional da Cepal, deve-se considerar como os países saíram do auge da crise mundial, em 2009. Economias cuja recessão foi moderada e a recuperação em 2010 foi forte, como o Brasil, cresceram menos nos anos seguintes. Já países como o México, que sofreram mais em 2009 (-6,3%) e se recuperaram de modo menos intenso em 2010 (5,5%), tendem a apresentar agora uma expansão mais constante.
Neste ano, porém, nenhum país superará o ritmo do Haiti – o mais pobre das Américas – em reconstrução, com crescimento de 7,8%. No ano que vem, o título de maior crescimento deve ser do Paraguai, como efeito-rebote da recessão vivenciada em 2012.
De acordo com as últimas projeções do FMI, a América Latina e o Caribe como um todo vão crescer 3,7% neste ano, aumentando o ritmo para 4,1% em 2013.
FONTE: Valor Econômico/Por Daniel Rittner | De Brasília