Brasil precisa elevar seu poderio militar para ter papel maior

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Para o americano Richard Haass, presidente do Council on Foreign Relations, país pode ser potência mundial sem armas nucleares

 

CLAUDIA ANTUNES

O Brasil deve aumentar seu poderio militar, porque só “soft power” (poder de influir por inspiração e pelo exemplo) não basta, e uma maior capacidade brasileira em defesa abre a possibilidade de cooperação com os EUA.

É o que sugere Richard Haass, que fez carreira na diplomacia americana e, desde 2003, preside o Council on Foreign Relations, centro de estudos influente na política externa do seu país.

Ele falou à Folha após viagem de estudos ao Brasil, incluindo reuniões com a presidente Dilma Rousseff e o chanceler Antonio Patriota.

Folha – Em que essa viagem mudou sua percepção?

Richard Haass – Tenho vindo aqui há 20 anos. O que me impressionou é que parei de pensar no Brasil como um país em desenvolvimento; vejo -o como um país maduro. Seus desafios me lembram os dos EUA: a infraestrutura obsoleta, a educação, o capital humano e o peso dos impostos e da estrutura regulatória.

Outra coisa é como é boa a relação EUA-Brasil. Não concordamos em tudo, mas o nível de conforto é alto.

O subsecretário de Estado William Burns descreveu o Brasil como uma “potência global emergente”. Usaria a mesma descrição?
A resposta curta é “sim”, mas a palavra “emergente” é difícil. Em certa medida, o Brasil já chegou lá. Economicamente, já é potência. Diplomaticamente, assume papel maior. Militarmente, ainda é modesto e tem que decidir que tipo de capacidade quer.

A conversa com Dilma foi sobre a relação bilateral?
Foi bastante, e também sobre a visão dela da América. Como americano, achei alentador. Nos EUA temos um debate permanente sobre se estamos em declínio. É bom ter uma conversa com sua presidente em que ela se mostrou tão confiante na capacidade de os EUA superarem seus problemas, nossa flexibilidade, nossa criatividade.

A parceria em defesa é importante para a relação bilateral?
Gosto da ideia de o Brasil gradualmente desenvolver maior poder militar. Isso abre a possibilidade de parcerias na Ásia, no Oriente Médio ou na América Latina. O Brasil não precisa ser um aliado [dos EUA], pode manter sua independência, mas ter uma colaboração seletiva, e a defesa é parte disso.

As pessoas aqui gostam de falar de “soft power”, tudo bem. Mas há épocas em que economia e diplomacia não funcionam e você precisa usar a força militar.

O Brasil pode ser potência sem armas nucleares?
Um país pode ser potência regional ou global sem isso, como Alemanha e Japão. Ter arma nuclear não torna um país potência necessariamente: veja os casos da Coreia do Norte e do Paquistão.

Não vejo razão estratégica para o Brasil desenvolver essas armas. Não aumentaria a segurança, complicaria suas relações e drenaria recursos.

Percebeu consenso aqui sobre o papel do Brasil no mundo?
Acho que há um debate sobre as prioridades internas e internacionais. Isso é natural, porque a ideia do país como ator global é relativamente nova. Um exemplo: agora vocês têm a realidade dos grandes recursos petrolíferos na costa. Isso tem consequências, o Brasil vai ter que repensar como dar segurança a esses investimentos.

Teme uma nova guerra no Oriente Médio neste ano?
É uma possibilidade real no caso do Irã. Argumentei num artigo que, além de pressionar com sanções, deveríamos oferecer uma proposta diplomática ampla ao Irã.

Se o país não aceitar, acho que as chances de um ataque são razoáveis. É um passo arriscado e custoso, mas ninguém deve subestimar o custo de o Irã ter armas nucleares.

O Brasil consultou a ONU sobre a legalidade de um ataque ao Irã. O sr. conversou sobre isso com Patriota?
Seria o que se chama de ataque preventivo. É controvertido legal e diplomaticamente. A questão é se, apesar disso, dada a implicação potencial de uma bomba iraniana, ainda vale a pena fazer.

Os EUA anunciaram prioridade para o Pacífico, por causa da China. Como o Brasil se encaixa nisso?
Há um ajuste na política externa americana, de afastamento do Grande Oriente Médio e aproximação com a Ásia-Pacífico, onde acredito que muito do século 21 será traçado e decidido.

Para os EUA fazerem isso, precisamos pôr a economia em ordem e ter parceiros para trabalhar conosco na região. O Brasil é parceiro potencial.

Também precisamos que este hemisfério permaneça estável. Parte da capacidade de nos envolvermos mais com a Ásia depende da estabilidade das Américas.

Já se falou em rivalidade entre Brasil e EUA. Acredita nisso?
De jeito nenhum. De certa maneira, ou teremos sucesso juntos ou fracassaremos juntos, no hemisfério ou além.

FONTE: Folha.com

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Almeida
Almeida
12 anos atrás

“De certa maneira, ou teremos sucesso juntos (Brasil e EUA) ou fracassaremos juntos, no hemisfério ou além.”

Concordo 100%.

Guilherme Poggio
Editor
12 anos atrás

E precisa vir um americano aqui para dizer o que ja sabemos?

Antonio M
Antonio M
12 anos atrás

Guilherme Poggio disse:
5 de março de 2012 às 0:09

E quem ouviu?

E será mais fácil vermos uma passeata da UNE/UBES segurando cartazes “Yankees go home!!” devidamente amparados pelo governo com verbas, ônibus e lanche para levá-los até o local da manifestação do que uma discussão séria com autoridades, representantes de indústrias e instituições de ensino etc. afim estreitar essas relações.