Porque a direita sumiu
Olavo de Carvalho
Em artigo recente, João Mellão Neto define muito corretamente o espírito do conservadorismo, mas falha em explicar por que a direita se enfraqueceu no Brasil ao ponto de todos os candidatos, nas duas últimas eleições presidenciais, serem de esquerda. (verhttp://www.estadao.com.br/noticias/impresso,uma-nova-direita–por-que-nao-,839845,0.htm).
Isto aconteceu, diz ele, porque a direita apoiou a ditadura e a ditadura não respeitou os direitos humanos. Esse diagnóstico revela mais sobre a mente que o produziu do que sobre os fatos a que pretende aludir.
Mellão, com toda a evidência, aceitou a narrativa histórica dos adversários e argumenta contra eles numa perspectiva que, no fim das contas, continua sendo a deles.
Ninguém entenderá a história do período militar sem estar consciente de que em 1964 não houve um golpe, porém dois: o primeiro removeu do poder um governante odiado pela população, que foi às ruas aplaudir entusiasticamente a derrubada do trapalhão esquerdista. O segundo, meses depois, traiu a promessa de restauração democrática imediata e iniciou o longo e deprimente processo de demolição das lideranças políticas conservadoras, substituídas, no poder, por uma elite onipotente de generais e tecnocratas “apolíticos”.
A grande ironia das duas décadas de governo militar foi que este, movendo céus e terras para liquidar a esquerda armada, nada fez contra a desarmada, mas antes a cortejou e protegeu, permitindo que assumisse o controle de todas as instituições universitárias, culturais e de mídia, fazendo daqueles vinte anos “de chumbo” uma época de esfuziante prosperidade da indústria das ideias esquerdistas no Brasil.
Vasculhem a história do período e verão que, se o governo perseguia e amaldiçoava a violência guerrilheira, ao mesmo tempo nada fazia para combater o comunismo no plano ideológico, muito menos para ensinar à nação o valor perene dos princípios conservadores, que pouco a pouco foram caindo no total esquecimento até tornar-se como que uma língua estrangeira, desaparecida do cenário público decente já antes de os líderes esquerdistas mais notórios voltarem do exílio.
À imperdoável omissão dos governos militares no campo da guerra cultural e ideológica somou-se o desprezo da clique oficial pela classe política e as grandes lideranças conservadoras foram sendo apagadas, uma a uma, como velas sob um vendaval.
Foi durante aquele regime que vozes poderosas do campo conservador, como as de Carlos Lacerda e Adhemar de Barros, foram caladas, enquanto outras, como as de Pedro Aleixo e Paulo Egídio Martins, foram menosprezadas e esquecidas, e outras ainda, como a de Roberto de Abreu Sodré, acabaram se acomodando à mediocridade oficial até perderem toda relevância própria.
Tanto foi assim que, quando o governo Geisel deu sua virada à esquerda, adotando uma política nuclear antiamericana, estimulando o mais obsceno “terceiromundismo” na diplomacia e até fornecendo armas, dinheiro e assistência técnica para Fidel Castro invadir Angola, não se ouviu um protesto sequer das lideranças civis.
A única resistência que apareceu, vinda do campo militar por meio do valente general Sylvio Frota, foi logo sufocada sob acusações de “golpismo” e aplausos gerais ao presidente triunfante que estrangulara a “linha dura”.
Nas universidades, a direita foi sistematicamente preterida na distribuição de verbas e cargos, que a generosidade insana do governo prodigalizava aos esquerdistas na ilusão de neutralizá-los ou seduzi-los (o processo, de indecência sem par, é descrito em http://www.ecsbdefesa.com.br/defesa/fts/QTMFB.pdf) pelo estudioso venezuelano Ricardo Vélez Rodriguez, um dos mais abalizados conhecedores da vida universitária no Brasil).
Até mesmo no jornalismo foi ainda durante o período militar que a esquerda assumiu de vez o controle das redações (v. meus artigos em
http://www.olavodecarvalho.org/semana/111124dc.html; http://www.olavodecarvalho.org/semana/111125dc.html
e http://www.olavodecarvalho.org/semana/111130dc.html), enquanto porta-vozes fulgurantes do pensamento conservador, como Gustavo Corção, Lenildo Tabosa Pessoa e Nicolas Boer, iam sendo jogados para escanteio sem que ninguém desse pela sua falta.
A direita pensante e atuante foi, literalmente, esmagada pela ditadura, que ao mesmo tempo, na esperança idiota de dividir os adversários e ganhar o apoio de uma parte deles, abria as portas e os cofres das instituições de cultura para o ingresso da revolução gramsciana.
Quando terminou a era dos governos militares, em 1988, só o povão mudo, desprovido de canais para fazer valer suas opiniões, era ainda conservador no Brasil, enquanto o espaço cultural inteiro – mídia, movimento editorial, universidades, escolas secundárias e primárias, etc. – já era ocupado, gostosamente, pela multidão de tagarelas da esquerda que ainda mandam e desmandam no panorama mental brasileiro.
Aos sucessos retumbantes que obteve na economia e no combate às guerrilhas, a ditadura aliou, em triste compensação, uma cegueira ideológica indescritível, que expulsou a direita do cenário público e entregou o espaço àqueles que até hoje o dominam.
Cabe, nesse contexto, lembrar mais uma vez o dito de Hugo Von Hofmannsthal, segundo o qual nada está na política de um país que primeiro não esteja na sua literatura (tomada em sentido amplo de alta cultura). A direita saiu da política nacional porque, com a complacência e até a ajuda do governo militar, foi primeiro banida da cultura nacional.
Olavo de Carvalho é ensaísta, jornalista e professor de Filosofia.
FONTE: Diário do Comércio
Não faz muita diferença esquerda ou direita. O que se quer é um governo honesto e competente.
Hoje não temos nenhum dos dois. O que temos hoje é um governo populista, da pior espécie.
E não vi a direita lá naquela época. O que vi foi um bando de mequetrefe se aproveitando do regime para enfiar a tal da grana no bolso. São os mesmos que hoje apoiam a esquerda que está no poder.
É isso ai!
Olavo de Carvalho não e burro ou inculto. Mas escreve cada coisa…
Me pergunto se ele tomou algum remedio, e este fez mal…
Uma pena!
Em geral nao concordo com o Olavo de Carvalho, pois ele estah mais p/ um conservador do que um liberal, como me classifico. Alias, em quase tudo discordo dos conservadores, apenas concordo com a economia de mercado, mas na verdade esta eh uma agenda liberal; apropriada (por conveniencia?) pelos conservadores.
Mas fico feliz que ele citou o Ricardo Velez Rodriguez, com o qual tive o prazer de conversar varias vezes no tempo que ainda morava no Brasil, infelizmente atualmente tenho apenas contato pelo FB.
[]s!
Alias, aqui vai um teste muito interessante:
http://www.theadvocates.org/quiz
O meu resultado foi um ponto vermelho bem no alto do losango 🙂
[]s!
Senhores
A direita ou esquerda são idéias simplificadoras de um debate que acompanha a humanidade desde a origem e que trata do conflito básico entre os direitos do indivíduo dentro de uma sociedade e do poder que esta sociedade pode exercer cerceando estes direitos em nome do interesse de todos que pertencem a ela. Infelizmente, a história nos ensina que independente do pensamento de origem, do discurso, a prática no exercício do poder depende da natureza dos seres humanos que o estão exercendo e dos controles e limitações que restringem sua ação. Todas as ditaduras, não importa qual a tonalidade de seus líderes ou da pretensa ideologia que fundamenta a sua tomada do poder, são o exercício sem freios da vontade, das paixões e dos interesses de seus líderes e do grupo que pertencem. Tanto isto é verdade que as ditaduras do século XX que causaram maior sofrimento foram a chinesa com seu líder Mao, a soviética com Stalin, a alemã com Hitler, a cambojana com Pol Pot (medindo este sofrimento pelo número de mortes e perseguidos políticos). Paradoxalmente todas estas ditaduras foram ditas socialistas (é curioso que o nazismo se dizia socialista). Na verdade todas estas ditaduras tiveram como origem movimentos pelo bem da sociedade que pregaram a redução ou eliminação do controle e limitação do exercício de poder pelos líderes. Como já mostrou a história inúmeras vezes, muitos são os déspotas e pouco são os esclarecidos (dos conhecidos, começando por Hamurábi, dá para contá-los nos dedos das mãos).
É da natureza humana a busca por utopias e também é da natureza humana se aproveitar das idéias para fazer valer os interesses particulares mais danosos. Assim sempre haverá um pequeno número de defensores de idéias utópicas sobre a felicidade na Terra e um grande número de aproveitadores que utilizarão estas idéias para impor sua vontade, subjugar os outros e estabelecer o poder de seu grupo sobre a sociedade, passando a usufruir desta posição.
Por isto é que um regime democrático fundamentado no respeito e prática de leis sensatas consegue garantir maior liberdade, bem estar e progresso para as sociedades humanas. Por isto também que os regimes democráticos periodicamente claudicam e muitas vezes caem frente a ações de “idealistas” que desejam impor seu modo de pensar e exercer o poder pois permitem a proliferação de idealistas e de aproveitadores. É o paradoxo da democracia para o qual os únicos remédios conhecidos são a racionalidade, o conhecimento e um sólido fundamento ético.
Sds
O que vejo é a falta de debate mesmo e o concordo que meio acadêmico principalmente nas faculdades públicas predomina o maniqueismo.
Já li o absurdo do SINTUSP (sindicato dos funcionários da USP) publicaram manifesto se contra o estado de Israel, pedindo sua extinção!
Parece contradição pois estamos falando também de liberdade de expressão mas, o que um sindicato tem de se meter em política internacional e ainda desse jeito?
E agradeço ao Galante pela dica destes artigos no Forte!
Parabéns ao Forte por publicar artigos como esse.
A direita continua a mandar e esta muito satisfeita com seus testas de ferro, desde sarney até Dilma, basta ver quem são os financiadores das campanhas presidenciais. Collor e Sarney são orgânico da direita, são representantes do poder, já de FHC, Lula e Dilma estão no governo o que muito diferente de ter o poder, todos eles governan de cócoras para sistema financeiro, pois até nisso a direita brasileira é lacaia. O Eduardo Galleano tem razão, o destino da america latina foi ser fornecedora de riqueza aos espanhóis e portugueses e sentença decretada no tratado de tordesilhas.
Parabéns ao Forte!
É difícil ler artigos como esse.
Aos que duvidam/não concordam com o Olavo, eu sugiro que corram atrás das biografias dos nomes citados, atrás de documentos que comprovam os fatos por ele apontados. Dá trabalho, eu já fiz isso, mas no fim ele está certo.
Faça a mesma coisa com um Emir Sader, Marilena Chaui e etc. vão ver o quanto distorcem a realidade.
Mesmo assim sempre terá gente só dizendo que sabe e sabe e nunca corre atrás para saber se o que foi dito confere ou não confere e prefere ficar dando ‘chiliques’ de baboseiras e meias verdades com ares de super-letrados.
Enfim,
Querem ver um debate muito bom – http://www.olavodecarvalho.org/textos/debate_usp_1.htm
Querem ter uma visão do mundo em geral – http://debateolavodugin.blogspot.com/2011/01/7-estrutura-do-debate.html
Ficam as sugestões. Aos que tiverem coragem de pesquisar a verdade, gastanto (investindo) tempo nisso, meus parabéns. Aos que vão continuar na caverninha ideológica, meu sinto muito.
Sds.
Concordo com o Luiz Paulo.
Gostaria de saber onde estavam os críticos. A impressão que tenho é que se trata de gente muito nova que criticam depois da emprenhação pelos ouvidos, repetindo apenas o que lhes foi dito por quem não era para ter o topete de andar por aí.
Critico os apoiadores de ’64 por não se manifestarem, pelo ‘diagnóstico (que) revela mais sobre a mente que o produziu do que sobre os fatos a que pretende aludir’. A esquerda fez mais mal ao país do que a direita, que surgiu por causa, exatamente de pressão cubanizante da esquerda. À minoria estúpida da direita radical (RioCentro, Herzog, torturas) deve ser oposta a assassina esquerda (Xambioá, assaltos, sequestros, torturas).