1. Segundo Douglas Farah, pesquisador sênior do Centro Internacional de Avaliação e Estratégia, nos EUA, “esses “narquitos” bolivianos não têm redes internacionais para mover o produto, quando está terminado”, diz ele. “Entram aí os grandes grupos brasileiros, porque é um mercado muito fácil de alcançar. E também os mexicanos, buscando alternativas para a sua linha de produção. Todos estão ali, tratando de armar as suas redes.” Com 3.500 km de fronteira seca com o Brasil, a Bolívia tem muito mais vias para escoar sua cocaína para cá do que o Peru e a Colômbia. “No último ano e meio, o Brasil se converteu em uma das mais importantes rotas da droga peruana rumo à Europa”, diz Jaime Antezana, especialista em narcotráfico no Peru.

2. Segundo a ONU, a Bolívia é o terceiro maior produtor mundial da folha, com uma área plantada de 31 mil hectares, atrás de Peru e Colômbia. Não há, no entanto, uma estimativa precisa sobre qual seria a área ideal para atender à demanda interna. Uma lei de 1998 reconhece apenas 12 mil hectares como legais para o uso tradicional. Mas o governo anunciou na semana passada que pretende atualizar essa lei.

3. A produção boliviana divide-se em duas grandes regiões. A primeira delas, a dos Yungas, fica no altiplano boliviano, próximo a La Paz. Há ali uma área estimada em cerca de 20,5 mil hectares, com uma produção de 28 mil toneladas, segundo Guedes. A segunda, fica na região conhecida como Chapare, perto de Cochabamba, onde apenas 10,1 mil hectares rendem 27,5 mil toneladas da folha. “De qualquer maneira, isso é muito mais do que se pode mascar ou fazer chá”, afirma Bo Mathiassen, representante da UNODC no Brasil. “A Bolívia ainda tem uma produção muito maior do que a demanda. O resto deve estar indo para o lado errado.”

4. No Chapare, apenas 4% da produção é negociada no mercado de Sacaba, responsável pela comercialização da produção local. O fato de que a folha do Chapare não é considerada própria para o uso tradicional – por ser mais ácida e de menor qualidade – só faz aumentar a suspeita de que boa parte da produção seja desviada para o tráfico.

5. Há países onde o narcotráfico opera com impunidade nas esferas mais altas, como na Venezuela e na Bolívia. Há uma criminalização generalizada desses governos. Seu plano econômico é insustentável e todos se vinculam ao narcotráfico, às Farc [narcoguerrilha colombiana] e a outros grupos criminosos como forma de sobreviver economicamente.

6. Na Presidência boliviana desde 2006, Evo Morales acumula o cargo de presidente da Federação de Cocaleiros do Trópico de Cochabamba. Durante seu governo, a área plantada com coca na Bolívia subiu de 25,4 mil hectares para 31 mil hectares no ano passado.

7. As divergências com os americanos também estão atrasando a assinatura de um convênio entre os dois países e o Brasil para o mapeamento dos plantios da folha de coca na Bolívia. Pelo acordo, o Brasil forneceria imagens de satélite e atuará na capacitação da polícia boliviana para a leitura desses dados. Já os americanos forneceriam equipamentos de GPS e outros para fazer a medição dos cultivos excedentes. Mas, diante da resistência de setores do governo Morales, a formalização desse acordo vem sofrendo sucessivos adiamentos.

FONTE: Valor Econômico, via Ex-Blog do Cesar Maia

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