Paquistão acusa Otan por ataque que matou pelo menos 28 militares

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Islamabad fecha rota de suprimentos da aliança no Afeganistão em represália

 

PESHAWAR, Paquistão – Um novo incidente volta a abalar a frágil relação diplomática entre o Paquistão e as forças ocidentais que operam na região. Na madrugada deste sábado, ao menos 28 militares paquistaneses foram mortos em um ataque a dois postos de checagem na região tribal de Mohmand, na fronteira com o Afeganistão, segundo número divulgado pela agência Reuters. Islamabad, sede do governo, afirma que um helicóptero da Otan abriu fogo contra as bases e, em retaliação, fechou uma importante via de fronteira usada para levar mantimentos para postos da aliança no país vizinho. Este é o pior ataque desde de que o Paquistão começou a colaborar com a luta contra as organizações terroristas, após o 11 de setembro.

O alto comandante da Otan no Afeganistão, General John Allen, divulgou um comunicado neste sábado lamentando a morte do militares. Allen não responsabilizou a aliança pelo ataque, apenas reforçou que o caso está sendo investigado.

Já o general Carsten Jacobson, um porta-voz da aliaça, afirmou, em uma entrevista à rede BBC, que é “altamente provável” que uma aeronave da organização tenha sido a responsável pelo ataque.

O incidente relembra um evento semelhante no qual forças da Otan acidentalmente mataram dois soldados paquistaneses, confundidos com extremistas islâmicos, em setembro do ano passado. Autoridades da aliança demoraram dez dias para pedir desculpas à Islamabad.

As relações entre o Paquistão e Otan entraram em crise quando o líder da organização al-Qaeda, Osama bin Laden, foi encontrado e morto pelo grupo de operações especiais dos EUA, os Navy Seals, no complexo de Abbottabad, em território paquistanês.

Os americanos pressionaram autoridades do Paquistão, acusado-os de esconder Bin Laden, homem responsável pelos ataques do 11 de setembro nos EUA. O primeiro-ministro Yousaf Raza Gillani defendeu o país dizendo que a culpa pela demora na captura do terrorista deveria ser compartilhada entre a inteligência e a comunidade internacional.

As forças da coalizão, que perseguem extremistas no Afeganistão, são proibidas de cruzar a fronteira em busca de terroristas. Autoridades americanas acusam constantemente oficiais paquistaneses de dar apoio à extremistas, enquanto paquistaneses cobram mais ações da Otan contra os radicais, que também promovem ataques contra militares e civis.

FONTE: O Globo / FOTO: Reuters

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Vader
13 anos atrás

Porcaria de paíseco que é esse Paquistão. Não vai pra frente e não deixa seu vizinho Afeganistão ir.

Se as coisas não mudarem radicalmente o Paquistão de hoje é o Afeganistão de amanhã. Isso se a Índia, a China ou o Irã não resolverem repartí-lo entre si.

Quanto à América, deveria é se mandar de lá e mandar esses paquistaneses se virarem com seus novos “grandes amigos”, os chinas. Quem sabe eles acabem por descobrir, como já descobriram as minorias muçulmanas na China, que as garras da Águia são muitíssimo mais leves que a mandíbula do Dragão…

Observador
Observador
13 anos atrás

Primeiro:

É tudo joguinho de cena para agradar o populacho paquistanês.

Os líderes paquitaneses, fecham a fronteira, protestam, condenam o ataque, mas é tudo para a torcida.

Eles veem a Al-Qaeda e outros grupos radicais como maior ameaça e desejam a ajuda da OTAN para se livrarem do problema.

É só passar o tempo para o povão de lá – como o daqui – esquecer o episódio para reabrirem a fronteira. Não sem antes os líderes paquistaneses ganharem algo em troca, claro.

Segundo:

Eles não vão abrir mão da aliança com os EUA, pois já ganharam muita, mas muita ajuda financeira e militar. E eles precisam de toda a ajuda possível contra a Índia e o Irã. Com este último, embora tenham acordos comerciais envolvendo inclusive um importante gasoduto, o regime dos aiatolás é uma pedra na sandália paquistanesa, ainda mais devido as pretensões nucleares iranianas.

Terceiro:

Os paquistaneses já se acostumaram a fazer um joguinho duplo com a China e os EUA, tirando vantagens de ambos.

Parece o Portugal de D. João VI, cortejado e pressionado pelas duas superpotências da época, Inglaterra e França. Mas, ao contrário de Portugal naquela época, o Paquistão pode esperar indefinidamente, tirando vantagens dos dois lados.

Observador
Observador
13 anos atrás

Em tempo:

O Paquistão não tem todo este direito de reclamar: o país tem uma das únicas fronteiras duplas do Mundo entre o Afeganistão e o Paquistão.

Ou seja, entre o Paquistão e o Afeganistão há uma extensa faixa de terra com trinta quilômetros de largura, a “Linha Durand” sobre a qual nenhum os dois países tem jurisdição.

É uma terra de ninguém, própícia aos grupos terroristas. Lá, a OTAN lança ataques aéreos contra qualquer grupo armado de fuzis.

M.A
M.A
13 anos atrás

Não há como esperar que eles não protestem. Os fatos (até agora) são: Foi um ataque a um posto-de-fronteira paquistanês, não havia nenhuma patrulha, eram posições fixas do exército paquistanês na fronteira.
Supostamente eles responderam ao fogo dos helicópteros e por isso as posições paquistanesas foram atacadas mais de uma vez.
A Linha Durand é muito mal demarcada, às vezes chegando a 5km de erro.

Muito provavelmente foi uma grande fatalidade, advinda de uma fronteira má-sinalizada e pouca comunicação entre as tropas americanas e paquistanesas durante as operações na fronteira…

Mas é de se esperar que o Paquistão proteste, afinal foram 28 militares de seu país, em seus postos em território amigo… Entretanto essa conversa de que isso vai agravar as relações com os EUA, aproximar da China, etc não passa de especulação.

Observador
Observador
13 anos atrás

Caro M.A.:

Este é o ponto.

O Paquistão abriu mão de sua soberania ao permitir a existência da Linha Durand, que é mal demarcada de propósito, para um dia permitir a sua retomada.

O Paquistão faz exatamente como o Estado Brasileiro fazia (faz) com as favelas: são territórios em que se prefere não exercer a soberania. Faz de conta que o que acontece lá não lhe diz respeito, que aquela região não faz parte do seu território. e pobres dos habitantes.

Lá dentro, manda o senhor da guerra do momento, apoiado em armas e drogas (aqui cocaína, maconha e crack; lá, no ópio e heroína).

Os paquistaneses preferem que a OTAN faça o trabalho sujo, usando recursos próprios e arriscando o pescoço de seus soldados.

Logo, se é mal-demarcada, também é dos paquistaneses a responsabilidade pelo incidente (para não dizer desastre).

M.A
M.A
13 anos atrás

Caro Observador,

Definitivamente a posição de descaso para com a fronteira e, consequentemente, sua demarcação e vigilância é uma política secular do Estado paquistanês… Vejo dois motivos nisso: A fronteira demarcada para o Paquistão até hoje não foi bem aceita pelas autoridades do país, manter a fronteira não-demarcada e imprecisa seria uma forma de, posteriormente, conseguir, através de mediação internacional (ou não) uma remarcação das fronteira com o Afeganistão; O Paquistão é completamente irresponsável na luta contra os grupos para-militares (guerrilheiros, terroristas, etc) que habitam a região fronteiriça do país, há pouco tempo houve, inclusive, um ataque que vitimou diversos civis afegãos num ataque de artilharia do Paquistão contra supostas unidades talibãs, manter a fronteira mal demarcada é uma forma de arranjar uma “desculpa” para tais ocorrências (que não são nada incomuns); Além disso, como você disse, relegar a vigilância de fronteira à OTAN reduz responsabilidade do próprio governo pela segurança (tirando-os da reta da população) e acaba minimizando os custos naquela região, permitindo manter as unidades concentradas na região da caxemira… Essa tragédia é certamente de responsabilidade parcial (senão majoritária) do Paquistão.

Mas eu acho que eles podem tirar algo de bom nisso… Talvez agora, com uma tragédia dessas proporções, a pressão popular seja suficiente para que os políticos paquistaneses comecem a tomar uma atitude de maior responsabilidade e independência em relação à segurança interna (em especial, nas fronteiras) de seu país e parem de relegar as tarefas de investigação e localização de terroristas, patrulha de fronteira e supressão de guerrilhas à OTAN. Isso seria muito bom, para eles e para a comunidade internacional. Mas acredito que isso levaria a um pequeno afastamento político do Paquistão à OTAN… Para manter as aparências, pelo menos.

Desculpem pelos erros de português, eu estou digitando com bastante pressa…