Depois de dez meses de ocupação, Complexo do Alemão volta a ter madrugada violenta

Após uma noite de intensos tiroteios no complexo do Alemão, zona norte do Rio, a região amanheceu nesta quarta-feira com patrulhamento reforçado por parte da polícia e de militares. Seis tanques do Exército que participariam do desfile de 7 de Setembro, no centro da cidade, foram enviados ao local.

Cerca de 50 PMs também ocuparam os morros do Adeus e da Baiana, próximos ao Alemão, por sua posição estratégica. No Twitter, moradores relatam que um “caveirão” –o carro blindado do Bope– e dois carros da PM continuavam no alto do morro da Baiana nesta quarta.

A situação no Alemão, no entanto, aparenta estar mais tranquila na manhã de hoje, segundo relatos dos próprios moradores e de militares.

De acordo com o capitão Sobral, da Força de Ocupação, não houve tiroteios durante a madrugada e a situação se normalizou por volta das 23h30. Os acessos às favelas da região, que tinham sido fechados durante o tiroteio, foram reabertos.

Ainda não há uma confirmação do número exato de detidos, mas ao menos uma mulher foi presa por passar informações via rádio aos traficantes que tentavam invadir o local.

Segundo Sobral, somente uma pessoa ferida foi achada pelos soldados no Morro da Fazendinha. De acordo com o Exército, ela estava alcoolizada e havia sofrido uma queda.

A Força de Ocupação não confirmou a informação de que uma jovem de 15 anos havia morrido após ser atingida por um tiro na cabeça.

Ontem, a tia da adolescente Ana Lúcia da Silva, Carla Cristina da Silva, afirmou que a sobrinha foi atingida por uma bala perdida enquanto saía de uma escola na favela Nova Brasília. Ainda segundo a tia, ela foi levada para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da Penha, zona norte, e teve morte cerebral decretada.

TRÁFICO

De acordo com informações da Secretaria de Segurança, o tiroteio começou na terça (6) à noite quando um grupo de traficantes, estimado em cerca de 50 pessoas, tentou invadir o Complexo do Alemão, ocupado por tropas do Exército desde novembro do ano passado.

Fortemente armados, os traficantes atiravam em várias direções. Um dos alvos eram as lâmpadas nos postes de luz. A região ficou às escuras.

Um reforço de cerca de 100 homens do Exército foi mandado para o complexo. Policiais do Bope, equipados com um “caveirão” –o carro blindado da corporação– também se deslocaram para a área.

Todos os acessos às favelas da região foram fechados. No quartel da Força de Pacificação, na parte baixa do morro, carros de combate do Exército, do tipo Urutu, foram preparados para entrar nas comunidades.

O comércio fechou as portas mais cedo. Os moradores procuraram se refugiar em casas também na parte baixa do Complexo do Alemão. Veículos evitaram passar pela avenida Itararé, que margeia o complexo.

Além do barulho dos tiros, moradores afirmaram que também ouviam barulhos de explosões de bombas e fogos de artifício. Quem chegava do trabalho se concentrava nos acessos do morro, com medo de subir rumo às suas casas.

FONTE/FOTO: Folha.com/afro reagge

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Marine
13 anos atrás

E a midia brasileira continua ilustre! Desde quando existem “tanques” no estado do RJ para participarem dessa operacao?

Luiz Paulo
Luiz Paulo
13 anos atrás

Enquanto continuarem lá no Rio tratando segurança pública com o método ‘corra que a polícia vem aí’, ao invés de se prender, isso vai ser recorrente.

Sds.

Vader
13 anos atrás

Texto magistral do Reinaldo Azevedo sobre o tema:

“O “milagre” de Cabral e Beltrame é uma fraude, como sempre se disse aqui. Mas o Jabor quer mais…

Leiam esta afirmação, que uso como epígrafe neste texto. Revelo a sua autoria daqui a pouco e explico por que ela é o emblema da uma empulhação que está em curso no Rio.

“(…) soldados não podem subir [o morro] para impor uma moral oficial aos moradores. Estão lá para impedir conflitos e não para fechar bocas de fumo, que existem em Ipanema, Copacabana, Tijuca”

O pau comeu de novo no Complexo do Alemão, como vocês viram. O céu voltou a ser iluminado pelas tais balas traçantes. Por volta das 21h20, informou o Globo, dois veículos blindados do Exército e diversos carros da Polícia Militar entraram na área para reforçar a ocupação. O tal “Caveirão”, do Bope, também foi acionado. O milagre de Sérgio Cabral e José Mariano Beltrame começa a mostrar a sua verdadeira face. Era questão de tempo. Por que daria certo, na prática, aquilo que está errado na teoria, no conceito, nos fundamentos, na moral e na ética? No máximo, seduz inteligências como a de Arnaldo Jabor — autor daquela besteira que abre este texto — e, claro!, boa parte da imprensa, que passou a acreditar nos poderes mágicos de um propagandista de si mesmo como Cabral.

Escrevi dezenas de textos — praticamente sozinho, como sabem — indagando como poderia ser bem-sucedida a recuperação de áreas dominadas pelo narcotráfico sem prender narcotraficantes. Se a coisa desse certo, ponderei, o Rio passaria à condição de exportador de bandidos para outros estados. Não só isso: publiquei diversos relatos de leitores que asseguram que o tráfico continua a ser feito normalmente nas favelas “pacificadas”. O que o governo do Rio quer é que ele não afronte o bom gosto, evitando exibir revólveres e fuzis que possam ser mostrados nos telejornais.

Mas Beltrame, o queridinho dos descolados do Rio, com a sua equação impossível, deixou claro: ele não estava combatendo o narcotráfico, mas recuperando território. Ah, bom!!! Como eu acho que a lógica é compatível com o sol e com aquela paisagem estonteante do Rio — de fato, é um dos lugares mais bonitos do mundo! —, indago: se o tal território retomado estava ocupado pelo narcotráfico e se retomado foi sem confronto com aqueles bravos, o que a gente deve concluir? Que se fez uma espécie de pacto com os donos da área, certo? Certo!

E é isto o que persegue o governo do Rio: um narcotráfico mais, como posso dizer?, decoroso! É por isso que a turma que fuma e cheira — OS PRINCIPAIS RESPONSÁVEIS PELA VIOLÊNCIA — nem chegou a sentir no bolso o peso das operações. A “mercadoria”, farta como sempre, nem subiu de preço.

A “pacificação” das favelas do Rio tem sido fonte inesgotável de poesia e jornalismo ruins, isto sim! Aquele deslumbramento da turma do asfalto com o “outro” do morro, que sempre me incomodou em certa “cultura” carioca, está mais vivo do que nunca. Basta subir algumas vielas, SEMPRE COM AUTORIZAÇÃO DOS DONOS DA COMUNIDADE, e filmar crianças felizes batendo lata (geralmente sob os cuidados de algumas ONGs) para garantir que o futuro e a esperança estão de volta. É constrangedor e chega mesmo a ser cruel.

É claro que aquele pacto não daria certo, como nunca dá certo acordo com bandido. No comentário de Jabor, Beltrame e Cabral continuam heróis, e o tráfico está buscando sabotar — bidu! — os esforços pacificadores. Nem ele nem boa parte da imprensa dirão uma vírgula sobre essa magnífica forma de combate ao crime que tem como pedra-de-toque a tática do “bandido solto é bandido convertido à virtude”.

Essa política vai continuar porque nem daria tempo de pensar em outra. Prender vagabundo requer polícia treinada (e não apenas uma parcela ínfima, a tropa de elite) e equipada e dá um trabalho imenso. Mais: é preciso ter onde colocar os vagabundos, o que também custa caro. Isso parece estar fora daquele espírito caricato de balneário, tão bem encarnado por Cabral. O negócio agora é ver onde foi que desandou a receita.

Como o tráfico continua a correr livre, leve e, sobretudo, solto nas favelas ocupadas pelas UPPs ou pelo Exército, estamos diante de uma outra formidável realidade. Os bandidos não precisam mais temer a ameaça de gangues rivais ou das milícias criminosas. Policiais militares e soldados de uma das Forças Armadas foram convertidos pelos magos Cabral e Beltrame em seguranças do tráfico de drogas.

E não é o que defende Jabor, na prática? Voltemos à sua fala. Vejam lá que ele está entre aqueles que entendem que a comunidade do morro é o “outro antropológico”, que tem seus próprios valores. Jabor defende abertamente que, ao se deparar com uma boca de fumo, os soldados do Exército não façam nada — não estão lá para interferir na “realidade local”; sem essa de impor, como ele diz, a “moral oficial”. Por “moral oficial” se deve entender, creio, a lei. Sim, rapaz, bocas de fumo existem em Copacabana, Ipanema etc. Mas não com a chancela do Exército Brasileiro.

Não, eu não sou contra UPPs. Sou contra a empulhação. Cabral e Beltrame não inventaram a polícia comunitária. Ela existe no mundo há alguns séculos. O que é da autoria dos dois — se bem que Brizola já fez o mesmo, em essência, só que com menos talento — é esse modelo que confere cidadania ao crime, desde que ele não exagere.

Os bandidos devem ter algumas reivindicações. Algo deu errado na negociação com os companheiros. Nada que não se resolva com uma conversa entre as partes. Até me ocorreu contratar um “consultor” que anda por aí — se os bandidos não o recusarem por insuficiência moral, é óbvio. Sabem como é: ética de bandido não tolera certos tipos…

Digam-me: isso estava ou não escrito nas estrelas? De novo: eu nunca fui contra UPPs e pacificações. Combati desde sempre a mistificação. E, lamento pelo Rio, eu estava obviamente certo. Os tiros que ontem cruzaram o Complexo do Alemão surpreenderam muita gente porque o jornalismo tem sido omisso sobre a realidade do Rio. Está produzindo mais ideologia do que informação.

Os meus leitores cariocas sempre me disseram a verdade a respeito. Afinal, eles têm a vida real, não uma agenda com Copa do Mundo e Olimpíada pela frente”

dududepadua
dududepadua
13 anos atrás

Vader, concordo com sua opinião, e eu mesmo escrevi um post hj sobre este assunto. Não sob a ótica de que nunca se prendeu narcotraficante ( lógico que nunca daria certo, parece que o governo “esqueceu” este pequeno detalhe), mas sobre o que a sociedade vai fazer a partir de agora.

Tá aew o link para quem quiser conferir e comentar.

dududepadua
dududepadua
13 anos atrás