Singularidade
* Sérgio Paulo Muniz Costa
Exatamente o que Solano Lopes pretendia ao invadir o Brasil em dezembro de 1864 e junho de 1865, matando, estuprando, roubando e torturando brasileiros nas terras que habitavam havia gerações não se sabe. Já o revisionismo histórico que se pratica há mais de quarenta anos no Brasil em relação à Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870) é mais fácil de estimar: levar a luta ideológica ao extremo de negar a nacionalidade.
Num átimo, aplica-se o socialismo utópico ao Paraguai do século XIX, transformando uma nação pobre submetida a gerações de autocratas num bastião da luta antiimperialista contra o Brasil e a Inglaterra. Pouco importa que o Brasil estivesse rompido com a Inglaterra havia mais de dez anos, que o Brasil tivesse apoiado a independência paraguaia, que o Brasil tivesse procurado chegar a algum tipo de acordo sobre fronteiras antes do conflito, que o Brasil tivesse sofrido o apresamento de um navio e uma invasão predatória e que o Brasil, depois de sustentar praticamente sozinho uma guerra sangrenta e custosa, tivesse se comedido na vitória, garantindo a soberania e a integridade territorial paraguaias, mesmo à custa de forte discordância com aliado.
Dada a facilidade com que o revisionismo histórico se alimenta da distorção de acontecimentos de há mais de um século, a comissão da “verdade” que o governo pretende impor à sociedade brasileira deveria estabelecer como marco cronológico inicial de seus trabalhos o século XIX. Quem sabe assim, de um debate não controlado pela esquerda revolucionária incrustada no governo, tivéssemos nossa História de volta, apagada dos livros de nossos filhos e netos pela fúria sindicalista e ideológica que transbordou aos currículos escolares.
A Guerra da Tríplice Aliança (12 de novembro de 1864 a 1º de março de 1870) se desdobrou nas campanhas de Mato Grosso (invadido a 27 de dezembro de 1864 e ocupado até abril de 1868), de Corrientes, na Argentina, (13 de abril a 5 de outubro de 1865), do Rio Grande do Sul (10 de junho a 18 de setembro de 1865) e do Paraguai (5 abril de 1866 a 1º de março de 1870), combatidas as três primeiras nos territórios invadidos do Brasil e da atual Argentina. O comando-em-chefe das tropas brasileiras foi desempenhado pelo General Osório e pelo General Polidoro, antes de o Duque de Caxias exercê-lo no período de 18 de novembro de 1867 a 19 de janeiro de 1869, e posteriormente pelo Conde D´Eu até o final da guerra. Diante desses fatos históricos, vitimizar o Paraguai e acusar Caxias só podem servir muito bem a um propósito: desmoralizar a maior atuação do Exército Brasileiro na sua missão de defesa da Pátria e a figura de seu patrono que o conduziu à vitória.
Não é pela manutenção do sigilo de documentos de estado que o Brasil se singulariza, pois não se tem notícia que Cuba, Coréia do Norte, China e a URSS antes de sua derrocada tenham aberto os seus arquivos ou estabelecido qualquer prazo para fazê-lo. Quem visitar os sítios históricos da Campanha do Paraguai nos dias de hoje vai notar o cuidado sistemático com que os paraguaios reconstroem a “Guerra Grande” segundo a sua perspectiva patriótica. Desde o túmulo napoleônico de Solano Lopez à discreta exibição num obscuro museu próximo ao Rio Paraguai do cruel instrumento de imobilização dos prisioneiros, passando por obras de arte e narrativas que enaltecem os combatentes paraguaios, sem esquecer o parque histórico Vapor-Cué, onde se findou a esquadra paraguaia e estão expostos os navios de guerra guaranis restaurados, aí incluído o patrimônio brasileiro tomado na invasão de Mato Grosso, verifica-se que os paraguaios estão fazendo na paz, sem a menor cerimônia, o que fizeram na guerra – defender o seu país. O Brasil não se singulariza pelo trato a documentos de estado, mas sim por ser o único que denigre a própria história. Não há nação no mundo do tamanho e, pior, com as pretensões do Brasil que dedique à sua história, em particular à militar, esse tratamento.
O Exército é uma instituição nacional e permanente. Não é justo ultrajá-lo, negando-lhe até mesmo ter defendido a Pátria. O mal que assim faz é ao país que não chegará a lugar algum ferindo a si mesmo.
País sem futuro é país sem passado.
* Historiador, é membro do CPE da UFJF, pesquisador de Segurança e Defesa do CEBRI e responsável pela Clio Consultoria Histórica. Foi Delegado do Brasil na Junta Interamericana de Defesa, órgão de assessoria da OEA para assuntos de segurança hemisférica.
Seria interessante que se dar nome aos bois. Quem são os historiadores, aqui no Brasil, que estão mudando as coisas tentando e denegrir a imagem do Exército? Ficar soltando indiretas não é suficiente para que nós os entusiastas possamos nos mobilizar.
Não, não falem isso, vai dar problema legal para o Blog.
Nunca citem nomes.
Hoje em dia no Brasil ta ficando perigoso falar certas coisas…
O correto agora é, digamos, morar na favela ( se vc tem mais vc é culpado pelas mazelas de quem mora na favela).
O correto é ter um emprego de 700 reais, mais que isso, não pode.
O correto não é dizer nem favela, é comunidade.
Vc não pode manifestar mais sua opinião a respeito do que certos caras do Ministerio da Educação falam e divulgam em cartilhas a respeito de questões sexuais. Se vc for contra o Ministerio, cuidado, dependendo do que vc fala, pode ser preso. Logo vai virar crime inafiançável, e imprescritivel.
Tudo bem que tráfico não é nem inafiançável e nem imprescritivel, mas tudo bem.
aah não se pode mais dar palmada corretiva em crianças, TEM QUE DEIXAR CRIANÇA FAZER O QUE QUER SEM REPRIMIR. Bom, se eu pensava em ter filhos antes, agora estou mudando de idéia…
Não pode corrigir erros de portugues, quem manda na lingua agora são os adolescentes deste país.
Cuidado se vc falar algo sobre certos ditadores da história européia, pois mesmo que seja só sua opinião, mesmo citando só um fato histórico, muito cuidado, vc pode ser preso.
Cuidado com outros exemplos históricos. Tal como quando eu lamentei a morte de tripulantes alemães, nossa, quase fui expulso daqui…
aahh e preparem-se porque logo logo minorias nomades terão direito a entrar em sua casa, já que nós somos os culpados pelo fatos delas serem pobres.
E ainda tem cara crente que eu sou petista…
AAhh, e para quem, como eu, que tem olho azul, mais cuidado ainda: SOMOS CULPADOS DA CRISE ECONÔMICA.
“É ERRADO TER OLHO AZUL. ” Não é mais politicamente correto.
Vou comprar uma lente de contato colorida para mudar meu olho, antes que eu seja preso…
“A África ta uma M ? Culpa de quem tem olho azul ué !!!”
Afinal o governo parece medir as pessoas pelo mesmo criterio que uma certa nação mediu na década de 30…
Incrível como a história pode se repetir quando ignorada…
Sobre isto é interessante ler o “Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil”, do jornalista Leandro Narloch.
No livro aparecem verdades para lá de inconvenientes para a turma do “politicamente correto”:
– quem mais matou os índios foram os próprios índios;
– Zumbi dos Palmares tinha escravos;
– A Coluna Prestes era formada por arruaceiros e estupradores e não visava nada mais do que cometer crimes Brasil afora;
– O Paraguai não era uma potência econõmica que foi injustamente destruída pelo Brasil. Era um país pobre, paupérrimo, governada com a mão de ferro de um ditador;
– Não houve massacre nenhum da população paraguaia na Guerra do Paraguai.
E por aí vai.
Recomendo a leitura. Muito interessante.
Belo texto. Ótimos comentários dos colegas.