José Carlos V. Cinquini

Quem era Osama Bin Laden? Após 11 de setembro de 2001, quase todas as pessoas, mesmo as mais desligadas das preocupações do mundo contemporâneo, sabiam responder a essa pergunta. Osama passou a ser o personagem que emprestava sua imagem para representar o terrorismo e todos os “inimigos sem rosto”, sem bandeiras de nações, aqueles que muitas vezes são chamados de fundamentalistas.

Antes de 2001, quase ninguém, como é meu caso, tinha ouvido falar do “tal” extremista saudita. A única grande citação na mídia sobre seu nome, era a da responsabilidade do atentado ao USS Cole, no porto do Iêmen, em 12 de outubro de 2000. No entanto, minha vida e a da grande maioria da população ocidental continuava normalmente, primeiro porque esses atentados sempre ocorriam em locais distantes do Ocidente. Antes do terrorismo, do “inimigo sem rosto”, estávamos acostumados somente com os grandes conflitos, que eram travados entre as nações empunhando suas bandeiras como os cruzados empunhavam a cruz.

Com os ataques de 11 de setembro de 2001 às Torres Gêmeas, ao Pentágono e a tentativa de derrubar um avião sobre a Casa Branca, o mundo ocidental começou a temer esse inimigo invisível chamado “terrorismo”. Logo de início, os principais culpados foram identificados e o líder da organização terrorista Al-Qaeda, Osama bin Laden, tornou-se o homem mais procurado do mundo. A partir daquele momento o terrorismo e todo mal que ele causava tinha um rosto, tornava-se pessoal. Com a ética ocidental baseada no “olho por olho, dente por dente”, a justiça tinha que ser feita, era preciso chegar até os culpados por tamanha atrocidade.

Os Estados Unidos da América empreenderam, a partir de outubro de 2001, uma campanha militar no Afeganistão, aonde a Al-Qaeda agia sob o manto de proteção do Taleban, e logo depois, em 20 de março de 2003, foi a vez de combater o Iraque, que também apoiava as ações terroristas. No Iraque, a invasão levou à queda do ditador Saddam Hussein e na implantação de um governo democrático formado pelos próprios iraquianos. No Afeganistão, o regime do Taleban foi seriamente destabilizado e também foi implantado um regime democrático, respeitando as relações tribais afegãs. Mas até hoje, em algumas regiões o controle era impossível, pois o grande responsável, o grande herói da causa fundamentalista, Osama Bin Laden ainda estava foragido e mandando seus recados, fazendo assim crescer ainda mais o mito sobre sua pessoa.

Ontem à noite, o presidente norte-americano Barack Obama, fez um discurso em que anunciava oficialmente a morte do terrorista mais procurado da história. Osama Bin Laden estava morto e a missão tinha sido cumprida, o povo norte-americano e ocidental poderia dormir tranqüilo, pois o mundo está mais seguro.

Apesar da sensação de dever cumprido, de que a justiça foi feita e da eliminação da “personificação” do terrorismo, infelizmente essa guerra está longe do fim. O “chefão” foi eliminado, mas o terror ainda continua vivo, e talvez muito pior agora, pois ele voltou a não ter um rosto. Para levar a paz e a democracia aos povos dominados pelo fundamentalismo islâmico e proteger as sociedades ocidentais de outros ataques como o de 11 de setembro, a espada ainda terá que ser usada. De preferência, com bastante Inteligência, como foi a operação que matou Bin Laden.

José Carlos V. Cinquini é professor de História.

FOTO: BANARAS KHAN/AFP/Getty Images

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Guilherme Poggio
Editor
13 anos atrás

Perfeita análise Cinquini.

A pergunta agora é: o que mudará nas guerras assimétricas do Afeganistão e qual o impacto disto frente à onda de manifestações no mundo árabe.

Baschera
Baschera
13 anos atrás

Meu modo de ver…. no Afeganistão nada muda até o final do cronograma de saída das tropas da Otan. A não ser que os próprios afegãos não consigam manter uma ordem mínima aceitável…..

Quanto ao Iraque, este nada tinha que ver com o assunto Al Quaeda ou terrorrismo e, como se comprovou mais tarde, muito menos tinha armas de destruição em massa….. foi invadido por outros motivos, um deles foi o ditador Saddam.

Sds.

Vader
13 anos atrás

Boa análise. Parabéns.

Muito melhor do que vários “historiadores” que vi ontem falar na Globo News, que na verdade analisam os fatos misturando estes com a vontade do que gostariam que fosse. Teve uma cidadã que até misturou as revoluções no Egito e Tunísia (o que ela candidamente chama de “Primavera Árabe”) com a morte do UBL.

Cinquini: por essas e outras que brinco com alguns amigos historiadores que historiador só devia poder falar depois de um “delay” de 100 anos, hehehe… 🙂

Abraço.

Cinquini
Cinquini
13 anos atrás

Poggio, muito obrigado pelo elogio.

Baschera, a eliminação do Bin Laden pelos EUA , no geral, é apenas uma vitória moral, no entanto isso vai mudar um pouco a guerra contra o terrorismo sim. Agora quanto ao Iraque, eu não condeno os EUA, afinal, o Sadam Hussein de fato apoiava o terrorismo o que não podemos negar é que a “desculpa” de armas de destruição em massa não “colou” e eles sabiam do “brinde” que era dominar aquele petróleo ali, alias, eu acredito que ele só foram pegar de volta o que eles tinham combinado com o Sadam e esse negou-se a pagar, mas esse assunto é extenso e quem sabe possa ser abordado em um novo artigo.

Vader, você não sabe como fiquei feliz com o seu elogio. Quando eu escrevi sabia que você iria ler e comentar. Só que irei discordar quando você diz que o historiador tem que ter um “delay” de 100 anos, so fosse assim não poderíamos analisar o que aconteceu na Segunda Guerra Mundial, por exemplo.

Um ForTe abraço,