Pedidos de desligamento no EB são os mais elevados dos últimos 10 anos
Estudo aponta também queda no número de inscritos em algumas escolas militares
Um levantamento realizado pelo Exército a pedido do G1 aponta que 2010 foi o ano com maior número de pedidos de desligamento de oficiais e sargentos do Exército em dez anos. Foram 105 pedidos de demissão no ano passado, em 2009 foram 88. Para se ter uma ideia, em 2000, apenas 44 militares de carreira pediram para ir para a reserva.
Os dados apontam, ainda, queda no número de inscritos em algumas escolas militares desde 2000. A variação na relação candidato/vaga é mais visível na Escola de Sargento das Armas (EsSA), que em 2000 tinha 97.685 inscritos para 1.500 vagas (65 candidatos/vaga), e no ano passado apresentou 42.850 candidatos para o concurso de 1.178 vagas (média de 36 candidatos/vaga).
Em nota, o Centro Comunicação Social do Exército disse que “o número de inscritos para o exame de seleção da Escola de Sargentos das Armas (EsSA) vem se mantendo dentro de uma média de, aproximadamente, 40.000 candidatos/ano”, mas que “observa-se uma redução ao longo dos últimos anos” devido a três fatores: a exigência, a partir de 2006, de que os candidatos tenham ensino médio completo, “o considerável crescimento do número de vestibulares no país” e “o elevado número de concursos públicos realizados nos últimos anos no Brasil”.
Demais unidades de ensino especializadas, como o Instituto Militar de Engenharia (IME), a Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), que prepara os futuros oficiais, e a Escola de Formação Complementar do Exército (EsFCEx), que seleciona e prepara profissionais já com curso superior, também apresentaram variação na procura durante a década, mas o número de inscritos voltou a subir em 2010, segundo o Exército.
“Eu amava o Exército, gostava de ser militar, mas infelizmente a remuneração não compensa. Desde que dei baixa, fiz concurso público e agora sou técnico judiciário em Jaraguá do Sul, em Santa Catarina”, disse ao G1 Heron Dias, de 32 anos. Ele era 2º sargento quando pediu desligamento em 2002. O salário dessa função atualmente é de R$ 2.748, segundo dados do Ministério da Defesa.
“Hoje, eu ganho o equivalente ao salário de um capitão”, afirmou Dias, cuja remuneração atual supera os R$ 5.340, que é o soldo de um capitão.
“Ser militar era um sonho de infância, e servi durante cinco anos no Rio de Janeiro, na Escola de Material Bélico e no Batalhão Logístico. Morava em frente ao Morro da Mangueira e vivenciava diariamente tiroteios. Vivia assustado, temendo, por ser militar, que me matassem quando fosse assaltado”, relembrou ele.
Já o sargento Glauber Rafael Vargas, de 29 anos, pediu demissão do Exército após nove anos de carreira, por outro motivo. Após atuar como militar no Rio de Janeiro, Amazonas e Acre, ele prestou concurso público e agora é agente da Polícia Rodoviária Federal em Mato Grosso. “No meio militar, a hierarquia e a disciplina, muitas vezes, se confudem com falta de respeito. Me estressava um bocado, era humilhado, trabalhava sempre sobre pressão, correndo risco de punição. Agora, me considero profissionalmente realizado”, afirmou.
Para o tenente Luiz Eugênio Bezerra Mergulhão Filho, presidente da Associação dos Oficiais da Reserva e Reformados das Forças Armadas, a remuneração é o principal fator que leva à debandada dos militares. “O mercado civil sempre pagou melhor que o militar. Ainda mais com os cortes no orçamento das Forças Armadas”, disse.
Segundo Mergulhão Filho, a decisão do desligamento “varia de pessoa para pessoa”. “A decisão entre quem sai e quem fica está no gostar do que faz. O militar que gosta nunca pensou em salário”, afirmou.
Já para o doutor em relações internacionais e especialista militar Gunther Rudzit, a economia é o principal fator para a mudança na procura da carreira militar. “Com o mercado aquecido, fica difícil reter nas Forças Armadas o profissional especializado. Acho que é só isso, não acredito que esteja havendo uma mudança na percepção da sociedade sobre as Forças Armadas”, afirmou.
Para o escritor Leonardo Trevisan, especialista na área, um dos fatores que provocam as demissões é que, “enquanto o oficial vislumbra uma carreira em que vai ganhar mais, o sargento não vê isso”. Ele afirmou que, pelas pesquisas de aptidão entre jovens, não percebe “alterações no apelo pela carreira militar”. “Ela é uma carreira que independe da economia, pois muitas vezes está ligada à vocação. Tanto que as Forças Armadas não precisam fazer anúncio na TV convocando os jovens para se alistar anualmente. A cada dois anos é suficiente”, disse.
Em nota, o Exército afirmou que o número de desligamentos da tropa no ano passado é “mínimo”, representando aproximadamente 0,42% do total de oficiais, hoje em 25 mil, segundo a corporação. “A Força entende que os números envolvidos na questão estão dentro dos padrões e coerentes com a série histórica no âmbito do Exército”, segundo o texto.
FONTE: G1, via Notimp
Não é prerrogativa brasileira o desatrativo da carreira militar após alguns anos de caserna. É assim também nos, ditos, países centrais, incluindo mesmo os EEUU, só que lá o diferencial é que o que os atrai é a iniciativa privada, aqui, outras carreiras públicas mais rentáveis e menos estressantes.
É um conjunto de fatores no nosso caso, explanado no próprio post: maiores e melhores salários e carreiras, respectivamente, dado o grande número de concursos públicos nos últimos anos, e o que o militar brasileiro de carreira sabe bem fazer, sobrando tempo e disposição, é “papirar”, como foi meu caso “a long time ago”…
Some-se a isso, ainda no nosso caso, a baixa estima dos militares brasileiros com equipamentos obsoletos, servindo atualmente, até mesmo, de meras forças auxiliares como tropas de segurança pública, de defesa civil, ou coisas do gênero, e “ACiSos” e mais “ACiSos”.
Instados a se apresentar como forças de combate em algum lugar do globo e começa um parto de elefante para transportar e manter uma força expedicionária, recorrendo para isso da ajuda de países amigos, dada a nossa falida capacidade expedicionária… Vide o último terremoto do Haiti onde supostamente “comandamos” tropas da ONU, e não fosse a Itália e os EEUU nos auxiliando e teríamos sucumbido diante de demandas das quais nossas FFAA não tem a menor capacidade de satisfazer. O Líbano, onde mais uma vez supostamente “comandamos” uma força naval…, sem 1, unzinho sequer, navio brasileiro !
Enfim, haja vergonha sobre vergonha ruborando a face de cada militar que bravamente ainda se mantem numa organização falida, como hoje são nossas FFAA.
É evidente que num quadro assim elas são apenas ritos de passagem, trampolim para um salto maior, dado seu estado de obsolescência, baixa remuneração e a exigência desmedida própria da caserna.
Excetuando-se alguns poucos vocacionados, e mesmo eles também sucumbem à realidade, pois sacerdócio também tem seu limite, alto, mas tem limite…, os demais que ingressam o fazem por absoluta falta de interesse (pelos poucos compromissos associados à juventude), conhecimento ou disponibilidade de algo melhor no momento, até que ele se descortine, os compromissos surjam, os laços afetivos tragam rebentos mais à frente, e assim tome “papirar”…
Enfim, até que se reverta esta situação caoticamente descrita e bem sabida por todos: “this is it”…
p.s. Off Topic ou nem tanto, no próximo sábado, dia 23/04, às 23h, quem puder ver ou gravar, o programa PAINEL da Globo News trará o assunto “A Defesa no Brasil”, e entre outros questionamentos, se gastamos pouco ou muito com essa área de atuação fim do Estado.