José Meirelles Passos

RIO – A julgar pelo conteúdo de uma série de documentos confidenciais do governo dos Estados Unidos, o Brasil não vai contar com o apoio – e o voto – dos americanos para realizar um sonho que persegue com determinação: conseguir um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas. As autoridades americanas consideram o Brasil “cauteloso regionalmente, e hesitante globalmente”.

“Se a rápida emergência do Brasil no cenário global é inquestionável, também é verdade que ele ainda é muito emergente”, diz um dos telegramas. Outro reforça: “O Brasil já falhou amplamente em assumir um papel de liderança internacional que o tornaria um forte candidato para tal posição. O seu último período (como membro temporário) no Conselho de Segurança da ONU, que terminou em janeiro de 2006, foi caraterizado pela cautela e equívocos em vez de visão e liderança”.

Um pacote de 37 telegramas produzidos pela embaixada dos EUA em Brasília, entre abril de 2004 e janeiro de 2010 – disponibilizados ao GLOBO pelo WikiLeaks – mostra essa missão diplomática sugerindo ao Departamento de Estado e à Casa Branca que o Brasil não está preparado para assumir aquela responsabilidade. Os despachos listam uma série de pontos negativos. Afirmam, por exemplo, que o governo brasileiro não tem a menor idéia do que acontece, de fato, no Oriente Médio. Suas posições ali são tidas como “ingênuas”.

Algo que influi na avaliação americana é o estilo brasileiro de preferir o diálogo ao confronto. “O Brasil frequentemente permanece reticente em tomar posições firmes em assuntos chaves globais, e geralmente procura maneiras de evitá-los. Com muita frequência o governo brasileiro evita posições de liderança que poderiam exigir que escolhesse lados abertamente”, diz outro documento, acrescentando que quando o Brasil está em posição de evidência demonstra desconforto.

O fato de o país geralmente se abster, nas votações da ONU, sobre abusos aos direitos humanos no Irã, Coréia do Norte e Sudão também é apontado como atitude que não o recomenda para o Conselho de Segurança. Os EUA ironizam o Brasil ao defini-lo como o país que acha que “pode falar com todo mundo”, devido ao estilo do Itamaraty de procurar manter-se neutro e buscar saídas via negociação.

“Esse gosto pelo diálogo, junto com o respeito pela soberania e a intervenção em assuntos internos (de outros países)”, diz um documento, “fazem com que se torne mais difícil ao país permanecer fiel a esses princípios, e fica mais difícil esconder as suas inconsistências, à medida em que o Brasil participa num crescente número de arenas internacionais”.

Um dos telegramas diz que o fato de o governo Lula ser, de muitas formas, pragmático mas “cultivar uma forte ideologia esquerdista em política externa” mostram que o país não é confiável. “Isso, junto à histórica reticência do Itamaraty em adotar posições controvertidas, e a quase obsessiva preocupação com a imparcialidade, frequentemente leva o Brasil a adotar posições em situações chaves que consideramos desapontadoras”.

Os documentos registram um claro ressentimento dos EUA em relação ao Brasil. “Grande parte da elite da política externa brasileira permanece cautelosa e desconfiada em relação aos EUA”, diz um deles. Embora ambos governos declarem que existe uma parceria estratégica entre eles, os americanos desmentem isso nos bastidores: “O engajamento (do Brasil) com os EUA tem sido pragmático, em vez de estratégico”. E se queixam: “Ao procurar por parceiros estratégicos o Brasil está mostrando clara preferência por outras forças emergentes ‘independentes’, como África do Sul, Turquia, Ucrânia, Irã, China, Índia; e uma potência mundial independente: a França”.

Submarino nuclear é chamado de baleia branca

O governo americano acha que a insistência do Brasil em produzir um submarino nuclear tem menos a ver com a proteção das plataformas de petróleo pré-sal, como argumentou oficialmente o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e mais com o fato de que os cinco países que hoje têm assento permanente no Conselho de Segurança da ONU possuem tal equipamento. Ao mencionar o assunto, os americanos caçoam dessa pretensão.

“Essa baleia branca do Brasil pode, no final das contas, encalhar nos recifes de desafios técnicos e excesso de custos”, diz um telegrama. E completa: “Na verdade, um submarino nuclear não melhoraria a segurança do Brasil, mas serviria como um duvidoso impulso para o machismo nacional”.

FONTE: O Globo

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paulofvj
paulofvj
13 anos atrás

Amo meu país.
A verdade é essa, não existem atalhos.
Para que queremos um assento na ONU, se não sabemos tomar descisões (exemplo básico é a escolha do FX). Equipamos nossas forças armadas com o intuito não de defesa e sim de fazer vitrine.

lprsilva_
lprsilva_
13 anos atrás

Nossos chefes se auto-fizeram uma lavagem cerebral nos últimos anos… tipo ”Brasil potência, Brasil potência, Brasil potência”, acharam que o mundo ia se dobrar diante do ”Gigante do Sul” ou que ficariam facinados com sua forma ”alternativa e sábia ” de ver o mundo e se alinhar, foram fazendo meleca em cima de meleca… olharam pra traz e viu que ninguém estava seguindo eles, o gigante do sul… Se fecharam no mundo vermelho e ”lindo” esqueceram a realidade….

Aí vem uma colocação dessa sobre nós e já falam ”ta vendo eles são maus!! bobos e feios”.

Acharam que estavamos no ”nirvana”, e agora a coisa não é bem assim…

O paulo falou bem, alardoaram muito o ”velho-novo caminho” e trabalharam pouco de fato.

Pra estar no conselho, temos que ter muito bom senso e atitude (valorização da nossa Força e Crescimento), não tivemos o mínimo disso nos últimos anos e acharam que ia conseguir a vaga falando ”olha, nós somos fortes”…

A Índia não fica falando… faz… ela não se fechou no mundo vermelho e lindo dela… ela sabe que o mundo real é muito diferente do ”ideal”… Agente vive no mundo ideal, ela no real…

…Apesar deu achar que agora agente tá voltando um pouco pra realidade… tomara…

Observador
Observador
13 anos atrás

Senhores,

O buraco é muito mais embaixo.

A minha esperança é que o governo atual – apesar de ser do mesmo partido – mude o rumo da política externa brasileira, a qual vem sendo um completo desastre.

O pior é que não é hesitante: é contraditória e hipócrita.

Quer entrar no CS pelo discurso da defesa dos países fracos e marginalizados.

Nossos diplomatas viraram um bando de tolos.

Para começo de conversa, no mundo de hoje um país só é marginalizado porque quer, ou melhor, porque seus líderes querem.
Basta que um país viva sob um regime autoritário, corrupto, beligerante, sem atender as necessidades de sua população e pronto: será um país-pária, como Irã, Coréia do Norte, Sudão, Zimbábue, Venezuela…

Os idiotas do Itamaraty sonhavam em criar um “eixão” de países não-alinhados, congregando América Latina, África e Oriente Médio, para colocar o Brasil como seu líder e porta-voz.

Como se adiantasse. Os países cujo apoio interessa ao Brasil para o CS são só aqueles com cargo permanente no conselho.

Quem abraçou o Brasil nesta o fez por puro interesse, que é o meio natural das relações entre países, esperando – e muitas vezes obtendo – alguma vantagem do Brasil em troca.

Imersos em um pensamento terceiro-mundista (como se existisse ainda tal divisão), fizeram o país silenciar ou apoiar as piores ditaduras do mundo.

Tais ditaduras usaram a popularidade do nosso ex-presidente para fazer as famosas “fotos de propaganda”, em que o Tirano abraça o inocente útil (Lula) para dar alguma legitimidade ao seu regime.

O mais lamentável foi permitir um amistoso da seleção brasileira de futebol no Zimbábue, permitindo ao louco que arruinou o páis tirasse uma casquinha da popularidade daquela.

Saudade de um diplomata de verdade como foi Luiz Martins de Souza Dantas.

Quem foi ele? Foi um sujeito que, em plena Ditadura Vargas, simpática ao nazismo, CONTRARIANDO ORDENS DIRETAS, concedeu centenas de vistos a judeus para salvar suas vidas.

Em comparação, no Egito a embaixada dizia a brasileiros que não tinha um plano de remoção e que esperava ordens de Brasília.

Souza Dantas salvou comprovadamente 475 pessoas de morrerem em campos de extermínio. Foi o Oscar Schindler brasileiro.

Isto sim é diplomata. Isto sim é brasileiro.

Não os barbudinhos politizados que mandam o Itamaraty hoje.

Rodrigo
Rodrigo
13 anos atrás

É bom que os gringos nos vejam assim, pois reconhecem a importância e tamanho do Brasil.

O problema está aqui dentro no nosso Governo, na nossa cultura que é tolerante com a corrupção, descaso e etc.

O estrago que o “Itamaraty do B”, na minha visão será rapidamente deixado para trás caso a atual gestão seja eficiente.

Para mim, isto não significa um alinhamento automático com os gringos, grays ou quem aparecer.

Sou um fã do modelo chinês, indiano, coreano do sul de desenvolvimento, não de Governo.

São países que vão conquistando avanços substanciais, com o passar do tempo e a tendência é que cada vez menos necessitem de auxílio externo para evoluírem.

Estes países tem em comum que não fazem a menor questão de pisar em ovos na defesa dos seus interesses.

Da para imaginar a Bolívia tomando uma refinaria dos chineses ou o Paraguai, querer renegociar contratos válidos e assinados com os indianos sem ficarem com a devida resposta?

O problema é que estes países iniciaram os seus programas de desenvolvimento DÉCADAS atrás e nós seguimos na mesma letargia e leniência de sempre.

Wagner
Wagner
13 anos atrás

Bobagem !! Somos uma potência !! temos ago9ra 30 milhões na classe média !! Todos agora podem comer frango !! Ninguém mais aqui tem vergonha de morar na favela !! Nunca antes na história desse país tivemos uma economia tão perfeita !

Eu acredito em tudo o que o governo diz !!! Então, se somos uma potência, eu ouvi na voz do Brasil, táá !!! Com as noassas mais modernas fragatas inglesas dos anos 70, com nossos mais modernos f 5 , nossos tanques sobre rodas de última geração da engesa !!!

AH AH AH AH AH AH AH !!!!! 🙂 🙂