Tropas brasileiras deveriam deixar o Haiti
Mark Weisbrot
O Brasil deveria começar a defender os direitos humanos pelo lugar em que exerce a maior influência, que, hoje, são as tropas da ONU no Haiti.
A declaração da presidente eleita Dilma Rousseff, neste mês, de que fará o Brasil se opor às violações dos direitos humanos no Irã foi recebida aqui em Washington com certa animação. É evidente que o Departamento de Estado não enxerga essas coisas sob uma perspectiva humanitária, mas utiliza os direitos humanos como arma política para promover o ódio contra os alvos de sua preferência.
Mesmo assim, a politização dos direitos humanos por parte de Washington não é motivo para um país como o Brasil se abster de defender os direitos humanos em todo o mundo, de maneira movida por princípios, e não política.
Mas também o Brasil deveria começar pelo lugar em que exerce a maior influência; no momento, esse lugar é o Haiti, onde o Brasil chefia a missão militar da ONU (a Minustah) que ocupa o Haiti.
Essa missão teve legitimidade questionável desde o início, quando foi enviada ao Haiti depois de o governo democraticamente eleito do presidente Jean-Bertrand Aristide ter sido derrubado em um golpe de Estado em 2004.
O golpe foi resultado direto dos esforços dos EUA para derrubar o governo de Aristide. Membros do governo constitucional foram postos na prisão e milhares dos partidários do governo foram mortos.
A Minustah desenvolveu uma reputação de brutalidade e violações dos direitos humanos, que incluem a invasão de um dos maiores bairros pobres do Haiti, em julho de 2005, deixando dezenas de civis mortos ou feridos.
Neste mês, o Haiti promoveu eleições presidenciais, financiadas pelos Estados Unidos, das quais o maior partido político foi excluído.
Foi o equivalente a promover uma eleição no Brasil sem permitir a participação do PT ou do PSDB. As eleições também foram maculadas por fraudes e pela ampla exclusão de eleitores.
Basicamente, a Minustah veio tomar o lugar, como força repressora, do odiado exército haitiano, que o presidente Aristide aboliu. Washington não permite que haja democracia no Haiti, porque os haitianos inevitavelmente escolheriam um governo de esquerda.
Telegramas divulgados recentemente pelo WikiLeaks ilustram que o objetivo de Washington é manter o controle sobre o governo do Haiti e, especialmente, sobre suas relações exteriores.
Por que o Brasil deveria participar da negação de direitos humanos e democráticos básicos do Haiti? E, para agravar a situação ainda mais, a Minustah provocou uma epidemia de cólera que já matou 2.400 pessoas e contaminou mais de 109 mil, provavelmente devido à negligência criminosa e grosseira de despejar dejetos humanos no rio Artibonite. Milhares de haitianos foram às ruas para exigir que as tropas da Minustah deixem o país.
A Minustah custa mais de US$ 500 milhões por ano, sendo que a ONU não consegue levantar nem um terço desse valor para combater a epidemia que a própria missão causou. E agora ainda pede aumento dos recursos para a Minustah, para além de US$ 850 milhões.
Organizações e líderes políticos progressistas, incluindo a maior confederação sindical -a CUT-, o MST e líderes políticos do PT, como Markus Sokol, pediram que o Brasil retire suas tropas do Haiti.
Dilma deveria dar ouvidos à sua base e à população do Haiti, que não pediu esse exército de ocupação, que não tem razão legítima para estar lá.
Como afirmou a CUT, o Brasil deveria “enviar médicos e engenheiros, não tropas de ocupação”.
MARK WEISBROT é codiretor do Centro de Pesquisas Econômicas e Políticas ( www.cepr.net ), em Washington, e presidente da Just Foreign Policy
FONTE: CCOMSEX/FSP
Vejo esta participação do Brasil importante como forma de intercâmbio e aquisição de experiência internacional para os nossos militares. Entretanto, creio que a situação atual demande uma revisão do novo governo, se ainda é necessária a manutenção deste efetivo no Haiti. Me parece que o desgaste junto à população é alto e os resultados não são satisfatórios. O Haiti é um país caótico, complicado, os americanos são quem entendem bem aquele país (nem os franceses, colonizadores, quiseram saber deste “pepino”). Deixem esse ônus com eles, não há nenhum laço afetivo, histórico e comercial relevante com o país mais miserável das… Read more »
Mark Weisbrot da Just Foreign Policy huh… Nao precisa falar mais nada….
Tirando os argumentos comunistóides dos autor.
Eu também acho que já passou da hora do Brasil tirar o time do Haiti. Fizemos o possível, cumprimos a missão, só que o Brasil não é capaz de sozinho carregar o país nas costas e bancar a sua reconstrução.
Se a comunidade internacional e nem os seus vizinhos se importam em ter um Haiti estável, não seremos nós os salvadores deste miserável país.