SAGEM Felin 2

O programa de modernização do soldado francês

vinheta-especial-forteO programa de modernização do soldado francês, conhecido como Felin (Fantassin a Equipaments et Liaisons Integres), acrônimo para “Infantaria integrada com equipamentos de data-link”, está pronto para a produção em massa. Pelo menos até 2013, quando o sistema terá de ser modificado, porque o Ministério da Defesa francês resolveu vender algumas bandas de rádio militares, incluindo a faixa de 802-862MHz, usada pelo Felin.

A mudança de frequência que terá de ser feita posteriormente elevará ainda mais os custos do programa, mas não se sabe quanto.

Até 2015, a Sagem, fabricante do sistema Felin, planeja entregar 22.588 sistemas. Enquanto isso, quatro regimentos receberão 1.000 sistemas cada em 2010, usando a frequencia atual de 802-862MHz. Até agora, 358 sistemas de pré-série foram entregues ao Exército Francês para avaliação e 250 tem sido usados desde o início de 2009 em avaliações táticas em Djibouti, sob calor em clima desértico e na Guiana Francesa, com calor e umidade.

Scorpion

O Felin é, como seu congênere americano “Land Warrior”, “um sistema centrado no homem para o campo de batalha centrado em redes”. Ele é parte integrante um conceito maior, o Scorpion (ilustração acima), que congregará todas as plataformas do Exército Francês. O Felin é integrado a três plataformas da infantaria, o blindado VCBI, o VAB e o AMX 10P, utilizando recarregadores móveis e kits de integração nos veículos.

O Felin foi desenvolvido com a ajuda do “feedback” da tropa. Os principais desafios técnicos foram a redução do peso, do consumo de energia, a ergonomia e problemas de ordem cognitiva e física. Com o equipamento, que inclui alças óticas, vestimenta e equipamentos de C4I (Comando, Controle, Comunicações e Inteligência), cada soldado fica conectado ao comando e situado no campo de batalha.

Soldados mais velhos tiveram dificuldade para se adaptar ao sistema, mas para os mais jovens, da geração que cresceu jogando videogames e utilizando a tecnologia digital, a adaptação foi fácil.

O Felin tem 150 componentes, incluindo 73 itens básicos, em 5 versões: patrulha, NBC, balístico leve, combate de alta intensidade e balístico pesado. Um soldado totalmente equipado, com um fuzil Famas, suprimentos de comida, água e munição, levará uma média de 70 itens pesando 25kg.

SAGEM Felin 1

Felin Battle Management System

felin_20Demonstrações feitas com soldados equipados correndo, saltando, rastejando e disparando armas, mostraram que o peso não é um problema, já que ele é distribuído pelo corpo do soldado.

A proteção balística do Felin é modular e pode ser customizada de acordo com a missão. O uniforme suporta até 11 equipamentos eletrônicos portáteis, como bateria para o computador, rádio, interface homem-máquina, sistema de informações táticas e o sistema de informações em rede.

Os equipamentos podem ser distribuídos em bolsos pelo soldado, de acordo com sua preferência. O capacete compreende 13 itens, incluindo óculos anti-laser, visor anti-estilhaços, alça de mira para visualizar esquinas, NVG e osteofone (que habilita o soldado a ouvir ordens através do osso próximo ao ouvido, deixando seu ouvido livre para escutar sons ao seu redor).

O novo capacete leve fornece proteção balística e está equipado com um visor monocular Sagem optrônico, com câmera de intensificação de luz. O capacete tem duas telas LED, de 3 cm² cada. As alças óticas dos fuzis estão ligadas ao sistema de comunicações. Alvos visualizados pelas alças podem ser transmitidos digitalmente em tempo real para a rede do Felin.

Os soldados podem levar seu suprimento de água, numa garrafinha nas costas, equipada com um canudo flexível.

SAGEM Felin 3

O Felin foi testado na Guiana. Em condições normais, o alcance do rádio é de 1.000m em terreno aberto, 600m em áreas urbanas e 100m dentro de construções. Sabe-se que, quando o Felin passar a usar uma frequencia mais alta, seu alcance dentro da mata cairá ainda mais, pois quanto mais alta a frequencia, maior a atenuação na floresta.

SAGEM FELIN2

Cobra Felin?

felin1-375x420O programa do soldado do futuro ou COBRA (Combatente Brasileiro) deverá se basear no projeto francês. O COBRA poderá ser desenvolvido com parceria francesa para equipar unidades de infantaria do Exército Brasileiro.

A entrada em serviço desse equipamento no EB deverá quebrar muitos paradigmas operacionais e organizacionais, fazendo com que o Exército valorize seu instrumento mais importante, o soldado. O sistema aumentaria de forma gigantesca a efetividade e proteção da infantaria em todas as áreas, incluindo observação, comunicação, comando, coordenação e engajamento.

Certamente o Felin não é um equipamento para ser usado por recrutas, mas por soldados profissionais, com alto preparo técnico.

Controvérsias

Com a tecnologia disponível no Felin, será possível em futuro próximo termos o seguinte cenário: soldados são atingidos durante uma emboscada por forças opostas em uma zona de batalha urbana. O relatório médico de ferimentos e o estado das funções críticas do corpo dos homens feridos, medidos por sensores, são imediatamente transmitidas para o posto de comando. Lá, o comandante da companhia pode monitorar as funções cardíacas dos seus soldados e a pressão arterial em tempo real.

Mas alguns soldados experientes dizem que informações como essas não deveriam ficar disponíveis para o alto comando, já que os combates normalmente são ganhos por quem está na linha de frente, no calor da batalha, independentemente da situação dos homens.

Por outro lado, soldados que já experimentaram o Felin dizem que preferem ir à guerra com ele e que não gostariam de ter de enfrentar um inimigo equipado com o mesmo sistema.

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Walderson
Walderson
15 anos atrás

Muito legal o post.
Imaginem o que não virá por aí, à medida em que a nanotecnologia desenvolver-se.
Espero que o EB tenha algo parecido.

Um abraço a todos.

Flavio De Paula
Flavio De Paula
15 anos atrás

se a parceria com o Brasil for assinada, vão surgir centenas para falar que é ruim, por ser francês.

Felipe Cps
Felipe Cps
15 anos atrás

Bem pessoal é o seguinte, refleti bastante antes de comentar esse post:

EXÉRCITO JABOTICABA:

Basicamente, temos atualmente dois tipos de Forças Terrestres no mundo: as “baratas” e as “caras”.

As baratas, imensa maioria, são compostas de recrutas ou convocados, armados de forma simples, pouco equipadas, pouco treinadas e mal pagas. Sua força reside no número de tropas à disposição. Exemplos: China, Coréia do Norte, Índia, etc.

As caras são profissionais, altamente treinadas, extremamente bem equipadas. Sua força reside na sua qualidade e equipamento, que lhe conferem resistência em combate. Exemplos: EUA, GB, Israel (apesar do serviço obrigatório, uma força profissional), etc.

Qual a melhor fórmula? Essa pergunta não tem uma resposta fácil. Portanto vou me arriscar a dizer que essa disputa ainda não terminou, e que até agora está empatada. Ainda não tivemos um grande conflito entre uma fórmula e outra, para afirmar em um ou outro sentido. Mas há indícios que apontam para a prevalência ora de uma ora de outra: o Afeganistão e a Geórgia, guardadas as peculiaridades e as proporções, são exemplos de emprego, o primeiro, de uma força “cara” e o segundo de uma força (relativamente) “barata”.

Mas o fato é que, se é verdade que ninguém pode fazer frente ao US Army com sua tecnologia e suas tropas extremamente bem treinadas, equipadas e organizadas (sem esquecer das demais forças terrestres dispersas: USMC, etc.) é igualmente verdade que tampouco há quem possa enfrentar o poderoso Exército de Libertação Popular chinês, com seus quase quinze milhões de conscritos mobilizáveis. Para não se falar na guerra irregular e no terror de todos os estrategistas: a guerra urbana, ambos exemplos de combates mais hodiernamente empregados (e que serão cada vez mais usados por forças na defensiva), e que diminuem muito, tanto as vantagens tecnológicas, quanto as meramente numéricas.

Bem, mas ao que interessa: e o Brasil?

O Brasil tem uma Força Terrestre jaboticaba: produto genuinamente nacional, não é nem uma coisa nem outra. Não se decidiu ainda. Está na perigosa posição em cima do muro, no meio do caminho.

Possuimos algumas ilhas de excelência, altamente treinadas e relativamente bem equipadas, ao passo que a maioria da Força é de recrutas. Os quadros (oficiais e sargentos) do Exército Brasileiro são em regra profissionais, ao passo que cabos e soldados normalmente recrutas, às vezes profissionais porém, neste caso, de alta rotatividade (permanecendo por no máximo quatro a cinco anos). Cabos e soldados mal pagos e mal treinados, que normalmente só se engajam na Força por absoluta falta de perspectiva. Nível de instrução extremamente baixo.

Para piorar, os sucessivos governos, imbuídos de ideais nem sempre muito realistas, não compreenderam ainda que uma Força Armada é o instrumento político último, para ser utilizado em uma guerra ou, com parcimônia, numa grave convulsão política ou social. O poder político brasileiro insiste na idéia de um exército construtor de estradas, de um exército difusor de riqueza, de um exército equalizador de injustiças sociais, de um exército proprietário de terras, de um exército pesquisador e produtor de bens.

Curiosamente, abra-se aqui um parêntese, recusa-se a entender o Exército Brasileiro como uma força de segurança pública, função que, esta sim, lhe poderia ser atribuída, até por autorização constitucional. A leniência dos governos com a questão de segurança pública, e a resistência à utilização do Exército Brasileiro em tal função, só pode ser atribuído ao revanchismo de gente retrógrada e motivada por ideais outros que não o amor à pátria, temerosa de que um Exército bem sucedido (como sempre que se-lhe atribuiu alguma tarefa) na missão de acabar com o tráfico de armas e drogas poderia se ver tentado a tomar, novamente, o poder. Feche-se parêntese.

O Exército Brasileiro deixa assim de ser uma Força Armada pura e simples para encampar uma série de funções estatais, mormente nos longínquos rincões da nação-continente, que a ele não caberiam, mas sim a outros órgãos.

Nesse quadro, vemos que tanto a Estratégia Nacional de Defesa, quanto a Estratégia Braço-Forte, apenas repetem tal erro político. A verdade é que o Brasil ainda não se decidiu por uma ou outra fórmula, de maneira que há como se dizer que não temos uma Força Terrestre, ou a temos capenga, para um ou outro lado: não temos a qualidade humana, o treinamento e o equipamento dos grandes exércitos profissionais; e ainda que como país de 190 milhões de habitantes nos sobre contingente, por pura falta de bom senso, que redunda na escassez pura e simples de verbas (até para o “rancho” da tropa), não temos os esmagadores números dos imensos exércitos de conscritos.

Porém demos essa volta toda para dizer que, antes de decidir se o Brasil quer um dia um ter um sistema como o Sagem Felin, um sistema COBRA (Combatente Brasileiro), precisa decidir que tipo de força combatente quer. Vamos adotar o sistema “caro” de Exército numericamente menor, porém extremamente bem treinado, bem equipado e bem pago? Aí sim, compensa investir num sistema desses.

Ou iremos nos aproveitar de nossos números e manter um exército de conscritos, equipados apenas com “fuzil e capacete”, e minimamente treinado, mas que realmente tenha números para dissuadir eventuais inimigos? Nesse caso um sistema de armas desses é prescindível e supérfluo.

Ou iremos continuar apostando no Exército Jaboticaba?

Um abraço a todos e desculpem pelo alongado do texto.

Marine
15 anos atrás

Felipe Cps,

Gostei do seu post mas infelizmente ando sem tempo de adicionar muito com devida atencao. Gostaria apenas de salientar que conflito grande entre exercitos profissionais e conscritos houve sim em tempo recente na primeira Guerra do Golfo.

Guardadas as devidas proporcoes o exercito iraquiano era o quarto maior do mundo com equipamento numeroso e de relativa alta qualidade sendo esmagado por uma coalizacao em sua maioria profissional e bem treinada, possuindo tudo aquilo de citado por voce como exemplo do outro bloco de exercitos.

Semper Fidelis!

Bosco
Bosco
15 anos atrás

Interessante o ‘osteofone’.
Há sistemas de comunicação que estão sendo desenvolvidos que usam a voz silenciosa. A movimentação gerada pelos músculos da traqueia quando falamos sem emitir som é suficiente para gerar sons no fone de ouvido de outra pessoa. Com isso se permite que haja comunicação vocal de um grupo tático sem que haja a emissão de sons audíveis.
É claro que os usuários do sistema devem treinar para conseguir que o mesmo funcione à contendo.
Esse tipo de comunicação irá revolucionar até mesmo a comunicação civil.
Sócios em uma reunião poderão num futuro próximo discutir entre si sem serem percebidos pelos outros membros da mesma. Só pra citar um exemplo.
Um abraço a todos.

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12 anos atrás

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