De país ‘do futuro’, Brasil se tornou ‘país do presente’, diz editor da ‘Economist’

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Michael Reid lançou no país livro sobre a AL. Para jornalista, país ganhou reconhecimento em comércio e diplomacia

Autor do recém-lançado “O continente esquecido – a batalha pela alma latino-americana” (Editora Campus/Elsevier, R$ 92), o jornalista Michael Reid, editor para as Américas da revista britânica “The Economist”, percebe uma clara mudança da imagem do país no cenário mundial.

“O Brasil deixou finalmente de ser o país do futuro para ser o país do presente, fazendo frente às expectativas”, afirmou, em entrevista ao G1, por telefone, desde Londres.

Reid, que cobre assuntos relacionados à América Latina há mais de duas décadas e morou em São Paulo por três anos, nos anos 90, afirma que o governo Lula tem se mostrando “mais assertivo internacionalmente”.

Para ele, o Brasil tem sido reconhecido em áreas como comércio e diplomacia, ganhando contenciosos na Organização Mundial do Comércio (OMC) e exigindo mais espaço em organizações como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e em agências da Organização das Nações Unidas (ONU).

O editor da “The Economist” diz também que, embora a sigla BRIC (grupo de países emergentes que reúne Brasil, China, Índia e Rússia) tenha elementos de uma ferramenta de marketing, o país se tornou um mercado cada vez mais importante para diversas nações. Além disso, ao longo dos próximos 20 anos, diz ele, o Brasil terá papel importante dentro da economia mundial.

Efeito Chávez

Apesar de o Brasil ter se tornado mais importante economicamente nos últimos anos, o especialista em América Latina diz que, na hora de fazer “barulho” no cenário internacional, o personagem principal da região é o venezuelano Hugo Chávez, e não o brasileiro Lula.

Um dos argumentos do livro, aliás, é justamente esse: Chávez não representa as mudanças mais importantes que ocorreram recentemente na América Latina.

“Há uma mudança (mais) importante, que é a a gradual emergência e consolidação de democracias estáveis e economias de mercado”, diz Michael Reid, citando os exemplos de Brasil, Chile, México e Colômbia.

A associação entre Chávez e a América Latina é tanta que, inicialmente, o editor do livro do jornalista na América do Norte queria que o líder venezuelano tomasse a capa de “O continente esquecido”.

Depois de alguma negociação, o jornalista conseguiu um compromisso: na edição em inglês, o livro traz uma fotografia dos edifícios de São Paulo em contraponto com a imagem de Hugo Chávez discursando em uma favela.

Na edição brasileira, a referência a Chávez desapareceu: a capa é dividida entre edifícios modernos de uma grande metrópole e as favelas ainda muito comuns nos países latino-americanos.

Brasil e Venezuela

No que diz respeito à Venezuela, o jornalista diz que o Brasil terá que, no curto prazo, tomar uma decisão sobre a natureza de sua relação com o país. “Chávez tem um projeto de longo prazo e existe um risco real de que o país deixe de ser uma democracia”, ressaltou Reid.

Ele lembra que, ao contrário de seus aliados mais próximos – como o boliviano Evo Morales e o equatoriano Rafael Correa – Chávez tem formação militar, o que pode ser considerado como uma ameaça extra aos direitos dos cidadãos. “Acho que a administração Lula tem se iludido sobre Chávez.”

O editor da “The Economist” também ressaltou também que as economias de mercado latino-americanas se adiantaram à crise mundial, implantando maior regulação em suas instituições financeiras.

A medida, antes criticada, virou regra nos países desenvolvidos depois que muitos bancos fizeram empréstimos sem lastro financeiro para uma eventual onda de inadimplência. “A regulação nos sistema financeiro é atualmente o novo consenso.”

Argentina

Entre outros “estudos de caso” da América Latina, Michael Reid cita a Argentina e o México. A economia argentina sofre, segundo ele, de uma histórica descontinuidade. Além disso, o país, de tempos em tempos, flerta “perigosamente” com o populismo. Isso faz com que o desenvolvimento da Argentina venha em ondas: expansões seguidas de períodos difíceis.

Neste momento de crise, o país enfrenta mais uma encruzilhada, pois, segundo ele, não fez o dever de casa para se proteger de um período de vacas magras.

“Depois do colapso da economia, (…) a Argentina enfrenta um novo período difícil”, ressaltou o jornalista, lembrando que o país não mexeu nas políticas fiscal e tributária e negligenciou a educação durante o curto período de expansão dos últimos anos.

México

No caso do México, Reid diz que a forte dependência dos Estados Unidos e a manutenção de monopólios pouco eficientes – como a Pemex, descrita por ele como “bem menos eficiente que a Petrobras” – impedem que o país aproveite melhor as reformas já feitas em seu mercado.

“Esses monopólios levam à falta de competição e inovação”, diz o jornalista. O país que deve ter uma forte recessão neste ano, com retração de 3,7%, segundo o FMI. Para o ano que vem, a economia mexicana deve voltar a crescer, com expansão prevista de 1%.

Entretanto, ele diz que o México está bem equipado para uma eventual retomada da atividade econômica, beneficiando-se naturalmente de uma recuperação mais rápida dos Estados Unidos.

“(O país) tem um formato econômico forte, regras claras para a economia e suas instituições vão muito bem, embora mais reformas estruturais sejam necessárias.”

FONTE: G1 / COLABOROU: José Adriano

NOTA do BLOG: É inegável que o Brasil avançou nos últimos anos. Mas é uma pena que o País, apesar de ter se tornado um gigante econômico, ainda continue a ser um anão militar. Enquanto nossos políticos não aprenderem que o poder militar tem que acompanhar o poder econômico de uma nação, continuaremos a ser coadjuvantes no cenário internacional. Como disse Henry Kissinger: “Diplomacia sem o respaldo de poder militar é mero exercício de retórica”.

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Ulisses
Ulisses
15 anos atrás

Bom,apesar de AINDA não termos uma força militar respeitável,acho que estamos no caminho para tal.

Hornet
Hornet
15 anos atrás

Eu acho que o Brasil tende a equilibrar sua atual importância econômica no mundo com uma maior importância política nos próximos anos. É um processo que, tudo indica, não tem mais volta. E é essa crescente importância econômica e política que garantirá uma maior capacidade de Defesa ao país. As coisas não podem ser deslocadas, na minha opinião. Será o fortalecimento econômico e político (em âmbito internacional) que nos obrigará a termos um sistema de Defesa mais eficaz. Quem coloca as armas na frente da economia e da política coloca a carroça na frente dos burros. Estamos cheio de exemplos… Read more »

Hornet
Hornet
15 anos atrás

em tempo: na verdade, política internacional e defesa caminham juntas.

a metáfora da carroça na frente dos burros se referia à política interna. Primeiro tivemos que fortalecer nossa democracia interna, para depois pensarmos em voos mais altos. E é isso que está ocorrendo no Brasil atual.

abraços a todos

Marine
Marine
15 anos atrás

Hornet,

Concordo com vc amigo e com a nota do blog, com certeza estamos nos encaminhando mas devemos ter paciencia pois ha muito o que fazer ainda, bom assim pois a jornada dificil e aquela que vale a pena.

Sds!

Hornet
Hornet
15 anos atrás

amigo Marine,

sem dúvida!

E acho que neste jogo internacional que o Brasil está jogando, a paciência é a chave do sucesso. E paciência não quer dizer inércia. Temos muito o que fazer ainda, como vc bem disse, mas acho que aos poucos estamos conseguindo subir os degraus da longa escada…

abração

ps. Estive no xat (Naval) no sábado, pena que vc não estava lá! Fiquei conversando com o MO e o Cinquini…quem sabe sábado que vem a gente não bate um papo por lá…

Vassili
Vassili
15 anos atrás

Hornet,

Que legal que vc tenha passado pelo Xat Naval. Sempre que posso, estou lá, conversando com a galera.

Obs: Depois das 18:00hs, pois saio do trampo às 17:00.

abraços.

Hornet
Hornet
15 anos atrás

Vassili,

geralmente faço isso no sábado…durante a semana fica ruim por causa do trampo e da patroa (ela não deixa eu ficar horas seguidas no computador…quando eu faço isso arrumo encrenca com ela depois, e das brabas…kkkkkk).

Mas de sábado a noite (geralmente depois das 11 horas, que é quando a “bagunça” na minha casa acalma) sempre dou uma passadinha por lá, no xat (naval, terrestre ou aéreo…onde tiver alguém on line)…

vamos bater um papo por lá uma hora dessas…vc costuma dormir cedo de sábado?

abração cumpadi!