Lutando pela superioridade moral
Um verdadeiro líder entre muitos heróis no campo de batalha
Num típico dia quente e árido em maio de 2006, na cidade de Ramadi – Iraque, o capitão Brian Letendre, instrutor de táticas de infantaria da equipe de transição militar (MiTT), estava ajudando com o comando e controle de uma companhia iraquiana.
Conhecido por sua agressividade e coragem, Letendre foi um dos primeiros membros da equipe a sair em patrulhas com a unidade iraquiana. Letendre ansiava pela missão e informou sua esposa que estaria longe de telefones e e-mails por alguns dias. Antes de sair da FOB, ele encontrou um minuto livre e enviou um e-mail para ela e seu filho, terminando com as palavras “AMO A AMBOS!”
Momentos depois da chegada de Letendre, o posto de observação iraquiano (OP), foi alvo de um ataque fulminante e complexo. O capitão Letendre avaliou a situação e saiu do centro de operações de comando para ajudar a companhia iraquiana, recebendo fogo de armas pequenas e de morteiro inimigo. Simultaneamente, um grande caminhão de lixo cheio de explosivos conseguiu entrar no portão oeste do posto de observação. Letendre e outros, expondo a si mesmos ao fogo inimigo, engajaram o motorista e pararam o caminhão bomba. Os explosivos no veículo detonaram, fazendo uma bola de fogo e onda de choque colossal, a poucos metros do alvo que o motorista tinha a intenção de atacar, o alojamento do Exército Iraquiano. Letendre continuou provendo fogo de cobertura e a repelir o assalto com dois outros membros da equipe americana e forças iraquianas.
Minutos após a explosão do caminhão bomba, um morteiro inimigo explodiu perto da posição de Letendre, arremessando-o vários metros. Ele morreu instantaneamente. A ação decisiva e liderança do capitão Letendre contribuiu para salvar a vida de mais de 40 soldados iraquianos, que estavam naquele alojamento.
Eu conheci Brian Letendre quando tínhamos apenas 8 anos de idade. Nós estávamos na mesma liga de futebol de 1986, eu e meu irmão gêmeo nos tornamos amigos de Brian. Nós três passamos os próximos anos praticando esportes, brincando ou arrumando confusão. Estudamos na mesma escola de segundo grau. Brian era um líder natural. Era muito agressivo e confiante, mas também tinha um enorme sentido de caráter moral e propósito. Durante nossa infância e adolescência, nós tínhamos os mesmos sonhos de um dia nos tornarmos Marines. Brian sabia que ele gostaria de liderar na linha de frente um dia. Nossos sonhos de infância tornaram-se realidade em 2000, quando nós três recebemos nossas comissões de 2o. Tenente no USMC.
Depois de ir à “Escola Básica” e casar com sua namorada de universidade, Letendre começou um ciclo de deslocamentos constantes como um jovem tenente. Durante a fase inicial da OIF, Letendre foi o comandante do pelotão conjunto anti-blindado (CAAT) do 1st/2nd Marines. Enquanto Letendre cruzava a fronteira do Kuwait em direção ao Iraque, naquela madrugada sua esposa dava à luz a seu filho Dillon. Descrevendo aquele momento surreal durante uma palestra no Memorial Day, a um grupo 4 anos atrás, ele disse:
“Pela primeira vez percebi que não era mais só eu que tinha que sacrificar tudo, mas também minha esposa e meu menino que estavam sacrificando o marido e pai deles pelo seu país e a liberdade de um país estrangeiro.”
Com o batalhão, Letendre lutou na batalha de An Nasiriyah, uma das mais sangrentas na OIF I. Ainda assim, seu desejo de servir o país e a uma causa maior do que a seus próprios interesses nunca foram abalados. O Capt. Letendre não tinha que voltar para o Iraque para um segundo deslocamento. Ele poderia ter sentado confortavelmente em uma posição de não deslocamento após ter servido no Iraque, um deslocamento a Okinawa e um outro, com um destacamento de segurança de prisioneiros em Guantánamo. Ainda assim, Letendre não hesitou quando ficou sabendo que os Marines foram solicitados nas novas equipes MiTT, e rapidamente se voluntariou. Letendre disse à sua esposa que ele queria “voltar para que seu filho não tivesse que ir um dia“. Coragem, humildade e sacrifícios pessoais me vêm à mente quando penso no seu serviço ao Corpo de Fuzileiros Navais, especialmente numa época em que o nosso país mais precisava.
Como líderes, estamos sempre competindo pelas mentes e corações de nossos jovens Marines em uma cultura americana que está movendo para longe de valores e morais tradicionais. A sociedade de hoje quase sempre glamoriza uma imagem imoral e egoísta, com mensagens como “O que acontece em Vegas, fica em Vegas”; “A vida é curta, divorcie-se” e filmes e TV que rotineiramente promovem a degradação da família, falta de respeito com as autoridades e relutância em aceitar a responsabilidade pelas próprias ações. É nosso imperativo moral como oficiais, sargentos e Marines, colocar um maior nível moral e de ética para aqueles ao nosso redor. O mundo sabe que nós como Fuzileiros somos o ápice dos guerreiros, mas nós também devemos continuar a honrar os princípios morais dele nas nossas famílias e comunidades.
O Capt. Letendre acreditava em um proposito muito maior do que si mesmo. Colocou sua fé e família primeiro e jamais faria algo dentro ou fora do dever que afetassem seus princípios morais. Sua família está sempre falando de como era um grande marido, pai, filho e irmão, sempre disposto a colocar as necessidades de sua família antes das dele. Antes do seu deslocamento ele explicou à esposa como continuar a vida se ele morresse. Disse que ela deveria:
“…não ficar com raiva, mas saber que ele estava fazendo o que amava e o que sabia que era certo. Não desperdice lágrimas por causa dos que protestavam pelo que ele fazia, pois por mais doloroso que seja, a voz deles também faz parte da liberdade pela qual lutava…”
O Capitão Letendre deixou um filho de 5 anos e sua esposa. Eu durmo bem à noite sabendo que existiam e existem homens como ele servindo no nosso Corpo e anseio pelo dia que possa contar ao seu filho histórias da coragem, força e convicção moral de seu pai. Ele é um verdadeiro herói, não só pela sua coragem no campo de batalha, mas também pela maneira que viveu sua vida – sempre lutando para ser uma pessoa de caráter.
Enfim, ele atingiu o que muitos líderes extraordinários buscam – uma missão cumprida e uma família que jamais se esquecerá do quanto ele os amava.
Por capitão David Bann – artigo publicado no Marine Corps Gazette, publicação oficial profissional dos US Marine Corps, tratando de tradições, história, lições aprendidas, táticas e estratégias para o futuro.
NOTA do BLOG: O capitão Brian Letendre foi comandante do leitor e comentarista “Marine”, que traduziu o texto para o Blog ForTe.
R.I.P. Capt. Brian S. Letendre.
De onde surgem homens assim???
Ainda mais quando se sabe que tinha esposa e filho, pois quando se é solteiro, parece-me mais logico esperar algo como ele fez.
Este mereceria ter seu nome adornando a popa de um futuro navio de guerra.
Como ele, existem outros milhares anônimos que fazem o seu papel pelo seu país.
É realmente uma pena o falecimento do oficial norte-americano, ainda mais tendo família.
Espero, e sou sincero, que o Iraque se torne uma nação próspera e estável. Não é com anti-americanismo gratuito que alguém pode desejar que um país inteiro deslize para a anarquia para provar o seu ponto.
A morte de milhares de iraquianos e norte-americanos (assim como britânicos e soldados de outras nações) não podem ter sido em vão.
O Marine me disse que eles foram juntos para o Iraque, apenas trabalharam (serviram) em cidades diferentes. O cap. Letendre ficou em Ramadi.
abraços a todos
Não apoio a guerra americana no Iraque, pois o modo como foi conduzido foi totalmente fora das leis internacionais, as quais os americanos insistem infringir.
Mas devemos honrar os soldados, que por muitas vezes dão suas vidas por suas nações mesmo que em guerras que não sejam as deles, mas que por honrarem sua farda e tradição, demonstram brio no campo de batalha, mostram força e carater mesmo face a morte, deixando em casa seus entes tão amados para morrer em solo tão distante, mas que foi acreditando que pode fazer sua parte para levar a paz a outros povos, que pode defender a liberdade, mesmo que para seu país isso seja algo um tanto relativo quanto a seus interesses, mas independente da nação o Capt. Brian S. Letendre merece as honras a que todo militar merece por cumprir sua missão mesmo tombando em batalha.
A estes homens é merecida toda honra, e que governantes vejam estes exemplos de honra e amor a bandeira e aprendam alguma lição com tamanha perda.
“Um verdadeiro líder entre muitos heróis no campo de batalha”
Essa frase me faz lembrar do que o major(aposentado)Richard Winters que serviu na 101°Airborne,Easy company disse uma vez.
“Não sou um herói,mas lutei em uma companhia de heróis”
Sds.
Estes “caras” sao normalmente modestos mesmo.
Quando estive no cemiterio de Arlington, visitando alguns “amigos”,
entre eles Audie Murphy, tinha uma vaga ideia de onde o tumulo dele estaria e demorei um pouco para encontrar pois tinha certeza que teria uma lapide diferente, maior…e para minha surpresa, a lapide dele era exatamente igual a de milhares de outras…a pedido dele.
Ele costumava dizer que os verdadeiros herois eram aqueles que tinham morrido.
abraços
“Os Heróis descansam em glória,os covardes carregam o peso da derrota”!
Dalton,
O Capt. Letendre tambem se encontra em paz em Arlington…
Semper Fi!
Ele matou também, então está tudo certo. Ele era um fuzileiro, cumpriu seu dever, morreu pelo seu país.
Guerra é isto mesmo, pessoas morrem. Familiares e amigos vão chorar dos dois lados.
May he rest in peace.
A morte de pessoas como o Capt. Letendre e os milhares de herois iraquianos que lutaram na resistência contra a invasão americana, infelizmente foram em vão, somente os magnatas do petróleo e da indústria bélica tiveram algum lucro com a Guerra, e talvez o povo iraquiano tenha tido como benesses apenas a deposição do ditador sadam hussein, mas a um preço gigantesco econômico, social e principalmente humano. Nada justifica a morte dessas pessoas, muito menos a da forma como esse guerra foi feita. Meus pêsames as famílias americanas pelos seus mortos e as família iraquianas pelos seus martirés.
Pobre soldado americano, morre para derrubar um ditador,até parece que existe um único ditador,Sudão 300 mil inocentes mortos,alguem fez alguma coisa.
So gostaria de pedir aos leitores e comentaristas que por respeito evitem fazer deste canto um assunto politizado…Que tenhamos um “post” de silencio.
Obrigado desde ja.
Semper Fidelis!
Marine,peço desculpa não foi essa minha intenção.um abraço.
Fico pensando, ele lutou e se foi pelo que acreditava. E aí eu lembro de uma conversa com um grupo de colegas de faculdade na época do início da invasão ao Iraque,sobre quem do grupo lutaria pelo país e somente eu e um primo dissemos que lutaríamos. Os outros riram e disseram que iriam pra outro país, se esconderiam e outras coisas. Desde então meu nacionalismo, tão grande desde de pequeno,a ponto de chorar pra ir nos desfiles de 7 de setembro nunca mais foi o mesmo.Meus pêsames as famílias que choram seus entes queridos.
Sem duvida nenhuma uma das mais belas historias sobre a formação de um estado nacional é a dos Estados Uniudos da América , infelizmente esta historia de luta pela liberdade parece ter se desviado dos trilhos em nome dos interesses das grandes corporações que hoje dominam não so os EUA como o mundo , mas são de homens como o Cap Letendre que forjaram a historia bonita dos EUA , sou radicalmente contra a Guerra do Iraque , mas os soldados que para lá foram lutaram pelo seu pais , eu gostaria também de poder ouvir o relato da resistencia iraquiana , que ao meu ver , não são todos terroristas , se bombardeassem minha casa , e matassem meus filhos , como eu ou vocês reagiriam?Que concepção de etica politico internacional ampara as vitimas das bombas americanas?E a dos filhos do Capitão?
Meus respeitos a todos os que lutam , dos dois lados.
Meus respeitos ao Marine que perdeu o colega.
Quem já serviu sabe que os laços que se formam no front não se desfazem jamais.
Saúde onde houver vida!
fullcrum, não fique surpreso e não desanime, vc escutou isso de um grupo de universitários, imagine então que já escutei isso de militares; infelizmente esse é a postura de uma boa parte do nosso povo, pois o nacionalismo brasileiro esta minado pela baixa consciência cívica e histórica do nosso povo, a nossa formação, com poucas grandes guerras, e pouco divulgadas fora dos meios acadêmicos, ou revertendo nossa posição de vencedores para vilões, como na Guerra do Paraguai e no Acre, consequentemente menos sangue derramado em sacrifício à nação, comparando-se a outras grandes nações. Aliados a duas ditaduras muito longas, no século XX, e o comportamento da maioria dos nossos governantes, em mais de um século, geraram essa postura individualista, onde a Lei de Gerson se sobressai.
Como esse valoroso Mariner, temos aqui muitos dos nossos policiais morrendo pela sociedade, e que essa mesma sociedade e de forma geral os depreza, bem como, o que é pior, seus governantes também não lhe dão o devido valor. Creio que nossa caminhada para uma maior consciência cívica ainda será longa, talvez de algumas gerações.
Não jogue a toalha, tem momentos realmente que dá vontade, mais é ai que tem que segurar, exemplo desse Mariner e tantos outros.
Com o advento da internet e da comunicação em massa muitas informações, erroneas ou não, “jogadas” para o grande público, mas a vantagem dessa comunicação global é que cada vez mais isso aproxima as pessoas, e hoje, a história de um herói anônimo nos foi mostrada mais de perto, tornando agora uma pessoa desconhecida numa pessoa conhecida e assim nos trazendo mais próximo dela e de quem sente a dor de sua perda.
Meus sentimentos a sua família, aos seus irmãos de armas e em especial ao Sr. Marine que perdeu um irmao e amigo.
Semper Fidelis
Valeu Noel, vou desanimar não, no futuro vou procurar educar bem meus filhos, acho que é o melhor fazer.
Foi tarde esse americano, não é melhor que nenhum iraquiano morto que não se sabe nem o nome.
Marine, nossos sentimentos a familia do Capt. Latendre
Aquele idiota chamado Caio (aquela franguinha do alistamento) seria bom ele ler isto
quanto ao comentario do amigo abobado ai em cima, ainda bem que nao foi ele, pois com este nipe ficaria um tremendo mal cheiro principalmeno se acertasse o amendoi… opa, digo o cerebro dele
panaca …
incrivel ne …
MO
MO,
Muito obrigado, nao esquenta nao…Tem gente que so fala isso atras do computador, la em Camp Lejeune nem pensar!
Semper Fidelis!
Políticas à parte, este capitão morreu como muitos outros soldados heróis de todas as nações que já se envolveram em guerras.
Afinal, heroísmo não pertence a somente um indivíduo, um povo ou nação. Isso, está incurtido no ser humano que preza pela liberdade individual do semelhante. Inclusive para aqueles que são chamados de corvardes por não ter “coragem de defender” a sua nação.
Lembrando que covardes também existem em qualquer lugar do mundo e em qualquer nação…
Nós, Brasileiros, já mostramos nossos valores como soldados. Espero sinceramente, não mostrarmos novamente. Más se preciso for, lá estaremos.
Podem ter CERTEZA…