Leia a entrevista feita pelo jornal Diário do Comércio

O General Augusto Heleno Ribeiro Pereira acaba de ser transferido do Comando da Amazônia para o Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército, sediado em Brasília. Ele desmente a suspeita de motivações políticas na medida.
Aos 61 anos, faltando apenas dois para entrar na reserva, o general Augusto Heleno Ribeiro Pereira acaba de ser transferido do Comando da Amazônia para o Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército, sediado em Brasília. Ele desmente a suspeita de motivações políticas na medida, mas reafirma nesta entrevista a necessidade de o País lançar um olhar mais atento para a região.

Diário do ComércioO senhor, como chefe do Comando da Amazônia, levantou no ano passado importante debate sobre problemas essenciais da região, inclusive a polêmica demarcação da Reserva Raposa Serra do Sol, com críticas à política indigenista oficial, que teve grande repercussão. A transferência para um posto em Brasília teria a ver com essas manifestações?

General Augusto Heleno – A transferência faz parte dos movimentos naturais dentro do Exército. Já são dois anos de Amazônia. No entanto, quero ressaltar que a Reserva Raposa do Sol é apenas uma das preocupações. Nossa preocupação principal é uma presença maior do Estado Brasileiro na Amazônia. Não que não tenham ocorrido ações nesse sentido. Mas no nosso entender foram em um grau modesto. Elas deveriam ser mais freqüentes, mais intensas e de maior vulto.

DC Quais são as bases de informações que justificam esse pleito?

General Heleno – Além de estudos variados, temos nossa própria experiência e também depoimentos de gente do Ibama, Polícia Federal, Receita Federal e Funai. Essas pessoas se queixam da falta de efetivos. A região tem dimensões continentais e há grande dificuldade de transporte e de comunicação. Esta situação favorece variados ilícitos transnacionais em prejuízo do Brasil.

DCÉ público e notório que temos sérios problemas com o narcotráfico, com o contrabando…

General Heleno – Estes são realmente os ilícitos mais sérios. Talvez a população brasileira não tenha noção exata da dimensão dessa ameaça em razão do isolamento da região. Nós temos 11.500 km de fronteira. Os Estados Unidos têm apenas 3 mil km de fronteira com o México e apesar dos modernos recursos que possuem, sofrem invasões constantes. Por esse dado, podemos imaginar o que acontece conosco. Acresce que temos 22 mil km de rios navegáveis, utilizados pelos criminosos transnacionais, eventualmente com auxílio de habitantes locais. A vulnerabilidade então é grande.

DC Esse apoio de moradores ao qual o senhor se refere levanta a velha questão da segurança na região. Como o senhor vê o problema?

General Heleno – Nos últimos 22 anos, o Exército fixou mais de 20 mil militares na Amazônia, sem que tenha aumentado o efetivo. Três brigadas – duas do Rio e outra do Rio Grande do Sul – foram transferidas para cá. Mas é importante dizer que os defensores da Amazônia devem ser os próprios amazônidas, os habitantes da região, no sentido de não serem cooptados pelos criminosos transnacionais. Daí a importância da promoção da saúde, da educação e das oportunidades de crescimento junto a essa população.

DC O senhor acha que falta uma espécie de plano diretor para a Amazônia?

General Heleno – Existem programas para a ocupação e desenvolvimento da Amazônia. Mas a minha experiência demonstrou que falta trabalhar as especificidades nesse manejo. A Amazônia da foz do rio nada tem a ver com o sul do Pará, que nada tem a ver com a área conhecida como “Cabeça de Cachorro”. Vou dar um exemplo tomando a preservação da floresta como referência. A Amazônia Oriental está desmatada, enquanto a Ocidental está preservada. A Oriental já tem uma rede de rodovias e de estradas vicinais; a ocidental tem ligações extremamente precárias. Cada situação exige políticas próprias, específicas.

DC E os índios? Como o senhor os vê dentro de um programa de desenvolvimento sustentável da Amazônia?

General Heleno – Os índios da região devem ter a melhor perspectiva de vida possível. Até porque são brasileiros índios; 80% do efetivo do Exército na Amazônia tem origem indígena. Temos batalhões inteiros formados por índios. O V Batalhão de Infantaria da Selva tem 23 etnias e ali, fora oficiais e sargentos, todos são índios. O prefeito da cidade de São Gabriel da Cachoeira, no sul do Amazonas, é índio.

Do Comando Militar da Amazônia para o Departamento de Ciência e Tecnologia

O general Augusto Heleno Ribeiro Pereira, o militar brasileiro hoje com maior experiência em combate, tem pela frente um novo desafio: deixar o fuzil de lado e armar-se de um caneta. O general foi transferido do Comando Militar da Amazônia (CMA) para um cargo burocrático no Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército, em Brasília. Aparentemente (veja entrevista acima), os motivos foram as diversas críticas que o militar vem fazendo à política indigenista do governo Lula, em particular à Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas, aprovada pela ONU com voto favorável do Brasil.
O general Augusto Heleno assumiu o comando do CMA no dia 7 de julho de 2007. O seu currículo é longo. Graduou-se pela Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) como oficial de cavalaria, em 1969. Quando coronel, foi adjunto da Casa Militar da Presidência da República; comandante da Escola Preparatória de Cadetes do Exército e Adido Militar na Embaixada do Brasil, na França e na Bélgica. Como oficial general, foi comandante da 5ª Brigada de Cavalaria Blindada do Centro de Capacitação Física do Exército e chefe do Centro de Comunicação Social do Exército. Ganhou notoriedade por ser o primeiro comandante, por um ano e três meses, da Força da Paz da Minustah, no Haiti. Antes de ser nomeado comandante Militar da Amazônia, desempenhava a função de chefe do gabinete do Comandante do Exército.
Dentre as condecorações que possui, destacam-se: Medalha da Ordem do Mérito Militar – Grande Oficial; Medalha da Ordem do Rio Branco – Grande Oficial; Medalha da Ordem Mérito Judiciário Militar Distinção; Medalha Militar de Ouro como Passador de Platina; Medalha do Pacificador; Medalha do Mérito Naval; Medalha do Mérito Aeronáutico; Medalha Marechal Hermes de Prata Dourada; Medalha da Ordem do Mérito da Forças Armadas-Cavaleiro; Medalha da Ordem da Defesa-Comendador.
No ano passado, durante o seminário “Brasil, Ameaças à Sua Soberania” , realizado no Clube Militar do Rio de Janeiro, o general afirmou que a política indigenista brasileira está na contramão da sociedade, conduzida à luz de pessoas e ONGs estrangeiras. O general também criticou a Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas, aprovada pela ONU com voto favorável do Brasil, que garante aos índios a posse e o controle autônomo de territórios por eles ocupados. “Segundo essa disposição, se um chefe ianomâmi resolver proclamar-se imperador, já que pode escolher o regime político, vamos ter de acatar sua decisão”, ironizou o general, na ocasião.
Essa declaração foi aprovada pela Assembleia Geral da ONU em 13 de setembro de 2007 sem a aprovação de alguns países, entre eles os EUA, Canadá, Austrália e Nova Zelândia. Alguns se abstiveram, como Colômbia e Argentina, mas o Brasil deu voto favorável. Por aqui, essa declaração ainda precisa ser ratificada pela Câmara dos Deputados e pelo Senado.
O texto prevê que os povos indígenas têm direito à livre determinação, à autonomia e ao autogoverno; que toda a pessoa indígena tem direito a uma nacionalidade, que não necessariamente a brasileira; que os povos indígenas têm direito a uma comunidade ou uma nação indígena.
Segundo o general Augusto Heleno, a declaração diz que os povos indígenas têm o direito de possuir, utilizar, desenvolver e controlar terras, territórios e recursos naturais, que não são mais do Estado brasileiro, e sim das comunidades indígenas, da nação indígena. São delas o solo, o subsolo e no futuro até o ar, pois se diz recursos, sem definir quais são.
A situação fica mais preocupante ao se olhar alguns números: 12% do território brasileiro pertence à comunidade indígena nacional, que representa apenas 0,2% da população brasileira; e 83% dessas terras estão nos Estados amazônicos.
Quase 22% do Estado do Amazonas são terras indígenas, quase 20% do Pará e 47% de Roraima também são ocupadas por reservas indígenas. A região da Amazônia é o maior banco genético do planeta, possui uma imensa biodiversidade, abriga 1/5 da disponibilidade da água, 1/3 das florestas e tem uma imensa riqueza em seu subsolo. Além disso, tem como característica o imenso vazio demográfico, com algumas regiões apresentando de zero a um habitante por quilômetro quadrado.
Com a demarcação contínua de terras indígenas, onde só é possível entrar com autorização, esse problema permanecerá, com especial preocupação para áreas que fazem divisas com outros países.
O maior exemplo é a reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, na fronteira com a Venezuela e a Guiana, uma área de 1,78 milhão de hectares – 12 cidades de São Paulo cabem nesta área – para em torno de 15 mil índios.
“As terras indígenas nas faixas de fronteira, se não forem convenientemente tratadas, poderão representar um risco para a soberania nacional. Estamos cada vez mais aumentando a extensão de terras indígenas na faixa de fronteira”, disse o general.
Para ele, há indícios de que algumas ONGs estão por trás da questão indígena, pois muitos índios não têm condições de formular reivindicações que fazem.
No Brasil, estima-se que estejam atuando mais de 280 mil ONGs, das quais 100 mil na Amazônia. Não há controle sobre as atividades dessas organizações e nem se sabe de onde elas recebem recursos para sobreviverem.

FONTE: Diário do Comércio

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VirtualXI
VirtualXI
15 anos atrás

Escostaram o homem. Colocaram esse guerreiro na geladeira.
Coisa do governo mula e das Mulas que o colocaram em Brasilia.
Enquanto existirem canalhas que votam em Mulas da vida o Brasil não vai para frente.
O resto é consequência do fato.

Mais um tapa na cara do exército brasileiro.
Saco de pancadas do Brasil.

Uma pena. Pois era a pessoa ideal para defender a Amazônia.
Ao Gen. Heleno, homem de inteligência nobre, fica minha admiração.

Valmor
Valmor
15 anos atrás

Sei não…! Esse é o “cara” que eu gostaria de ver por muito tempo na linha de frente do EB, mas…

Noel
Noel
15 anos atrás

Fazendo uma análise bem rasteira: um militar que fez sua carreira, basicamente, na área operacional, será encostado num comando técnico, tirando a oportunidade de alguém dessa área, e o EB perdendo, ou subutilizando, um comandante de campo.

João Curitiba
João Curitiba
15 anos atrás

É um problema. É um problema mesmo. Ainda vamos nos incomodar muito com a cobiça estrangeira sobre a nossa Amazônia. O mínimo que cada um de nós pode fazer é questionar o seu candidato na eleição do próximo ano sobre o assunto.

Liddell Hart
Liddell Hart
15 anos atrás

Lembro dele recebendo o comando das tropas no Haiti de um Genral americano.

Lembro dele dando uma AULA sobre índios para a FUNAI.

Lembro dele, e não o esquecerei, com querem os que o estão transferindo de posto.

Só há uma explicação, infelizmente, nesse caso. E não há muito o que dizer sobre isso. Informem-se sobre o tal “Forum de São Paulo”, e esses fatos (mais a Raposa Terra do Sol) se encaixarão.

marcelo
marcelo
15 anos atrás

vende logo a amazonia. ai acaba o pobrema.

Cassio
Cassio
15 anos atrás

Bom dia a todos
A postura, a coerência e o patriotismo do Gal. Heleno devem incomodar muito os lulas, jobins, tarsos, marco aureluio garcias, ongs e mst da vida.
É uma pena pois num país mais sério, uma pessoa como o Gal. Heleno seria um ótimo comandante o Exército ou Min. da Defesa.
Quando nosso (infelizmente) (des)governo acordar para a real situação da Amazonia pode ser tarde demais.

M. Torres
M. Torres
15 anos atrás

Para mim me parece mais uma manobra para reduzir o poder do Brasil sobre a Amazonia.
Tiram um defenssor linha dura e botam um cara mais alinhado com a filosofia do governo.
É muita coicidencia isso acontecer no mesmo momento em que o STF decreta demarcação continua para os indios.

Carlos Augusto
Carlos Augusto
15 anos atrás

As ONG’s que querem o atraso do Brasil, acham a parceria certa neste governo do “lula”, ONG para internacionalizar a Amazônia, ONG para travar o programa espacial brasileiro, tudo sobre o patrocinio do desgoverno ai presente.

RODRIGO
RODRIGO
15 anos atrás

Infelizmente,foi isso que deu terem anistiado a corja de comunistas
que hoje infestam Brasília…..!

Bonifácio
Bonifácio
15 anos atrás

A sincronia entre a troca de posto do General Heleno e do julgamento da reserva Raposa/Serra do Sol pelo Supremo foi perfeita.
Palmas para os vendilhões da nação. São verdadeiros profissionais.

Callia
Callia
15 anos atrás

Eles encostaram eles , esses traidores querem vender a amazonia, tiraram de lá o cara mais capacitado…mas onde quer que mandem o General ele terá o NOSSO apoio!Quem serviu lá ,. sabe o que ele significa!

SELVA!

Igor
Igor
15 anos atrás

Os comandantes são trocados a cada dois anos e o Gal. Heleno ja esta se aposentando. Não vejo isso como manobra.

Marco
Marco
15 anos atrás

General Heleno para presidente em 2010.

Jacubão
15 anos atrás

O que a galera do blog acha de iniciar um movimento (abaixo-assinado), na intenção de mobilizar a sociedade no intuito de pressionar os governantes a retirarem o apoio do Brasil a esse documento conspiratório da ONU, que pode ser o início da manobra de internacionalizar a Amazônia Brasileira e ao mesmo tempo cobrar o devido investimento em defesa para protejer o “nosso” patrimônio, pois esses países destruíram seus índios, suas reservas naturais, suas florestas e não tem nem o direito e nem moral de cobrar nada do Brasil com relação as nossas florestas.

Jacubão
15 anos atrás

Realmente, “GEN HELENO P/ 2010.
Já tem o meu voto, agora precisamos convençê-lo a se candidatar.

WAR
WAR
15 anos atrás

Vida longa ao General. Em sua entrevista, ele fala uma coisa que sempre repito, embora seja civil: Quem defenderia a Amazônia em caso de conflito (claro que com uma potência mais forte), seriam os militares mas, junto com os habitantes locais, que precisam ser valorizados e apoiados pelo Estado. E este apoio, com certeza, é diferente para cada subregião. Boa tarde atodos!

Bonifácio
Bonifácio
15 anos atrás

Jacubão,

Eu assino a petição.
E o farei com mais satisfação se forem abordadas outras questões como as outras reservas indígenas, os quilombos, os territórios dos sem-terra, a participação do Brasil na ONU, …

Um abraço.

AJS
AJS
15 anos atrás

A movimentação geral de comandantes no EB, foi noticiada em 07/03/09 pelo site Defesanet.

Cassio
Cassio
15 anos atrás

Caro Jacubão

Boa idéia. É realmente necessária uma movimentação contra esta resolução da ONU que certamente encobre objetivos escusos.
Outra coisa, a atuação dos “movimentos sociais”, como o mst que só prejudicam o país, agora querem apoiar os “hermanos” (deles) do Paraguai para que o Brasil pague mais pela energia de Itaipú, inclusive num protesto marcado para a semana que vem para bloquear a Ponte da Amizade, que liga os dois países.

J Roberto
J Roberto
15 anos atrás

Política é uma máfia mesmo.Por trás disso,envolve uma rede de ambições estrangeiras,espiões,corruptos.Tirar o Gal Heleno,faltando ainda 2 anos para passar para a reserva,um defensor da Amazônia,agora que vão entregar a Amazônia de vez!

Eduardo
Eduardo
15 anos atrás

Alguém sabe alguma coisa sobre o General Mattos, que vai substituir o General Heleno no CMA?

Glauco
Glauco
15 anos atrás

Sobre a questão de quem seja o novo comandante, trata-se de oficial general com muito mais experiência em Amazônia que o antecessor. Não se confunda fama com competência. O antigo chefe foi alvo dos holofotes da imprensa num momento delicado que afeta o País. Contudo, agora quem comanda é um especialista em operações diversas, inclusive operações de Forças Especiais. Portanto a tese da “manobra” não é compatível.

José Antonio
José Antonio
15 anos atrás

Quanto a questão da candidatura, gostaria de dizer que apesar das chances do Gal.Heleno serem poucas diante das urnas, abriria a questão mais importante, que é a chance do debate. É necessário que a Sociedade tome conhecimento de assuntos tão importantes. Por lado, que a meu ver, ele poderia falar como cidadão, livre da mordaça que o impede de expor suas idéias devido a condição de militar…Gal.HELENO PARA PRESIDENTE…

José Antonio
José Antonio
15 anos atrás

Senhores, é louvável que nos preocupemos com todas essas questões, mas por favor vamos ficar atentos antes de postarmos nossos comentários.É sempre bom fazermos uma correção antes, pois se já nos colocam em posições desfavoráveis em relação a sociedade civil…Imaginem o que dirão aqueles que já começam identificando erros grosseiros na nossa ortografia…Me desculpem, mas isso é sério…

alberto
alberto
14 anos atrás

gastaria que os militares voltassem ao poder ; que acabasse com a corupção, com justiça social para todos e com uma democracia moderna para o povo .

Br1no
14 anos atrás

Já tem meu voto pra presidente!!!

Leonardo
Leonardo
14 anos atrás

Gen. Heleno pode contar comigo, sua autoridade é indiscutivel verdadeiro brasileiro nato, não é como essa cambada de políticos que so vem pedir ajuda da população na eleições, é pior não aguentam levar uma surra de boas verdades, preferem passar pelos orgãos públicos com dinheiro na cueca, isso sim é lamentavel, devemos chamar de novo se for necessarios os caras pintadas para as ruas, acabar com as fanfarras desses bandos de conrruptos, ficam lezando os estados e tirando o dinheiro da população. E como o Gen. disse “Eu sirvo ao povo brasileiro não ao Estado seu eu tiver que intervir eu entre a hora que for necessario para garantir a ordem é a soberania do povo Brasileiro” Ae Falou meu Gen. Porrete nesses Corruptos…