Corte no orçamento ameaça o Sisfron, programa avançado de defesa da fronteira

 

ROBERTO GODOY – O Estado de S.Paulo


vinheta-clipping-forte1O Exército brasileiro tem sete projetos estratégicos e precisa investir neles cerca de R$ 58,2 bilhões ao longo dos próximos 16 anos – até 2030, se tudo correr bem. É um problema. O governo, que até junho havia liberado apenas 50% do valor previsto para as aplicações deste ano, reteve, ainda, todas as dotações incluídas em emendas parlamentares.

Em maio, a equipe econômica cortou R$ 3,67 bilhões dos recursos destinados ao Ministério da Defesa e de novo em julho aparou mais R$ 919,4 milhões. O ministro Celso Amorim alertou a presidente Dilma Rousseff para o risco de uma paralisação nos programas prioritários das três Forças – Exército, Marinha e Aeronáutica. Na saída, levava na pasta a promessa da liberação de R$ 400 milhões. Compromisso sem data.

Uma saída seria a inclusão do pacote de projetos no PAC, onde duas iniciativas da Defesa já estão abrigadas, o desenvolvimento do cargueiro militar da Embraer, o KC-390 e a produção, em todas as fases, de quatro submarinos avançados – de propulsão diesel-elétrica – mais o primeiro modelo nuclear. Consultado pelo Estado, o Ministério do Planejamento e Gestão informou que também o sistema Astros 2020 e o blindado Guarani (veja o infográfico) estavam fora do contingenciamento. Não é verdade, garante fonte do Exército. Os dois programas não foram incluídos no PAC em 2013.

O projeto mais ambicioso do conjunto da Força Terrestre é o Sisfron, muralha eletrônica de 17 mil km integrando estações digitais, radares terrestres e unidades militares dotadas de recursos avançados. O Sisfron começou sólido. A etapa piloto da primeira fase vai ser feita depressa, fica pronta já em 2015 e cobre 650 quilômetros na divisa do Brasil com o Paraguai e a Bolívia, em Mato Grosso do Sul. “Vai custar R$ 839 milhões e isso significa apenas 6,99% do total do plano. É muito”, diz Luiz Aguiar, presidente da empresa Embraer Defesa e Segurança, contratada para executar o plano. A faixa total controlada pelo projeto tem 150,5 km de largura e se estende como um corredor. “É o maior empreendimento do gênero em execução no planeta”, diz o ministro da Defesa, Celso Amorim.

De fato. Visto em conjunto com o Sipam, escudo de vigilância da Amazônia, inaugurado em 2002, o Sisfron abrange o equivalente à porção ocidental da Europa – e mais um pouco. O pacote pretende controlar 30% do território nacional, no espaço que separa o Brasil de 11 de seus vizinhos.

Segundo Marcus Tollendal, o presidente da Savis (empresa da Embraer responsável pelo projeto), em dez anos, o Sisfron vai se expandir e atingir a Amazônia e o cone Sul. Segundo ele, há nessas áreas uma “mancha criminal” associada a um “vazio populacional” e à menor presença do Estado.

Mas no momento há certa apreensão. Em audiência pública da Comissão das Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado em 22 de agosto, o general Antonino Guerra Neto, do Centro de Guerra Eletrônica, afirmou que, mantidos os recursos no patamar previsto para 2014, o programa só vai ficar pronto em 2074, “quando será, a rigor, quase inócuo”.

Megaeventos. Em outra ponta da lista de programas da primeira fila, os sistemas de defesa antiaérea, uma exigência da equipe mundial da organização dos eventos como a Copa e a Olimpíada, avançaram. Na semana passada, Amorim autorizou a abertura do processo de negociação para a compra de três baterias do Pantsir S1, moderno sistema russo de artilharia antiaérea, e duas outras do Igla-S.9K38, a versão mais recente do míssil leve disparado do ombro de um soldado. O negócio pode chegar a 800 milhões. O 9K38 tem alcance de 6 km, é mais pesado que as séries anteriores, usa sensor de localização de alvos de eficiência expandida e é mais resistente à interferência eletrônica de despistamento.

A operação é conduzida pelo chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, general José Carlos De Nardi. O processo montado pelo oficial prevê a aquisição de três baterias do Pantsir S1, combinação de mísseis terra-ar com alcance de 20 km e 15 km de altitude, mais dois canhões duplos, de 30 mm. As baterias transportam 12 mísseis 57E6. O radar de detecção atua em um raio de 36,5 km e pode localizar dez alvos por minuto. Cada uma das Forças receberá uma bateria Pantsir. “A melhor parte de todo o processo é que os russos aceitaram a demanda brasileira de que haja irrestrita transferência de tecnologia”, diz De Nardi. Há três empresas nacionais envolvidas no esquema: Avibrás Aeroespacial, Mectron e Orbisat.

FONTE: Estadão

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joao.filho
joao.filho
11 anos atrás

Pobre Exercito. Primeiro a MB e a FAB foram pra sucata, agora chegou a vez deles. Com a miseria de verba que estarao recebendo, so vai dar pra pagar a folha, e olha la. . A Dilma se esta mostrando mais pra la de revanchista. Parece que o que quer mesomo fazer e abolir as FFAAS de uma vez.

Fernando "Nunão" De Martini
Responder para  joao.filho
11 anos atrás

Fica claro, em se confirmando as informações da reportagem do Estadão, que o fato de se adquirir três baterias de Pantsir corresponde à mesma lógica da compra dos EC725: divisão por igual entre as três forças.

Mas, como no caso dos helicópteros, eu pergunto: as necessidades das três forças são as mesmas, em quantidade? Sei que isso é visto como uma primeira aquisição, mas será que futuras compras serão no mesmo esquema de “um terço para cada um”?

Pede-se, nos ROC, que o sistema tenha capacidade, quando instalado em navios, de operar em condições de mar 6. Mas em que navios serão instalados? Ou inicialmente a bateria da MB será para os Fuzileiros, visando cobertura antiaérea em forças desembarcadas em cabeças-de-praia?

Mas será que o Exército não tem uma necessidade muito maior do que os Fuzileiros para baterias de Pantsir? Ou será que, no caso desta primeira bateria para a Marinha, o uso será na defesa de sua principal Base Aeronaval, assim como a bateria da FAB deverá ser para alguma (s) Base (s) Aérea (s)?

Não estou aqui reclamando da compra (em si) de 50 helicópteros médios ou de 3 baterias antiaéreas com mísseis capazes de cobrir a média altitude, muito pelo contrário, afinal tudo isso é necessidade há muito aguardada. Apenas fico cismado com essas divisões “por igual” dos equipamentos para as três forças, dado que suas necessidades e prioridades são muito diferentes.

Colombelli
Colombelli
11 anos atrás

Mas não havia um investimento “sem igual” na área de defesa decorrente de “uma visão de futuro” em curso? Não é isso que diziam? Não era certo que o “desenvolvimento do país” financiaria tudo sem cortes?

Esta se revelando mais uma mentira bem ao estilo de sempre: lançar programas com estardalhaço midiático e que depois vão definhando. Massificação de propaganda.

Nunão, minha precupação é a mesma. O exército tem mais de 330 estruturas críticas pra defender em um universo de mais de 13.000 sensíveis existentes no país. Ainda que em um conflito limitado nem todas elas ficassem expostas, dada a sua diferente localização, certamente que a necessidade do EB é muito maior. Dois ou três lançadores para a MB e FAB cada uma estaria bom ( ou seja uma bateria em números para as duas dividirem). Esta divisão igualitária evidencia um viés estritamente político e nenhum planejamento sério.

Bosco Jr
Bosco Jr
11 anos atrás

Ao meu ver a configuração de um sistema como o Pantsir é ideal para ser usada na cobertura de grandes eventos, em situações assimétricas.
Devemos lembrar que ele foi concebido para acompanhar e proteger sistemas como o S-300 e S-400, inclusive contra PGMs. Neste contexto ele é protegido pelo sistema que deve proteger e além do mais a doutrina russo cerca esses veículos com um monte de iscas e interferidores.
Será que aqui faremos o mesmo?
No meu modo de ver a versão sobre lagartas (tracked) é mais adequada para a proteção de forças terrestres na linha de frente (nicho hoje preenchido pelos Gepards), e sistemas modulares e operados por controle remoto (por exemplo, como o Bamse) seriam mais indicado para a proteção de alvos estratégicos.
Claro que em nosso TO não esperamos ver tão cedo caças que usem seus radares no modo “abertura sintética” e “indicador de alvos móveis” para designar mísseis de longo alcance, mas o fato de se ter tudo reunido nesse veículo gigantesco tripulado, que brilha mais que uma árvore de Natal em um radar, é temerário, sem falar que o próprio sistema de radar e controle de fogo do veículo é um alvo fácil para mísseis antirradiação.
Espero que a cabine da tripulação seja pesadamente blindada já que a cabine do condutor não é.
Não vejo lógica em um sistema antiaéreo ser tripulado se sua função não é a proteção de forças móveis em deslocamento, e mesmo assim, de preferência deveria operar de modo passivo.
O Pantsir S1 montado sobre um chassi de camihão é sem dúvida formidável e não duvido que seja eficaz, mas sua mobilidade (tática e estratégica) deixa a desejar (no caso do Brasil) e sua proteção é questionável.
Não é questão de ser antirrusso, muito pelo contrário. Também não me agrada sistemas como o Roland e Crotale na forma de “shelter” rebocado ou montado em caminhão.

Fernando "Nunão" De Martini
Editor
11 anos atrás

Poggio, só uma observação sobre seu comentário, sobre a vulnerabilidade a mísseis antirradar:

Faz parte dos requisitos para aquisição do Pantsir (ao menos se quer que o sistema faça isso) operar com seu radar de direção de tiro desligado e receber indicações do alvo de outro, para diminuir a vulnerabilidade do lançador a mísseis antirradiação.

Se isso existe nesse sistema (ou se será possível), eu já não sei dizer.

Bosco Jr
Bosco Jr
11 anos atrás

Já para a proteção assimétrica de eventos como a Copa e Olimpíadas não há nada melhor que o Pantsir S1.
Parece que foi feito sob medida.
Para a linha de frente, sistemas como o TOR e o Pantsir Tracked é mais interessante.
Tivéssemos sistemas como o S-300 e S-400 e o Pantsir montado em caminhão seria ideal para a proteção em camadas desses sistemas de grande alcance.
Também a configuração do Pantsir sobre caminhão é interessante na proteção de forças em deslocamento para a linha de frente enquanto dentro do próprio território amigo.
Até pode-se aceitar o uso do sistema Pantsir na proteção de “alvos” estratégicos no interior do país (incluindo bases navais e aéreas), já que estariam teoricamente sob a cobertura de sistemas de maior alcance/altitude e sob a guarda da aviação de caça, mas nesse caso sistemas modulares, desdobrados em várias “células” distribuídas pelo terreno e operados por controle remoto são mais adequados no sentido de proteção, sobrevivência e redundância, e até na facilidade de mobilização estratégica.
Agora, claro que eu estou “saltitante” rsrrs de felicidade com a aquisição e gostaria que ao invés de 3 bateiras fossem pelo menos 10.

Bosco Jr
Bosco Jr
11 anos atrás

Nunão,
Fico feliz de ser confundido com o Poggio, afinal ele é um cara boa pinta. rsrsrs
Mas voltando ao assunto, cada bateria Pantsir vem com um radar de vigilância separado (está no site “ausairpower” ).
Não sei se no caso do Brasil ele vem ou se vamos usar o SABER 60, mas fato é que nem sempre será possível usar esse modo de operação e mesmo porque uma hora esse radar será neutralizado e aí terão que usar o radar orgânico do veículo.
Só pra termos uma ideia, o atual HARM “E” (AARGM) pode atingir o veículo mesmo que ele desligue o radar e se mova por quilômetros.

Fernando "Nunão" De Martini
Responder para  Bosco Jr
11 anos atrás

Bosco,

Desculpe, é que tinha acabado de mandar e-mail para o Poggio…

Provavelmente escrevi Bosco no e-mail pra ele!

Amanhã, numa nova matéria que estou escrevendo agora, poderemos discutir esses e outros assuntos dos Requisitos Operacionais Conjuntos dos Pantsir (aliás, notícia dada em primeira mão aqui no Forte, e que depois outros meios, incluindo os da grande imprensa, publicaram).

Bosco Jr
Bosco Jr
11 anos atrás

Valeu Nunão!
Tô esperando essa matéria.
Um abraço.

Nautilus
Nautilus
11 anos atrás

Uma bateria para cada uma das FAs? Pô! E os requisitos da FAB são os mesmos do EB ou da Marinha? Que eu saiba a FAB deseja sistemas AAé para defesa de bases aéreas. Sistemas como o Bamse sueco parecem-me bem mais indicados…

Bosco Jr
Bosco Jr
11 anos atrás

O Pantsir é excepcional e para ficar melhor deveria ter uma versão rebocada, estacionária, não tripulada e sem o radar de vigilância.
A cabine de comando deveria ficar situada remotamente e o radar de vigilância poderia ser opcional, também operado remotamente.
Havendo estas 3 opções (montado em caminhão, em veículo blindado sobre lagartas e rebocado) ele seria um sistema muito flexível e sem igual.
Uma hipotética versão operada remotamente montada em reboque teria alta mobilidade estratégica e tática (helicóptero), poderia ser camuflada e cercada de sistemas de interferência/iscas, sendo excelente para a proteção de alvos estratégicos fixos.

Bosco Jr
Bosco Jr
11 anos atrás

Só de curiosidade, os lançadores do Bamse são “tripulados”.

Fernando "Nunão" De Martini
Editor
11 anos atrás

Bosco, ops, Poggio, ops, é Bosco mesmo!!!…

Então, terminei a comparação entre os requisitos e tenho uma correção no meu comentário das 18h44.

Esqueça o “Faz parte dos requisitos” que escrevi. Isso foi antes de terminar a análise que você poderá ler nesta terça-feira.

Por ter escrito antes de acabar, eu errei o tempo verbal.

Leia “Fazia parte dos requisitos…”

Augusto
Augusto
11 anos atrás

Que a compra seja realmente efetivada, os Pantsir estão anos luz além do que o Brasil possui hoje.

Augusto
Augusto
11 anos atrás

Ops, “anos-luz” é melhor.