África nas mãos do terrorismo
O Deserto do Saara se estende como um imenso cinturão de areia por 11 países, acompanhado mais abaixo por uma faixa semiárida, conhecida como Sahel. O ambiente inóspito, aliado a uma governança débil e à falta de perspectivas econômicas para os mais jovens, tornou-se terreno fértil para a atuação de grupos extremistas islâmicos. Mali, Mauritânia e Líbia amargam um desemprego que atinge quase um terço da população. No norte da África, 274 milhões de pessoas vivem sob a ameaça do doutrinamento radical do islã. Um perigo que ganhou força depois da deposição e da morte do ditador líbio, Muamar Kadafi, em 20 de outubro de 2011, quando as armas e os guerrilheiros ficaram à mercê dos jihadistas — adeptos da guerra santa. Há 11 dias, militantes leais à organização Al-Qaeda no Magreb Islâmico (AQIM) surpreenderam os especialistas antiterrorismo, ao tomarem um campo de petróleo na Argélia e fazerem 792 reféns. Uma operação de resgate encampada pelo Exército argelino resultou na morte de 37 sequestrados e de 11 extremistas.
O libanês naturalizado norte-americano Rudolph Atallah, ex-diretor de Contraterrorismo na África pelo Pentágono (2003-2009) e especialista do Atlantic Council (Washington), afirmou ao Correio que a queda de Kadafi foi promovida pela insurgência dos mesmos mujahedine (guerrilhos islâmicos), que, depois de combaterem no Iraque e no Afeganistão, retornaram aos seus países de origem. “Os terroristas do norte do Mali são procedentes da Argélia e pertencem à AQIM. Eles mantêm contatos com extremistas da Líbia e da Tunísia e potencializam o recrutamento”, explicou, por telefone. “Os países do norte da África possuem altas taxas de desemprego entre pessoas de 15 a 25 anos — de 30% a 45%. Esses jovens estão sendo recrutados por elementos da Al-Qaeda, por já não terem mais nada a fazer.”
Antes da migração para seus países de origem, os extremistas deixaram seu rastro no Iraque. Atallah lembra que, em 2007, as forças norte-americanas realizaram uma megaoperação na cidade de Sinjar, na fronteira com a Síria. “Eles apreenderam vários documentos com nomes de guerrilheiros estrangeiros que combatiam em território iraquiano. Os papéis de Sinjar mostraram que muitos vieram da Arábia Saudita, da Líbia, da Argélia, da Tunísia e do Marrocos”, afirmou.
Colega de Atallah no Atlantic Council, o norte-americano J. Peter Pham admite que o norte da África (Magreb) e o Sahel se tornaram um abrigo seguro para a AQIM e para outras facções islâmicas pelos mesmos motivos percebidos em outras regiões. “Governos fracos são incapazes de exercer autoridade sobre o território, além de criarem um espaço geográfico para que os extremistas possam operar”, observa. Segundo ele, regimes antidemocráticos, incompetentes ou politicamente permitem que o espaço social seja ocupado por extremistas — os rebeldes “compram” o apoio da população, fornecendo serviços para a população ou oferecendo uma solução imediata às suas queixas. “Uma vez entrincheirados, territorial e socialmente, os grupos radicais têm a oportunidade de arrebanhar recrutas, ao explorar recursos econômicos que não estariam ao alcance da insurgência se o Estado funcionasse.
Pham cita como exemplo o Mali, cujo presidente, Amadou Toumani Touré, foi deposto em 22 de março de 2012 por uma junta militar, depois de perder dois terços do norte do país para os extremistas. “A marginalização dos tuaregs e de outros povos do norte por sucessivos governos instigou vários levantes, enquanto a corrupção de Touré custou o apoio de moradores do sul. Com os militares no papel de autoridade real, o regime perdeu credibilidade”, afirma.
Crimes
Nos últimos anos, a AQIM e seus aliados amealharam milhões de dólares, por meio de sequestros de ocidentais, da proteção a narcotraficantes e de contrabandos. “As relações entre os extremistas e os governos variam profundamente. Enquanto alguns Estados têm se oposto aos militantes, outros se mostram mais ambivantes. Na Argélia, por exemplo, os terroristas são combatidos em seu próprio solo, mas as autoridades toleram quando eles agem no território vizinho. Por meses, as autoridades argelinas permitiram que guerrilheiros levassem suprimentos e armas para o norte do Mali”, comenta.
Aaron Zelin, especialista do Washington Institute for Near East Policy, concorda que o golpe de Touré desestabilizou o Mali e permitiu aos jihadistas dominarem o norte. Na semana passada, forças francesas e malinesas recuperaram importantes cidades conquistadas pelos grupos aliados à AQIM. Ele vê a situação na Líbia como delicada, com um controle do governo bastante limitado sobre o leste e o sul, o que facilitou a instalação de campos de treinamento de terroristas. Zelin diz que muitas pessoas foram pegas de surpresa pelo ataque ao campo de gás na Argélia. “Muitos não imaginavam que a AQIM fosse tão forte. A avaliação anterior se baseava nas condições do grupo dois anos atrás. Mas, desde 2012, a facção teve a oportunidade de treinar militantes sem ser incomodada, no norte do Mali.”
Ao estilo da máfia
Como o senhor analisa a capacidade operacional da Al-Qaeda no norte da África?
“A organização Al-Qaeda no Magreb Islâmico (AQIM) tem uma reputação de ser um grupo similar a uma máfia, por engajar em atividades como contrabando e sequestro. Essas ações permitem que a organização se mantenha e receba fundos para outras operações. A AQIM é uma organização subestimada. Muitos especialistas creem que ela tenha 900 militantes, mas acredita-se que seja bem mais forte. O Mali tem dado espaço para muitas organizações, como a Ansar Dine.”
Domínio territorial
“A AQIM e seus aliados tiveram anos para conhecer o ambiente e o terreno desértico. Eles dominam partes do Magreb e do Sahel, bem como as três províncias do norte do Mali (Kidal, Gao e Timbuktu). São certamente capazes de tornar um inferno a vida de qualquer estrangeiro tolo o bastante para tentar levar uma guerra convencional na região. O único modo de batê-los é por meio de uma estratégia clássica de contrainsurgência, que levaria tempo, e de governos locais legítimos.”
FONTE: Correio Braziliense via Resenha do Exército
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Essa guerra, a do Norte da Africa, é por conta dos europeus. Os EUA ja deram sinais bem claros que o foco deles e o Oriente, especialmente a China e a Coreia do Norte, a primeira com ameacas serias contra o Japao e o segundo contra sua irma do Sul.
E interessante destacar que ambos os paises comunistas detem armas nucleares, e os dois capitalistas nao.
Recentemente os norte coreanos torpedearam um navio sulcoreano, sem que esse assumisse nenhuma posicao. Fica a pergunta.. se ao inves de uma nave sul coreana, os do Norte atacassem e afundassem uma nave americana, qual seria a reacao destes> Qual seria a reacao dos chineses> Tudo, por enquanto, esta pendurado na questao economica. Se d eum lado a China e a fabrica do Mundo, de outro lçado a china e totalmente dependente desse Mundo para sobrevier.
É, o mundo está mudando. Não que não mude o tempo todo, mas os eixos do Poder estão se alterando.
Os EUA estão lutando para tornarem-se auto-suficientes em energia, o que deve acontecer até a década de quarenta deste século, graças ao gás de xisto que possuem em abudância. Com isto, abandonarão o Oriente Médio.
O Oriente Médio, por sua vez, passará a ser preocupação da China, pois de lá virá a energia necessária ao gigante asiático.
Quanto ao Norte da África, passará a ser preocupação da Europa (de onde hoje esta recebe muito petróleo e de onde no futuro receberá energia), pois abandonar a região significa colocar hordas de emigrantes em direção da Europa, além de passar a depender da Rússia como o grande fornecedor de energia para os europeus.
O Brasil poderia assenhorar-se da América do Sul e do Atlântico Sul como a sua área de influência, mas nossos políticos são covardes, mesquinhos, e burros demais para isto.
Observador disse:
Os EUA estão lutando para tornarem-se auto-suficientes em energia, o que deve acontecer até a década de quarenta deste século, graças ao gás de xisto que possuem em abudância.
“Xisto” não, por favor. A tradução de ‘shale gás’ é gás de folhelho.
Também lembrando que além de petróleo o norte da África envia para a Europa imigrantes.
Observador disse:
29 de janeiro de 2013 às 23:20
Sempre lembrando que por volta de 2020 os EUA poderão se tornar o maior produtor de petróleo do mundo.
Quero só ver como é que o OM vai se virar sem ter “usamericanu” pra culpar. Aquilo lá vai explodir tudo e os EUA não vão estar “nem aí”.
Sds.
Vader disse:
30 de janeiro de 2013 às 9:05
Vai sobrar a batata quente para o “imperialismo amarelo” como em breve os árabes e persas vão chamar a presença dos chineses por lá, pois estes vão passar a ser os clientes prioritários da Arábia Saudita, Kuwait, Iraque, Irã…
Guilherme Poggio disse:
30 de janeiro de 2013 às 8:29
Bom, só reproduzi o que corre na internet. Pelo Google são 657.000 resultados para o gás de xisto, que concordo não ser o nome tecnicamente mais adequado, mas é a tradução literal e é como mundanamente é conhecido o combustível.
Concordo com você sobre a migração em massa de refugiados para a Europa. Sobre isto lembro de duas definições que aprendi com um professor de história: emigrante = quando o problema deixa de ser seu; imigrante = quando o problema de outros se torna o seu.
Sim, porque o imigrante trará sua própria cultura e não vai assimilar os valores caros aos europeus: tolerância religiosa, democracia, respeito a todas as minorias, estudo e estabilidade institucional.
O velho continente, se não cuidar, se tornará muito parecido com os países abandonados pelos refugiados. Sujo, decadente, anti-democrático, com muito fanatismo religioso, sem educação e sem futuro.
É como se diz aqui em SC: “o colono deixa a colônia; mas a colônia nunca deixa o colono”.