O Estado continua na incômoda posição de constatar que o inimigo está sempre alguns passos adiante

Silvio Queiroz

Não tardou para que os acontecimentos dessem nomes e números ao alerta feito por uma autoridade brasileira, em conversa reservada com a coluna, sobre a perigosa associação entre crime organizado e terrorismo em alguns pontos vulneráveis do território brasileiro. No caso, os fatos se desenrolaram na tríplice fronteira do norte, com a Colômbia e o Peru. Lá, no início da semana, a Polícia Federal capturou o peruano Jair Ardena Michue, codinome Javier, apontado como líder de uma rede de narcotráfico baseada nas ilhas próximas a Tabatinga (AM), no Alto Solimões. Javier é acusado pela morte de dois federais em um confronto travado em novembro último. A operação contra o esquema do peruano, iniciada em 2009, já resultou em mais de 30 prisões e na apreensão de 1,5 tonelada de cocaína.
A região de Tabatinga e da cidade-gêmea colombiana de Letícia firmou-se nos últimos anos como corredor preferencial não apenas para traficantes de drogas, mas também para contrabandistas de armas. Sem falar nos indícios recorrentes de que ali a guerrilha colombiana das Farc tem uma de suas frentes logísticas, com tentáculos que descem o Solimões até Manaus. Nas palavras dessa autoridade, que integra há meses um núcleo especial formado para blindar o país contra a ameaça, o Estado continua na incômoda posição de constatar que o inimigo está sempre alguns passos adiante. E os bons resultados das operações policiais são pouco mais que um prêmio de consolação.

Trigêmeos

Não é por acaso que Tabatinga e Letícia estão no circuito em que operam, nem sempre com tanta discrição, agentes americanos da DEA, a unidade antitráfico dos EUA. Foi nessa área que, em 2008, o Exército localizou pela primeira vez plantações de coca do lado brasileiro da fronteira (foto). As duas cidades são o centro nervoso de um pacote de acordos de cooperação em defesa firmados em 2008 pelos então presidentes Lula e Álvaro Uribe. De lá para cá, militares e policiais brasileiros e colombianos têm feito exercícios e operações conjuntos, pelo menos um deles de maior porte, envolvendo patrulhamento aeronaval de uma fronteira naturalmente porosa.
A notícia mais recente, que passou relativamente despercebida, foi a realização de exercícios de controle de fronteira também com o Peru, em janeiro último. A área escolhida foi a de Assis Brasil (AC), mais a oeste da tríplice fronteira. Mas a prisão do “capo” peruano no Amazonas apenas ressalta a natureza trigêmea do inimigo. Por sinal, o pacote de acordos firmado em 2008 inclui um que é tripartite, indicação de que não vem de hoje a percepção de que o problema não se resume a Brasil e Colômbia. Inclusive porque, em parte como efeito colateral do relativo sucesso na erradicação de cultivos em solo colombiano, o Peru arrebatou nos últimos anos o “troféu” de maior produtor mundial da folha de coca, matéria-prima da cocaína.

Indefinição crítica

Para além das implicações imediatas no âmbito do combate ao narcotráfico, a confrontação com redes criminosas estabelecidas em uma fronteira não apenas tripla, mas extremamente vulnerável pela geografia, preocupa tanto mais num momento de indefinição para a área crítica do contraterrorismo. De saída, patina há anos um projeto para tipificar o crime de terrorismo, ausente da legislação penal brasileira. Ainda mais aguda, para diferentes partes envolvidas no esforço, é a reorientação da Abin. Enquanto o Planalto pisa em ovos para restabelecer as bases da relação entre a agência, o GSI e o comando militar, o setor (como todo o governo federal) se enquadra ao rigor dos cortes orçamentários.
No âmbito estrito da inteligência, há receios de que justamente a unidade de contraterrorismo, ainda nos passos iniciais, seja atingida. E isso embora o país esteja às portas de sediar eventos que soam como chamarizes: antes mesmo da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016, teremos neste ano os Jogos Militares, e em 2013 a Copa das Confederações.

Cooperação fluida

São preocupações que invadirão a agenda diplomática, desde logo com a visita de Barack Obama, dentro de duas semanas. Com a colega Dilma, o presidente americano deve falar mais diretamente dos negócios que a organização das competições pode favorecer. Mas é certo que os arranjos de segurança para as delegações americanas serão discutidos cada vez mais amiúde. Até porque, como relatam os funcionários brasileiros das diversas áreas envolvidas, nos afazeres cotidianos da área policial e de inteligência, a cooperação com os americanos — e não apenas com eles — é fluida.

FONTE: Conexão diplomática – Correio Braziliense

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Observador
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13 anos atrás

O problema é que não é só lá naquela região de fronteira que isto acontece.

Nossas fronteiras são mais furadas que queijo suíço.

É certo que temos um grande problema: somos o terceiro país com mais fronteiras do mundo. Perdemos somente para a Rússia e a China.

Além disto, boa parte dos nossos dez vizinhos é problemática.

Por isto que muita gente diz que “o único vizinho confiável do Brasil é o Oceano Atlântico”.

Mas nada disto é desculpa para deixar nossas fronteiras como “terra de ninguém”.

Não se faz nada para mudar isto, ou melhor, se faz a burrada de transformar nossas forças armadas em polícia de fronteiras (EB) e polícia aérea (FAB), como se o seu papel fosse mesmo este.

2014 está se aproximando e com toda a certeza o Mundo inteiro verá um SHOW de incompetência das nossas autoridades federais, estaduais e municipais.

Todos nós sabiamos que a infra-estrutura será um lixo; mas agora percebemos que a nossa segurança será ainda pior.

Como todo o resto, se tem alguma estrutura para só para dizer que tem, para legitimar a existência de um Estado paquidérmico que nada faz pelos seus cidadãos.

Nossos políticos não levam problema nenhum a sério, como se o problema não fosse deles.

Coitados dos policiais e militares, obrigados pelo dever a conviver com um quadro de abandono destes.

O legado da Copa e das Olímpiadas será mostrar para o Mundo a nossa bagunça, o nosso amadorismo, o nosso despreparo para qualquer projeto sério.

Sabem o que é pior? Se um terrorista fizer um atentado no Brasil e só morrerem brasileiros, o problema será só nosso.

O sujeito será julgado como um bandido comum, será condenado a dezenas de anos de prisão mas só cumprirá trinta (é a Lei) e poderá sair mais cedo ainda, pela progressão de regime, que ainda tem gente que acha aplicável aos crimes hediondos.

E sempre vão aparecer os defensores dos direitos humanos, para reclamar das condições de nossas cadeias, que o crime dele não foi comum, foi político, que ele merece um tratamento diferenciado, que ele é a VÍTIMA e não o algoz…

Talvez em dez ou doze anos ele esteja fora do presídio, rindo da cara de toda a nossa nação.

Olhe, é de desanimar.

Só espero que estas notícias cheguem a “grande mídia” e que esta se interesse em mostrar toda esta situação com destaque.