Estratégia do Exército Brasileiro até 2030
Em 2009, participamos de um brainstorming para a definição da Estratégia do Exército Brasileiro até 2030. Abaixo as questões levantadas pelo EB na sua pesquisa.
Dê sua opinião sobre cada um dos tópicos abordados.
1) REAÇÕES INTERNACIONAIS AO PROTAGONISMO BRASILEIRO
O mundo convive com vários focos de instabilidade, como os conflitos no Oriente Médio, na Ásia e no Continente Africano, com conseqüentes riscos à paz global. Além destes, delineia-se no futuro uma disputa pelo controle de recursos estratégicos (hidrocarbonetos, água, minérios, biodiversidade, etc.), dos quais o Brasil é um dos grandes detentores.
Enquanto países desenvolvidos mantêm suas posições usando o poder que detêm ou construindo acordos internacionais favoráveis a seus interesses, nações em desenvolvimento têm de lutar por acesso a novas oportunidades.
Embora não esteja envolvido em conflitos de vulto, o Brasil está inserido nesse contexto de desafios e pretende modificar sua posição no jogo internacional, superando barreiras típicas de quem se localiza na periferia do poder mundial. Esta atitude brasileira poderá propiciar o surgimento de situações conflituosas decorrentes de reações dos países forçados a ceder espaços e da própria cobiça internacional pelo grande volume de recursos naturais do País.
A questão se refere à probabilidade de que, até 31/12/2030, as reações internacionais ao protagonismo brasileiro intensifiquem-se ao ponto de criar obstáculos à consecução dos interesses nacionais.
2) RECONHECIMENTO EXTERNO DO PODER NACIONAL BRASILEIRO
O processo decisório desencadeado nos organismos multilaterais ou nas relações bilaterais cria situações que podem restringir ou facilitar a inserção internacional do Brasil como ator global.
Atendendo a legítimos interesses nacionais, a política externa brasileira se empenha para levar o Brasil a participar, significativamente, da elaboração da agenda internacional. Daí decorre o pleito por uma posição de membro permanente do Conselho de Segurança da ONU e a busca de acordos com blocos econômicos e grupos de países, visando à crescente inserção do País na construção daquela agenda.
As reuniões do G-20, pelo seu simbolismo político, parecem sinalizar para mudanças nas relações de poder mundial, cujos desdobramentos futuros poderão levar à emergência de novos pólos de poder. Os líderes dos países mais ricos perceberam que o enfrentamento dos grandes problemas globais dependem de coordenação política que envolva os países emergentes.
Nas relações internacionais, os estados costumam ter êxitos quando dispõem de poder nacional que respalde suas posturas – o que ainda não é, efetivamente, o caso do Brasil, em especial quanto ao componente militar do poder nacional.
A questão se refere à probabilidade de que, até 31/12/2030, o Brasil passe a dispor de poder nacional reconhecido internacionalmente ao ponto de ser capaz de respaldar suas pretensões de maior participação no processo decisório mundial.
3) NEUTRALIZAÇÃO DAS PRESSÕES INTERNACIONAIS SOBRE A AMAZÔNIA
As pressões internacionais sobre a Amazônia têm aumentado, sob a alegação de uma suposta defesa de “interesses maiores da humanidade”.
Países, autoridades e organizações estrangeiras ocultam suas pretensões em relação à importância geoestratégica e às riquezas da região, simulando preocupações com o desenvolvimento da área. Sugerem “direitos de ingerência”, insinuando não ter o Brasil capacidade de cuidar do patrimônio amazônico, com ênfase para o meio ambiente e a questão indígena.
A ameaça é de tentativa de imposição de soberania “compartilhada” mediante aplicação de diretrizes e pelo uso privilegiado dos recursos da região, deixando ao Brasil o ônus da administração sob fiscalização estrangeira.
A neutralização dessas pressões extrapola o campo militar, dependendo muito mais de ações governamentais nos campos político, psicossocial e econômico.
A questão se refere à probabilidade de que, até 31/12/2030, as ações implementadas pelo governo brasileiro no sentido da proteção e do desenvolvimento sustentável da Amazônia brasileira tenham sido eficazes ao ponto de neutralizar as pressões internacionais sobre a região.
4) INTERESSE INTERNACIONAL SOBRE ÁREAS ESTRATÉGICAS DO BRASIL
É interesse vital das potências de primeira ordem assegurar o acesso às regiões do mundo de valor geopolítico e onde estejam recursos naturais necessários ao seu desenvolvimento e manutenção do status quo.
O Brasil, além da Amazônia, tem outras regiões que podem ser alvo da cobiça internacional, pela riqueza ou posição estratégica. Entre essas áreas, destacam-se: a faixa de fronteira, a plataforma continental atlântica (jazidas de petróleo, biodiversidade, minerais,etc), o “saliente nordestino” e o Aquífero Guarani.
A liderança nacional atribui pouca importância e a sociedade tem dificuldade em perceber a ameaça embutida no interesse internacional, o que se reflete na baixa prioridade conferida ao setor de defesa do País.
A questão se refere à probabilidade de que, até 31/12/2030, as áreas estratégicas do Brasil sejam alvo de crescente interesse internacional ao ponto de suscitar ações por parte do Estado brasileiro para manter e reforçar sua soberania sobre essas áreas.
5) FORTALECIMENTO DA INTEGRAÇÃO DA AMÉRICA DO SUL
Coerente com princípio constitucional, a iniciativa brasileira de integração regional foi iniciada pela constituição do MERCOSUL e ampliada pelos macroprojetos de integração física da região, estruturados e implementados pela Iniciativa para a Integração Regional Sulamericana (IIRSA), e por empreendimentos de integração energética, dentre outros. O estabelecimento da UNASUL, que surge com o objetivo de construir um espaço de integração e união no âmbito cultural, social, econômico e político entre os países da América do Sul, é mais um marco do processo de integração regional. A criação do Conselho de Defesa Sulamericano (CDS) poderá contribuir para intensificar as medidas de cooperação e confiança mútua entre os setores de defesa dos países da região.
A questão se refere à probabilidade de que, até 31 de dezembro de 2030, o processo de integração regional evolua ao ponto de permitir a efetiva consolidação da integração da América do Sul.
6) OCORRÊNCIA DE CONFLITOS NA AMÉRICA DO SUL
A paz na América do Sul, considerada uma das regiões do mundo menos sujeita a conflitos armados, pode vir a ser ameaçada pela instabilidade política e social existente em alguns países, pela ação de movimentos de cunho ideológico que apelam para a violência e pelas tensões latentes entre países limítrofes. Com isso, considera-se a possibilidade do Exército Brasileiro vir a participar de conflitos na região, integrando ou não organismos internacionais, como Força de Paz ou em defesa dos interesses nacionais.
A questão se refere à probabilidade de que, até 31/12/2030, ocorram conflitos na América do Sul ao ponto de envolver militarmente o Brasil.
7) AGRAVAMENTO DA QUESTÃO AMBIENTAL
As questões ambientais têm adquirido importância crescente na agenda internacional, envolvendo temas como as mudanças climáticas, as catástrofes ambientais e as consequencias sociais e econômicas decorrentes.
A ocupação e a exploração de recursos naturais nos principais biomas do território brasileiro, com reflexos no meio ambiente, poderão agravar a questão ambiental no Brasil, gerando inclusive reações internacionais.
No Brasil, a participação do Exército contra delitos ambientais, na faixa de fronteira terrestre, está prevista na Lei Complementar Nr 117, de 2 de setembro de 2004.
A questão se refere à probabilidade de que, até 31/12/2030, as questões ambientais e as mudanças climáticas tenham se agravado, ao ponto do controle e monitoramento ambiental venha a ser institucionalizado como atribuição, também, das Forças Armadas.
8 ) OCORRÊNCIA DE ATIVIDADES TERRORISTAS EM TERRITÓRIO BRASILEIRO
O Brasil, até o presente, tem se mantido a salvo de ações terroristas, nos moldes praticados por grupos em conexão com redes internacionais, com a finalidade de desestabilizarem Estados ou deles se vingarem em proporções que causem a generalização do pânico em suas populações. Apesar disso, não se afasta a possibilidade de que iniciativas do governo brasileiro venham a gerar disputas e maior exposição do País no cenário internacional.
Essa exposição tende a ser ampliada em face dos grandes eventos esportivos que o Brasil sediará os Jogos Mundiais Militares(2011), a Copa das Confederações (2013), a Copa do Mundo (2014), e as Olimpíadas (2016) e da crescente posição de proeminência do País no contexto mundial.
A questão se refere à probabilidade de que, até 31/12/2030, atividades terroristas venham a ocorrer também no Brasil.
9) AGRAVAMENTO DA PROBLEMÁTICA DA SEGURANÇA PÚBLICA BRASILEIRA
As limitações e carências dos órgãos de segurança pública e o aumento do poder e da violência de grupos ligados ao crime organizado, ou a ilícitos transnacionais, contribuem para agravar a problemática da segurança pública brasileira e criam um ambiente propicio à demanda para emprego das Forças Armadas em segurança pública, ainda que em caráter eventual.
A questão se refere à probabilidade de que, até 31/12/2030, a problemática da segurança pública brasileira se agrave ao ponto de ser institucionalizado o emprego das Forças Armadas.
10) DESENVOLVIMENTO DE UMA MENTALIDADE DE DEFESA NO BRASIL
A sociedade brasileira não demonstra grande interesse pelos assuntos diretamente ligados à defesa nacional e o tema não é prioritário para as lideranças e os formadores de opinião do País.
A Estratégia Nacional de Defesa apresenta dentre suas metas a de desenvolvimento de uma mentalidade de defesa na sociedade. Nesse sentido, o Ministério da Defesa e as Forças Armadas vêm desenvolvendo iniciativas como programas de incentivo, congressos, seminários e simpósios, dentre outras.
A questão se refere à probabilidade de que, até 31/12/2030, os assuntos de defesa passem a fazer parte da agenda nacional ao ponto de influenciar decisivamente as políticas governamentais.
11) FORTALECIMENTO DA INDÚSTRIA DE DEFESA DO BRASIL
O fortalecimento da indústria de produtos de defesa no Brasil se constitui em peça fundamental na redução das vulnerabilidades militares do País. Anseia-se que ela seja capaz de produzir parcela significativa dos materiais e equipamentos estratégicos com tecnologia agregada que atenda às necessidades das FA. Isso, no entanto, esbarra em desafios de toda ordem. Grandes conglomerados da indústria de defesa dos países mais ricos bloqueiam tentativas de desenvolvimento das empresas similares dos países menos poderosos.
O aumento dos investimentos em C&T, a competitividade dos materiais produzidos pela indústria de defesa, a transferência de tecnologia (offset) e o aumento do poder de compras das FA são os principais fatores para o fortalecimento da base industrial de defesa brasileira, contribuindo para a redução do hiato tecnológico e para a nacionalização dos materiais de defesa.
A questão se refere à probabilidade de que, até 31/12/2030, ocorra o fortalecimento da base industrial de defesa brasileira ao ponto de suprir no mínimo 50% das necessidades de material de defesa das Forças Armadas.
12) CRESCIMENTO E SEGURANÇA DE FLUXO DO ORÇAMENTO DO EXÉRCITO BRASILEIRO (EB)
A crescente projeção internacional do Brasil indica a necessidade de um poder militar bem equipado e adestrado.
A eficiência operacional das Forças Armadas é dependente de orçamento compatível e constante. Nas últimas décadas, a escassez dos recursos alocados para o Exército Brasileiro tem redundado em deterioração cada vez mais séria de sua operacionalidade.
Além disso, o orçamento do EB ainda sofre retardamentos, contingenciamentos e considerável volume de recursos são inscritos em restos a pagar, dificultando o cumprimento da sua destinação constitucional.
A questão se refere à probabilidade de que, até 31 de dezembro de 2030, o governo aumente os recursos orçamentários e assegure um fluxo mínimo destinado a investimentos do Exército Brasileiro.
13) ADEQUAÇÃO DA INFRAESTRUTURA CRÍTICA ÀS NECESSIDADES DE DEFESA
Os sistemas nacionais que constituem a infraestrutura crítica do Brasil, em especial energia, transportes e comunicações não podem entrar em colapso, pois são indispensáveis ao desenvolvimento do País, devendo também observar às necessidades de defesa nacional.
Atualmente, as obras de infraestrutura crítica não atendem na sua plenitude às necessidades de defesa, acarretando prejuízo ao planejamento estratégico operacional das FA, sobretudo no que tange a comando e controle, mobilização, logística, mobilidade estratégica e outras
O Exército dentre suas atividades subsidiárias executa obras da infraestrutura, mas não participa do planejamento de políticas públicas de forma a adequar as obras realizadas às necessidades de defesa.
A questão se refere à probabilidade de que, até 31/12/2030, ocorra a adequação da obras de infraestrutura crítica do Brasil para atender às demandas de defesa do país.
14) AGRAVAMENTO DA CRISE DE VALORES NA SOCIEDADE NACIONAL
A História da humanidade tem mostrado que um dos alicerces da grandeza das nações é o respeito a um código tácito de valores morais e éticos. Riqueza, desenvolvimento e poder político, isoladamente, não lhes conferem coesão, bem-estar ou autorrespeito, nem lhes sustentam em desafios extremos.
Nações com vocação de grandeza cultuam pátria, liberdade, honestidade, dever, justiça, vida, família, educação, dignidade e disciplina, entre outros, como sínteses de princípios morais inspiradores de nobres ideais.
A sociedade brasileira enfrenta uma crescente crise moral com desprezo por aqueles e outros valores, disseminada sensação de impunidade e desrespeito ao princípio da autoridade, afetando com isso a coesão nacional.
A questão se refere à probabilidade de que, até 31/12/2030, a crise de valores na sociedade nacional se agrave ao ponto de contaminar as Forças Armadas.
15) AUMENTO DA INFLUÊNCIA DE ATORES NÃO GOVERNAMENTAIS
Atores não governamentais – ONGs, empresas transnacionais, movimentos sociais e organismos internacionais – têm assumido papéis ativos em temas sociais, culturais, econômicos, ambientais, de direitos humanos e outros. Desvencilhando-se agilmente da burocracia, alguns aproveitam as fragilidades do Estado e ocupam espaço crescente na sociedade brasileira, como se fossem parte do aparato oficial.
Vários deles são prestigiados, pois declaram estar a serviço de causas nobres: culturais, religiosas, comunitárias, ambientalistas, educacionais, de direitos humanos ou de defesa de minorias. Embora alguns deles não se submetam à aprovação popular, procuram influenciar, cada vez mais, a opinião pública e as decisões políticas, trazendo reflexos para todos os campos do poder nacional.
A questão se refere à probabilidade de que, até 31/12/2030, os atores não governamentais tenham poder sobre o governo ao ponto de influir nas decisões relativas à segurança e defesa.
16) AGRAVAMENTO DAS TENSÕES SOCIAIS
Apesar dos esforços de sucessivos governos e da perceptível melhoria da qualidade de vida da classe mais pobre da população – fator relevante para a paz social -, continuam a existir desigualdades sociais e regionais, motivadas por questões ligadas ao desemprego, déficit habitacional, saneamento básico, saúde pública e educação.
Além disso, a problemática das tensões sociais no Brasil envolve outros fatores, como a ausência do Estado em algumas áreas críticas, a luta pela terra, as questões indígenas e quilombola, os problemas ligados à violência urbana, o crescimento desordenado das grandes cidades e a questão da segurança alimentar.
A questão se refere à probabilidade de que, até 31/12/2030, o agravamento das tensões sociais seja de tal vulto que venham a comprometer a lei e ordem no Brasil.
LEIA TAMBÉM
Um texto que mostra a realidade mundial tendo em vista que as guerras futuras terão por motivos os recursos naturais,e a limitação da atuação de alguns paises no seu desenvolvimento!
Interessante o texto,projeta bem os cenários internacionais que poderão acontecer futuramente,mas ainda é teoria,será louvavel quando essa teoria se tornar prática…
Abçs!
Muito bom…mas, já combinaram com o pessoal do Itamarati?
Realmente é uma atitude plausível do Exército Brasileiro a apresentação destas metas, porém o que mais me despertou a atenção foi o fato de focar em um política de mentalidade sobre defesa nacional, talvez este seja o ponto mais difícil de se desenvolver, pois fica imensamente complicado o desenvolvimento de uma arma poderosissima como um submarino nuclear, se ainda existem pessoas que se perguntam o por que desta arma, pois consideram o Brasil um país pacífico, mas se esquecem que outros países não são tão pacíficos como nós.
Temos que desenvolver a mentalidade que há muito tempo já é conhecida:
“Se demonstras força, todos
querem ser teus aliados.
Ao contrário, se mostras fraqueza,
ninguém te dará importância.
E, se tendo riquezas, não demonstras
força, atrairás sobre tua cabeça
todas as ambições do mundo.
(Ciro, Rei da Pérsia)”
Este é o tipo de pensamento que definitivamente falta
na sociedade brasileira, que considera as forças armadas apenas um meio de intervenção apenas em catástrofes naturais, não digo que estão errados, mais este tipo de intervenção é apenas uma parte do trabalho constitucional depositada em nossas forças armadas.
Tenho a certeza de que estas metas serão todas alcançadas pela competência de nossos oficiais do EB, assim como a MB tem grande competência para levar projetos como este a frente, muito diferente de outra força que não tem a capacidade para definir um projeto que se arrasta a anos, o nome desta força prefiro não pronunciar, pois creio que todos já sabem qual é, força esta que se não “acordar” mudara o nome para AB, “Aeroclube Brasileiro”.
Forte abraço, Lanterna Verde.
O problema não é a FAB e sim a ingerência do GF em assuntos relativamente simples de se resolver. A própria FAB tem a solução, mas o GF acha que sabe mais do que os especialistas.
Eu ia falar e falar sobre o post, mas vi um comentario perfeito do colega acima.
“Muito bom…mas, já combinaram com o pessoal do Itamarati?”
Lembre-se, NADA muda o brasil do futuro NÃO existe, em 2030 e situação das forças será a mesma, a menos que ocorra uma G.mundial, ai são outros “500”
Porque o site abriu os comentários?? fazia tempo que eu não acessava……
Parabéns ao Forte pelo excelente texto..Gostaria, se possível, de saber detalhes deste chamado e da participação de vocês neste processo…Ele teve a ver com a elaboração da Estratégia Nacional de Defesa ?
Gostaria de fazer minha analise com uma base historica e de comparacao com os primos do norte.
Primeiramente nao ha nada de novo em guerras futuras sendo travadas por acesso ou posse de recursos escassos ou que possam deixar seu detentor numa melhor posicao quanto a possiveis adversarios.
Exemplo recente temos o fim da 2GM. Nas conferencias de Yalta e Potsdam os lideres das 3 grandes nacoes vitoriosas – EUA, URSS e Reino Unido sabiam que o mundo seria partido em “esferas de influencia”. A Europa e a Asia devastadas pela guerra nao tinham como competir com os dois polos vitoriosos que emergeram no pos-guerra e ate agora de certo modo vivemos nas sombras dessa realidade. Os polos nos proximos 20 anos continuarao sem grandes mudancas no lado “Ocidental” com a UE, EUA e paises aliados destes na Asia e paises buscando seu espaco como China, India e ate a Russia. O Brasil ao meu ver em termos de influencia na escala global no sentido de “hard-power” ainda nao tera expressao nos proximos vinte anos. Claro, cabe ao EB se preparar para tal e faz parte de sua missao mas partindo desse ponto e que devemos olhar outros problemas.
Aplaudo a busca do EB por futuros envolvimentos com o qual pode se achar enroscado, assim como tambem uma razao de ser. O problema e que mesmo nos EUA, pais com o qual as instituicoes militares possuem muito maior influencia na politica de estado, o US Army nao buscaria uma visao desse modo tao singularmente.
Nos EUA essa reflexao doutrinaria seria feita com o involvimento de dezenas de agencias, departamentos e instituicoes de todos os bracos do poder nacional. Departamento de Estado, Comunidade de Inteligencia, Casa Branca, US Aid, Depatamento de Comerico, Tesouro e por ai vai…
No Brasil falta o involvimento desses bracos do poder nacional, nao ha esse debate na onda mainstream da lideranca. O assunto e maior do que o proprio EB e por consequencia falta ao EB outras partes do quebra-cabeca. O EB mal sabe qual sera seu orcamento para o ano que vem pendente cortes e contingenciamentos, como pode ele entao se preparar para uma visao daqui a vinte anos?
Enfim, todas as questoes levantadas estao fora do alcance e influencia singular do EB. O maximo que ele pode fazer e tomar conta do que cabe a ele e ter a esperanca de que os outros lados da moeda do governo cumpram com o seu.
Semper Fidelis!
Marine disse:
11 de julho de 2010 às 20:27
Ótimo comentário Marine. Em primeiro lugar, cabe à sociedade e ao poder político se posicionar sobre o EB que quer. Não ao EB decidir a sociedade que quer.
____________
Lanterna Verde disse:
11 de julho de 2010 às 17:34
A FAB já decidiu desde o primeiro FX2 o que ela quer. Quem não quer dar o que a FAB quer é o governo, que quer usar uma questão técnica para fazer política. E não irá conseguí-lo sem grande prejuízo da defesa nacional. Não com a FAB do meu país: não somos um bando de bolivarianos de m. para o governante de plantão fazer gato e sapato das Forças Armadas.
Do amigo Ποσειδῶν (irado)
Cade o meu jornal…
Golfinhos! adiante..
http://www.youtube.com/watch?v=c9fvLP9CkVs
Acordem…
Rs.
.
Se não me engano, reza a lenda, que ao invés de gatos e cachorros, tinham polvos…rs.
Estão sabendo do novo Fuzil Imbel que não é o MD-97 ?
Deem uma olhada no link:
http://pbrasil.wordpress.com/2010/06/30/exclusivo-novo-fuzil-imbel/
No tópico:
1. É óbvio que haverá obstáculos ao protagonismo brasileiro. Mas é mais do que evidente que tais obstáculos não serão vencidos pelo uso do poder militar, ou pelo menos não até o limite do cenário proposto (2030).
Devemos continuar nos fiando em nosso poder diplomático, pois não temos nem teremos até 2030 poder militar para retirar tais obstáculos, especialmente no que se refere às grandes potências.
E isso implica necessariamente em ter uma diplomacia que condiga com tal condição militarmente inferior, pois não tem o menor cabimento ter uma diplomacia que ruge ao arrostar os grandes, e Forças Armadas que cacarejam. Isso só cria tensão desnecessária, e põe em risco a busca por tal protagonismo, pois fecha portas que deveríamos tentar abrir através do bom uso da diplomacia.
2. Hipótese pertinente. Mas o reconhecimento do poder externo do Brasil se dará quando e se tivermos capacidade expedicionária efetiva e em porte que condiga com nossa importância geográfica. Até lá, tal reconhecimento não se dará.
É aquela velha história: queremos cadeira permanente no CS da ONU? Tornemo-nos uma potência bélica (e isso implica em ser potência econômica), e ninguém conseguirá nos negar tal protagonismo. Insistemos em entrar pela “porta dos fundos” arrostando, sem dispor de poder militar para tanto, quem tem poder para lá nos colocar, e não iremos a lugar algum. A hipótese 2 tem relação com a 1.
3. Essa hipótese já tem maior relação com o poder bélico que já detemos. E deve ser uma prioridade da Força Terrestre, mas sem exageros e sem devaneios.
Temos de ter o poder de intervir militarmente na amazônia, mas sem nos deixar entrar em paranóia a ponto de negligenciarmos outras áreas de defesa e hipóteses de emprego do poder militar, pois é evidente que se as potências com capacidade expedicionária realmente desejassem ferir nossa soberania sobre a bacia amazônica muito possivelmente não atacariam diretamente lá, ou ao menos o fariam apenas após a detruição de nossa capacidade de reação, que notoriamente não se localiza ali.
Temos que antes de tudo inserir a população de lá na cultura brasileira, fazendo com que ela efetivamente participe da construção do poder militar nessa região. Nesse sentido, a questão extrapola em muito os limites da Força Terrestre, mas esta já faz, e deve continuar fazendo, seu papel.
4. São áreas de tanta prioridade como a amazônia, o nordeste e as faixas de fronteira (por obviamente serem território nacional) e a plataforma oceânica. Neste sentido, devemos ter poder militar para intervir também nessas áreas, e o EB já detém algum poder militar para barrar incursões no território nacional, cabendo a ressalva de que a vigilância sobre as fronteiras deve ser executada em conjunto pela Força Terrestre, pela FAB (Sindacta, SIVAM) e pela Marinha (vias fluviais).
Quanto à plataforma oceânica, entendo ser atribuição e missão destinada primordialmente à Marinha do Brasil, com o Exército atuando apenas como coadjuvante em tal situação.
Agora, discordo frontalmente da hipótese de “proteção” aos aquíferos (não apenas o Guarani, mas também o aquífero Amazonas ou Alter do Chão. Cabe sempre relembrar que 90% da água doce do globo terrestre está nos pólos, e é muito mais fácil, barato e próximo (especialmente no que toca aos países do hemisfério norte) deslocar por via marítima imensos bocos de gelo, que seriam rebocados por navios relativamente pequenos, e convertidos em água ao chegar no seu destino, do que drenar água potável de nossos aquíferos. A hipótese aqui não tem o menor cabimento, tratando-se da mais pura paranóia.
5. Infelizmente está mais fácil acontecer a desintegração da América do Sul do que sua integração.
De qualquer maneira, o Brasil deve sim buscar tal integração, sem jamais entretanto se colocar, como tem se colocado, em posição subserviente a interesses mesquinhos e passageiros de nossos vizinhos, por conta de tal integração.
De qualquer maneira, a integração efetiva parece extrapolar em muito a hipótese do cenário (2030), e o tal Conselho de Defesa da UNASUL é mera retórica populista-demagógica. Não haverá (e arrisco dizer que nem deve haver) integração efetiva dos meios militares, pois aí teríamos a delegação da soberania nacional a outras forças, além de emprestar nossas próprias forças para a defesa de interesses de outras nações.
6. Hipótese clássica de emprego das Forças Armadas. O mínimo que se espera é que tenhamos a capacidade de nos defender de nossos vizinhos, e de intervir militarmente, como parte de um esforço conjunto. No momento a temos, embora com ressalvas pontuais.
Nenhuma nação sul-americana atualmente pode enfrentar-nos no campo militar em um conflito prolongado, e nossa economia tem lastro suficiente para ser redirecionada à medida que a hipótese de um conflito se aproxime, gerando uma força militar sem paralelo no continente.
7. A missão de fiscalização do uso dos recursos naturais e da questão ambiental deve caber ao Exército Brasileiro apenas em caráter subsidiário. Entretanto, este tem de ter maior coordenação com os órgãos de fiscalização (IBAMA, etc.) e com os organismos policiais, para cumprir a missão que lhe foi determinada.
8. A hipótese é relativamente remota, e penso que em princípio mais afeita aos organismos policiais e de inteligência do que à Força Terrestre.
Mas evidentemente que devemos ter organismos especializados e, especialmente, coordenação entre as forças policiais, as de inteligência (ABIN) e as militares.
Neste sentido estamos muito longe do ideal, e não por falta de pessoal ou meios, mas sim de coordenação. As polícias não falam com o EB, este não fala com a ABIN, e nenhuma fala entre si.
Temos que criar um organismo governamental que coordene todas as forças em caso de uma emergência terrorista nacional. Infelizmente, até que tal hipótese pareça efetiva ao poder político, este não tomará tais providências, por puro ranço ideológico.
De qualquer maneira, o coordenador de todas as forças deveria ser um organismo apartidário, infenso a influências políticas, mas totalmente sobre o controle do parlamento nacional, pois concentrar um poder tão grande, ou deixá-lo à mercê da chefia executiva pode gerar sérias ameaças institucionais (como chegou a ser a chefia do SNI no regime militar).
9. O Exército Brasileiro deve ter o poder de polícia ampliado, e deve se preparar para exercê-lo em todo o âmbito nacional, especialmente nos grandes centros. Não há como, diante do descalabro que se torna no dia-a-dia do cidadão a insegurança pública o Exército ficar fechado nos quartéis. É um tremendo desperdício de recursos.
O mínimo que se espera de uma Força Terrestre é que, na evidente semi-falência dos organismos policiais ela possa cumprir ao menos uma função de policiamento ostensivo subsidiário.
Para tanto, falta treinamento, falta equipamento e falta acima de tudo uma mudança de mentalidade interna das Forças Armadas. Nunca se deve perder de vista a missão principal do Exército, mas não podemos nos dar ao luxo de desperdiçar tais recursos. Não em momentos de conflagração como o que vivemos atualmente. Exército na rua!
10. Tarefa importante, mas que demanda maior atenção de todo o poder nacional, não apenas do militar.
Uma simples obrigatoriedade de exibição, com qualidade, dos desfiles de 7 de setembro nos grandes meios de comunicação já seria um indicador importante de que o poder político está disposto a tais mudanças.
Não parece que seja o caso, ao contrário: não há interesse do poder político nesse sentido, pois o revanchismo ainda comanda suas ações.
O povo adora e confia nas Forças Armadas, e quer se aproximar delas, e esta Trilogia é apenas um dos exemplos disso. Mas o poder político trabalha para afastá-las do povo, e não ao contrário. E a tendência disso mudar a curto/médio prazo é remota. Triste realidade.
11. Esta hipótese ultrapassa a atuação do EB, e cai no plano governamental. O país que ganha guerras é aquele que constrói suas armas de qualidade e em quantidade; verdade imutável desde os tempos do Império Romano.
Mas não dá pra se construir uma indústria autóctone de defesa quando o principal interessado (o Estado) não adquire nada. Enquanto o governo não se comprometer a financiar projetos na área, e especialmente adquirir os produtos da indústria bélica, não teremos uma indústria nacional. Em época de comércio globalizado e extrema competitividade não se constrói uma indústria bélica apenas para fins de exportação. Ambas as coisas, exportação e compras governamentais, devem caminhar juntas e em paridade, para que evoluam juntas (sem se criar os efeitos tecnologicamente deletérios de uma reserva de mercado que elimine competitividade). Senão é utopia.
12. O básico. Sem orçamento contínuo não se faz uma Força Armada. Deveria ser considerado um crime de lesa-pátria a desvinculação de receitas orçamentárias da Defesa. Entretanto, o que assistimos são os sucessivos governos (o anterior – que criou a DRU, e o atual, que a manteve quando do fim da CPMF) mantendo a maldita medida para os orçamentos das Forças Armadas, que se vêem na situação de eterno refém, o que evidentemente cria situação de penúria, rebaixa as instituições a barganhas nada sérias com o poder político, e baixa o moral dos militares das Forças. Isso teria de acabar ontem! Mas tal hipótese se mostra cada vez mais remota.
Cabe também ao EB “cortar na carne”. Acabar com privilégios e com desperdício. Ser militar é antes de tudo uma vocação. Mas é evidente que não se pode perder o efetivo longa e expensivamente construído para áreas da vida civil, especialmente nas armas e especialidades não combatentes. Deve haver uma modificação no sistema de pagamentos, e um incentivo às funções técnicas de formação mais prolongada.
13. Infelizmente as necessidades da defesa são enormes, e os recursos para infra-estrutura não provêem nem o básico para a população.
Antes de se adequar a infra-estrutura às necessidades de defesa deveria-se TER tais infra-estruturas. O que vemos é muito distante sequer das necessidades mais básicas, quanto mais das de defesa. E a solução de tais necessidades básicas foge muito do limite temporal do cenário proposto (2030).
Em suma: se formos depender de obras de infra-estrutura, é melhor que não entremos em guerra. Ou que o EB pegue sua senha e espere sentado: a população inteira do país vem antes. Infelizmente.
Mas no que o poder político puder colaborar com as necessidades infra-estruturais da Defesa, deve fazê-lo. Talvez falte um pouco de inserção do EXército nos órgãos de planejamento de obras da União Federal, mas também dos Estados e Municípios. Isso deveria ser providenciado.
14. A crise de valores gerada pelo relativismo axiológico a partir dos anos 60 é um processo mundial e não uma exclusividade brasileira; e está bem longe de já não ter atingido a caserna.
Ao Exército cabe incentivar a cultura dos bons e imutáveis valores e deixar bem clara sua posição quanto a estes, tanto internamente quanto externamente, sem medo de arrostar os interesses “new age”.
Mas este é um problema que foge à sua missão em muito.
15. O Exército Brasileiro deve ter pronta uma estratégia de enfrentamento do poder das ONGs. Mas deve mantê-la na manga, cabendo a tomada de posição e a fiscalização a outros órgãos governamentais. E a criação de instrumentos legais cabe ao poder político. O Exército apenas deve agir na extrema hipótese de perda de controle do poder estatal sobre tais organismos do “terceiro setor”.
16. Hipótese que tem a mesma resposta da hipótese 9. O Exército tem de estar onde o povo está. Na rua. Já estamos com as tensões sociais agravadas. E a criminalidade é a maior prova disso.
Sds.
PS: acho que este foi meu mais longo comentário. Espero que tenha sido produtivo.
Excelente Vader! Era essa a ideia das respostas, cada leitor respondendo a cada tópico como você fez.
Good Anakin, goood! Soon, I will have a new apprentice. One far younger, and more powerful…
Parabéns ao EB, pelo ótimo programa.
Vader, é o melhor… Meus parabéns.
Apenas um adendo:
O problema não é a falta de água e sim a energia gasta para busca-la. Ex. geleira, dessanilização, etc…
Caros amigos, bla bla bla, não resolve nada!. Não adianta falar de estratégias sem realmente querer pagar o preço disso ou seja é muito simples resolver o problema da vulnerabilidade militar brasileira, a MB já domina faz tempo o ciclo nuclear e sabe muito bem como montar uma bomba, que o diga o IME com seus avançados estudos nucleares, então de fato só falta a vontade política de assumir a BOMBA e pronto resolvemos os preblemas das amazonias verde e azul. O resto é conversa.
O post é sobre a projeção dos cenários na concepção do EB. A sua estratégia na verdade foi definida no post do Vader. Salvo discordâncias nos tópicos 9 e 16, tenho, no mais, consonância.
No quesito “poder de polícia” em situações ordinárias de conflito urbano, mencionado pelo colega Vader, sou muito mais favorável, para tanto, à criação de uma Guarda Nacional, uma força policial ostensiva subordinada à União, do que transferir essa responsabilidade ao EB. Quer pela incompatibilidade de missões como pelo desperdício de material bélico em conflitos urbanos.
Tal hipótese somente é aventada em nações cujas forças policiais estão desestruturadas ou dizem os mais incautos “faltar um inimigo externo” ao Exército.
Assim, não se põe essa tese como solução ideal, mas como resultado de situações anômalas, que devem ser corrigidas e/ou reinterpretadas, não se criando um novo problema: a desvirtuação do Exército.
Certo, uma GN (civil, por certo) esbarraria em divisão de recursos e influência política sobre suas fileiras, tal qual uma hipotética relação GC x MB como já comentei em posts anteriores, mas, para as situações 9 e 16, seria a solução ideal.
No mais, como dito, concordo com as estratégias do EB “by Vader”.
Uma justa homenagem ao Vader e aos demais pelas ótimas idéias e reflexões. Nosso país precisa de uma mentalidade ponderada porém, critica na área de defesa. Sem uma mentalidade de defesa não há DEFESA.
http://www.youtube.com/watch?v=4oZTQYsqSGc
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